A gastança de Bolsonaro com cartões corporativos no Guarujá

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Notas fiscais de despesas da viagem do então presidente Jair Bolsonaro ao Guarujá, em “atividade privada”, em outubro de 2021, somaram R$ 318 mil. Os gastos com supermercado chegaram a R$ 39 mil, incluindo 223 kg de contra- filé. Outra nota registra compras R$ 54 mil em uma padaria. A comitiva de apoio tinha 79 integrantes, quase a totalidade de militares. Foram transportados material de mergulho e motos. Uma nota fiscal mostra gastos de R$ 25,7 mil com gasolina e diesel marítimo.

O levantamento feito em parceria com a agência Fiquem Sabendo (fiquemsabendo.com.br) a partir do Projeto Cartão Corporativo, financiado pela organização americana MuckRock. As notas fiscais foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação. Os dados estavam sob sigilo durante o governo Bolsonaro.

A “comitiva oficial” era formada por Bolsonaro, os filhos Carlos e Laura e o amigo Hélio Lopes (deputado federal). A comitiva técnica incluía o ajudante de ordens Mauro Cid e o assessor especial da Presidência Tércio Arnoud Tomaz. Bolsonaro ficou hospedado no Forte dos Andradas, mas a hospedagem das comitivas técnica e de apoio no Guarujá custou R$ 186 mil, com diárias de R$ 420.

Gastança nas praias era rotina

A gastança não foi uma exceção. Reportagem do blog em março de 2022 revelou que Bolsonaro já havia gasto R$ 8,3 milhões com 15 viagens de férias ou folgas em Guarujá (SP), São Francisco do Sul (SC) e Salvador em três anos de governo. O presidente costumava andar de moto, jet sky, lancha, sempre acompanhado de seguranças, tudo pago pelo contribuinte.

O presidente e comitiva chagaram ao Guarujá no dia 8 de outubro, uma sexta-feira, como registra o relatório de viagem. O sábado, domingo e segunda-feira foram reservados para “atividade privada”. A comitiva teve até escalão avançado (Escav), que chegou no dia 5, terça-feira.

Na quinta-feira (7), chegaram ao Forte dos Andradas os equipamentos de mergulho e as motos, além de mobília e veículos. Houve o deslocamento de um caminhão para recolhimento de bagagens. Na terça (12), o presidente e seguranças voaram para a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Retornaram no mesmo dia.

Além das dezenas de agentes de segurança, havia na comitiva de apoio quatro motociclistas, condutores de veículos, médicos, enfermeiros, cozinheiro, ecônomos. Bolsonaro foi acompanhado por um médico e um enfermeiro do presidente.

Comprinhas no mercado e no posto

O pelotão de apoio chegou com fome. Na sexta-feira (8), foi feita uma compra de carne no Mercadão Atacadista. Foram 223 kg de contra-filé de carne bovina, no valor total de R$ 8,3 mil. Somando todas as compras no Mercadão Atacadista, a despesa chegou a R$ 39 mil.

Na terça-feira (12), a equipe de apoio pagou R$ 25,6 mil de combustível, sendo R$ 23 mil de gasolina Podium, R$ 1,3 mil de diesel marítimo e R$ 640 de Lubrax Náutica. Bolsonaro costumava passear de jet sky nas praias do Guarujá.

As maiores despesas foram com hospedagem da equipe de apoio – R$ 94,5 mil no hotel Ferrareto e R$ 84 mil no Strand Hotel. Bolsonaro e a comitiva oficial ficaram hospedados no Forte, acompanhados de sete militares e assessores. Pagaram taxa de ocupação simbólica, com valores de R$ 62 a R$ 139.

O ex-presidente Jair Bolsonaro dizia economizar dinheiro público com hospedagens em quarteis nas suas viagens pelo país. Mas havia muitos gastos com hotéis para as equipes de apoio. Seus cartões corporativos pagaram R$ 2,2 milhões a hotéis no Guarujá (SP), em São Francisco do Sul (SC) e em Salvador, nas suas férias e folgas. Com todas as despesas, incluindo diárias e passagens, essas viagens custaram R$ 12 milhões.

Lula também esteve no Guarujá

Lula também curtiu folgas no Guarujá. Em 5 de janeiro de 2007, Lula chegou ao Forte dos Andradas para passar dez dias de férias, acompanhado da esposa, Marisa Letícia. A hospedagem no hotel Ilha de Santo Amaro custou R$ 97 mil. As compras da padaria La Plage, mais R$ 8,7 mil. O presidente retornou ao Guarujá em fevereiro, onde passou o fim de semana de Carnaval. A hospedagem no Ilha de Santo Amaro ficou por R$ 59 mil.

No Carnaval de 2008, Lula e Marisa retornaram ao Guarujá. A conta da hospedagem no Ilha de Santo Amaro chegou a R$ 125 mil. As compras na padaria La Plage somaram mais R$ 21 mil. No final de 2009, depois de passar pela Base de Aratu, em Salvador, Lula voou para o Guarujá, onde descansou por 5 dias. Mais R$ 78 mil gastos em hospedagem no hotel Praia do Tombo. Entre as despesas com “alimentação”, ficaram registrados R$ 6 mil na padaria La Plage e R$ 9,4 mil no DSM Restaurante e Cachaçaria.

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Lúcio Vaz

Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros "A Ética da Malandragem - no submundo do Congresso" e "Sanguessugas do Brasil". **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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