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O mundo ideal de um bandido é aquele em que ele pode cometer vários crimes, fazer as maiores barbaridades, alcançar todos os seus objetivos com essas práticas e não ser punido por nada. O mais incrível é que esse mundo não só existe, mas foi, digamos, atualizado por certos ministros de certa suprema corte de certo país. “Certo” no sentido de algo ou alguém não determinado, não especificado, pois não são corretos nem verdadeiros os personagens, o tribunal e o país a que faço referência... O uso dos pronomes vale apenas como uma piada sem graça... E de que maneira o sonho de todo fora-da-lei foi “melhorado”? Os magistrados tiveram a permissão para cometer toda sorte de abusos, arbítrios e ilegalidades como se bandidos não fossem, mas heróis. Para muitos, super-heróis...
Bastou a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 para que a imprensa que desistiu de ser imprensa enxergasse nele uma “ameaça à democracia”. Foram mais de quatro anos de manchetes criativas que se esforçavam para vender Bolsonaro como um ditador, um tirano, alguém disposto a tudo para não deixar o poder. Não importava que ele estivesse disposto a diminuir o tamanho do Estado, a se empenhar em defesa da liberdade, contra o controle social. Todo e qualquer ato dele, toda e qualquer declaração dele era traduzida criminosamente como “atos autoritários”. As manifestações de apoio ao presidente só podiam ser “antidemocráticas”. Os fascistas que se diziam antifascistas, esses, sim, eram os “defensores da democracia”.
Os magistrados tiveram a permissão para cometer toda sorte de abusos, arbítrios e ilegalidades como se bandidos não fossem, mas heróis. Para muitos, super-heróis...
Se o “autogolpe” promovido por Bolsonaro não veio, se o “golpe” dele contra Lula não veio, a imprensa fajuta abraçou as narrativas do STF, as mentiras dos tiranos de verdade. O fascismo imaginário suplantou o fascismo real, com os boçais tomando o poder e iniciando a maior perseguição política da história do Brasil. O povo deixou de ser soberano, as leis passaram a ser ignoradas, inventadas ou interpretadas, numa guerra abjeta e revoltante. Nada disso teria dado certo se os socialistas e comunistas mais ferozes e atrasados do mundo não contassem com suas fiéis “parcerias camaradas” nas redações daqueles que já foram ou ainda são os mais importantes veículos de comunicação do país.
Durante muito tempo, a imprensa que se matou não viu nada de errado nos inquéritos ilegais tocados por Alexandre de Moraes. Durante muito tempo, o ministro do STF foi tratado como “a muralha em defesa da democracia”. Depois que Lula levou a eleição de 2022, os “jornalistas” mudaram de comportamento... Eles passaram a dizer que o STF extrapolou seu papel, cometeu ilegalidades, mas que tinha sido necessário... Esse discurso terminava sempre com o mesmo apelo: “é hora de o Supremo adotar a autocontenção e voltar a respeitar as leis, a Constituição”. Isso não é jornalismo, isso é comportamento de bandido, que foi apontado por profissionais sérios da área, que foi denunciado, mas nunca interrompido.
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Nas últimas semanas, novos textos assim voltaram à imprensa podre. N’O Globo, Malu Gaspar assinou o artigo “Derrotado o golpismo, é hora de o Supremo se conter”. Ela escreveu o seguinte: “Está na hora de o Supremo voltar para seu quadrado, ser mais contido. Embutido nesse raciocínio está o reconhecimento de que o tribunal, Alexandre de Moraes em especial, foi além de suas atribuições em vários momentos – e tudo bem, porque foi por ‘boa causa’, mas agora chega”. Com as tentativas igualmente criminosas de Gilmar Mendes, que tenta dificultar o processo de impeachment de ministros do Supremo, e Dias Toffoli, que decretou sigilo máximo no caso do Banco Master, Malu Gaspar fez outro texto e cobrou a “limitação de poder”, que lhe parecia desnecessária e inconveniente até agora.
Também n’O Globo, Merval Pereira publicou, há poucos dias, o artigo “Interesses não republicanos”. Ele escreveu que “os ministros do Supremo viraram entidades próprias, e cada um atua de acordo com seu pensamento e seu desejo”. Muito bem. O problema é que Merval também aceita a “tirania para salvar a democracia”: “Fomos aceitando exageros de interpretação, mas, como era para defender a democracia, vá lá. E vemos a democracia ser corroída por aqueles que supostamente trabalharam para salvá-la”… De novo, isso, para um jornalista, deveria ser considerado prática criminosa. E todo o país, e todos nós somos vítimas desse bando, que aceita abusos, arbítrios e ilegalidades desde que seja por uma “boa causa”, definida, claro, conforme critérios dessa gente que não tem critério, nem caráter, nem ética, nem moral.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




