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Luís Ernesto Lacombe

Luís Ernesto Lacombe

Imprensa

Quem defende Moraes não é jornalista

imprensa alexandre de moraes
Veículos de imprensa e jornalistas jogaram o jornalismo na lama com sua subserviência a Moraes. (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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Seis meses e dez dias depois de reassumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump sancionou o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes por meio da Lei Magnitsky. E ele pode ser apenas o primeiro dos atingidos no Brasil pelas medidas que representam uma “pena de morte financeira” para os sancionados. A notícia, claro, passou a ser assunto único em quase todos os veículos de comunicação... Depois do anúncio das sanções na última quarta-feira, já no fim do dia, resolvi ligar a televisão na Globo News... Em meia hora apenas, eu já tinha reunido absurdos para escrever três ou quatro artigos, e não apenas um. Digo isso com a tristeza de quem trabalhou por 25 anos na Rede Globo (20 no Rio e 5 na afiliada em Santa Catarina) e, nesse período, foi, durante cinco anos, apresentador exatamente da Globo News.

Era outro canal, fazíamos jornalismo de verdade. Com Evandro Carlos de Andrade no comando da Central Globo de Jornalismo e Alice-Maria Reiniger como diretora da Globo News, os fatos ainda importavam. Tudo era bem apurado, todos os lados da história eram ouvidos. Não havia espaço para narrativas, para mentiras, para militância. A emissora não tinha interesses escusos, só vendia espaços comerciais, nada além disso. Seu objetivo era contar histórias reais, fidedignas, relevantes da melhor forma possível. Infelizmente, já não é possível reconhecer mais nada do que foi construído com tanto empenho pelo jornalista Roberto Marinho. Ele, certamente, não permitiria que o projeto que começou quando já tinha passado dos 60 anos de idade fosse destruído de modo tão vil e sumário.

Mentir e omitir, é esse o modo básico de ação da imprensa que se matou

Os “jornalistas” da Globo News consideraram uma “aberração” a inclusão de Alexandre de Moraes na lista dos sancionados pela Lei Magnitsky. Desconfio de que, mesmo mal-intencionados, eles tenham de fazer um esforço enorme para ignorar todos os abusos, arbítrios e ilegalidades cometidos pelo ministro do Supremo desde 2019. Os inquéritos ilegais, em que Moraes é tudo – vítima, acusador, investigador e julgador –, as condenações de inocentes sem individualização de conduta, sem o devido processo legal, sem amplo direito à defesa... A tortura e morte do Clezão, a tortura contra Daniel Silveira, Filipe Martins e Mauro Cid, que acabou fraquejando... A perseguição política implacável a conservadores, os insanos cancelamentos de passaportes, bloqueios de contas bancárias e de perfis em redes sociais, a imposição de multas descabidas... Tudo isso faz de Moraes um dos maiores violadores dos direitos humanos do planeta.

O Brasil acabou ficando pequeno para a sanha censória do magistrado, e nessa ele se deu mal. O argumento de que os Estados Unidos estão “atacando a soberania brasileira” só vale mesmo para a turma de cabeça enviesada da Globo News de hoje. Todos, sem exceção, fazem questão de esquecer que é Alexandre de Moraes quem ataca a soberania americana. O ministro do STF tem tentado banir perfis de cidadãos americanos em redes sociais, solicitando dados pessoais de cada usuário, com ordens extraterritoriais ilegais, que desrespeitam a Constituição americana. São ordens sigilosas e transmitidas por caminhos tortos, dadas diretamente a plataformas dos Estados Unidos, sem acionar a Justiça americana.

Quem fala em ataque à soberania brasileira sabe, no fundo, que Moraes desrespeita a nossa Lei Máxima, ignorando, principalmente, que “todo poder emana do povo”, e não há soberania maior do que essa. Incansavelmente, a imprensa que desistiu de ser imprensa diz que o tal “julgamento do golpe”, alvo direto do governo americano, é “totalmente legal”, que há “provas sólidas” da trama e que as sanções americanas são “mais uma tentativa de golpe” do grupo de Jair Bolsonaro. A conversinha é um esperneio só. Os jornalistas que desistiram de ser jornalistas juram que Eduardo Bolsonaro está “trabalhando contra o Brasil”, quando, na verdade, luta contra a tirania que tomou conta do país. Acusam Eduardo de coação, o que só seria possível mediante ameaça grave ou violência, o que não existe.

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Merval Pereira chegou ao cúmulo de dizer que o governo americano “vive no mundo da lua” e que segue apenas a cabeça do filho de Jair Bolsonaro que se refugiou nos Estados Unidos. Eliane Cantanhêde e André Trigueiro concordam que a aplicação das medidas contra Moraes tem “motivação política explícita”. Os “comentaristas” da Globo News vão além, dizem que Jair Bolsonaro é um “cadáver insepulto” e que, “se ele tinha pouca chance de ser inocentado, agora a chance é zero”… Aceitam, portanto, que o Poder Judiciário seja usado como um instrumento de vingança.

O único momento de “sensatez” que testemunhei na meia hora em que consegui assistir à Globo News foi quando o apresentador Marcelo Cosme leu a patética e revoltante nota emitida pelo presidente da Câmara, Hugo Motta... O moço acabou trocando a palavra “institucionalidade”, que está no texto original, por “inconstitucionalidade”… E ficou assim: “Reafirmo que a Câmara dos Deputados será sempre espaço de diálogo e equilíbrio na defesa da INCONSTITUCIONALIDADE”. Um ato falho, para corrigir as bobagens que Motta enfileirou. Minhas gargalhadas me permitiram seguir um pouco mais como espectador de uma emissora que faz por merecer a qualificação de lixo. Até que Marcelo Lins começou a explicar como Moraes poderia escapar das restrições impostas pela Magnitsky, inclusive com o uso de “laranjas”. Desliguei a tevê.

A imprensa sempre esteve ao lado das leis, do que é certo, sempre buscou a verdade... De repente, desistiu desse papel fundamental, dessa função vital

Mais tarde, resolvi assistir à partida entre Corinthians e Palmeiras. Alexandre de Moraes estava no estádio. Depois, eu soube que na Globo News consideraram que a presença do ministro na arena era uma “demonstração de calma e tranquilidade”... Claro que o Grupo Globo não mostrou nem comentou as vaias e os xingamentos que Moraes recebeu e, mais do que isso, a reação dele para a torcida: esticar o dedo do meio da mão direita. Não teriam coragem para perguntar ao vivo: “Não é o senhor que vive repetindo que liberdade de expressão não é liberdade de agressão, ministro?” Também não diriam aos espectadores que existe a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e que no artigo 35 está dito o seguinte: “É dever do magistrado manter conduta irrepreensível na vida pública e particular”…

Mentir e omitir, é esse o modo básico de ação da imprensa que se matou. O Grupo Globo – Globo News incluída, claro – também não falou nada sobre os parlamentares europeus que pediram sanções contra o ministro do STF: congelamento de bens e restrições de viagem, por violações de direitos humanos e ameaças à democracia, por censura, perseguição política, por promover um “autoritarismo judicial” parecido com o adotado por China e Rússia. Da mesma forma, os militantes da comunicação não criticaram a decisão do governo Lula de acionar a Advocacia-Geral da União para defender Alexandre de Moraes… A AGU, que existe para defender os interesses da União, do erário... Portanto, qualquer atuação que não respeite esse princípio deve ser considerada ilegal.

Se o Brasil foi tomado por uma tirania do Judiciário, se foi fechada uma aliança maligna entre STF e PT, e o Congresso, verdadeiro representante do povo, não reagiu, a imprensa não podia ter se corrompido. Ela sempre esteve ao lado das leis, do que é certo, sempre buscou a verdade... De repente, desistiu desse papel fundamental, dessa função vital. Se não tivesse sido assim, estaríamos em situação mais cômoda. Não presta mais para nada o que restou daqueles que já foram os principais veículos de comunicação do Brasil, apenas para nos arrastar ainda mais para o abismo. E, mesmo assim, esse consórcio quer manter o monopólio das informações, quer ser o dono da “verdade”. O Brasil precisa urgentemente de uma grande faxina nos três poderes e naquele que gostava de ser chamado de “Quarto Poder”, a imprensa…

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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