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Tudo por um bem maior
| Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal

A democracia saltitou no plenário do Senado. Abraços apertados, beijinhos... Foi a comemoração anedótica, cheia de piadas e gracinhas, dos altruístas, dos patriotas, de quem só pensa no Brasil e nos brasileiros. Não haverá, como temia a imprensa, “solavancos democráticos”. Foi garantido o asfalto do caminho para um pensamento único, sem freios e sem contrapesos. Estamos livres da “doença institucional”, que jornalistas temiam que se alastrasse.

Ninguém viu fisiologismo, distribuição de cargos, promessa de entrega do comando de comissões importantes. Ninguém viu mordomias asseguradas, verba aumentada para isso, para aquilo. Não, não houve, nem no Senado, nem na Câmara. E um ministro petista garantiu que o governo “não interferiu em absolutamente nada” no processo eleitoral nas duas casas. Ressaltou que “não é prática do presidente Lula querer fazer uma intervenção no Congresso Nacional”. É verdade, Lula não se envolveria nisso... Ele nunca soube, por exemplo, da existência do Mensalão, ele nunca soube de nada.

Foi garantido o asfalto do caminho para um pensamento único, sem freios e sem contrapesos

Teve jornalista publicando que ministros do STF entraram na campanha pela reeleição de Rodrigo Pacheco no Senado. Será? A turma achou a informação normal, mesmo que os magistrados não possam exercer atividade político-partidária. Claro, vale tudo em defesa da democracia, para conter atos golpistas e antidemocráticos. Você pode censurar, banir, perseguir, prender, contra tudo o que está escrito, pisoteando o processo legal. Você pode inventar inquéritos, reinventá-los indefinidamente. Você pode interpretar ou criar tipificações criminais e nelas enquadrar quem quiser.

Você pode chamar qualquer um de golpista, de terrorista. Você pode proibir até manifestações pacíficas e ordeiras, pode relativizar a livre expressão, desrespeitar o Legislativo. As leis que já existem, de que nos servem se não podem garantir a democracia? Então, você pode afastar governador, não ver a culpa federal, monumental, ignorar evidências, indícios, fatos. Você pode ver o produto do roubo e dizer que não houve roubo. Você pode ter “provas sobradas”, confissões, acordos de leniência, condenações em três instâncias, com pena aumentada, e ver um probleminha com o código de endereçamento postal.

Extremista, golpista, terrorista, fascista e genocida, Rogério Marinho deve ser mesmo tudo isso. Que bom que a democracia venceu, e o quebra-quebra das leis pode continuar. É tudo por um bem maior. E seguimos, nessa atmosfera linda de harmonia e independência entre os poderes. O Congresso não é pequenino, submisso, não se entregou, não está em frangalhos, não será nem governista, nem de oposição, trabalhará pelo Brasil. Rodrigo Pacheco já decretou: “a democracia está de pé”. E o Senado está de quatro, abanando o rabinho.

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