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Supor que as novas gerações seriam mais éticas é terraplanismo moral
| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

É comum se dizer que a evolução no comportamento das novas gerações estaria pautada pela intenção de não cometer os mesmos erros, vícios e pecados dos pais. A primeira pergunta que deveria ser feita a quem assim pensa é: quais seriam esses erros, vícios e pecados que os pais cometeram e que os filhos não cometeriam em suas vidas? Não me parece que a resposta seja evidente para ninguém.

Antes de refletir sobre quais seriam alguns desses erros, vícios e pecados dos pais, vale dizer que a própria formulação "não cometer os mesmos erros, vícios e pecados dos pais" é característica de um ethos puritano. Incrível é como não se enxerga isso como traço de uma proposta de pureza ética que só existe como mentira moral e raiva das pessoas reais e suas misérias atávicas.

Ganância? Não me parece que haja qualquer indício de que as novas gerações sejam menos gananciosas. A fúria por ganhos materiais nunca esteve tão em alta. A ganância hoje atinge até as disposições afetivas para generosidade nos relacionamentos. Aquilo que se traduz normalmente como "respeito na relação" nada mais é do que mesquinhez afetiva para com as falhas dos outros.

Atitudes como pedir demissão porque a chefe é sexista ou porque os "valores da empresa" – tenho dificuldade em acreditar que algum adulto acredite nessa formulação, a menos que trabalhe nas relações públicas da marca – não batem com os meus só é viável em sociedades afluentes ou famílias ricas. É mais ou menos como deduzir máximas sociológicas sobre o Brasil a partir das casas do Jardim Europa, em São Paulo.

Portanto, supor que as novas gerações seriam mais "éticas" ou "autênticas" é terraplanismo em análise de comportamento.

Egoísmo? As novas gerações seriam mais solidárias? Talvez sim, com o sofrimento na África – a grande vantagem do sofrimento na África é que está longe e o cheiro não chega até seu "studio". A histeria com a guerra na Ucrânia já deixou de funcionar como antídoto contra o tédio do cotidiano.

A falsidade dessa hipótese aparece no fato de que as novas gerações não querem ter filhos porque estes demandam de você a vida toda, de formas diferentes, e, portanto, enchem o saco. Apesar de todas as belas justificativas para não tê-los – o mundo é mau, já tem crianças demais no mundo sofrendo, inclusive na distante África, não estou preparado para essa responsabilidade, preciso esperar um pouco –, a verdade pura e simples é egoísmo e preguiça. Além do fato de que não quero ter que gastar meu dinheiro com pentelhos.

Hoje os jovens seriam mais responsáveis em suas decisões sobre filhos? Mesmo aqueles que querem ter um filho, o fazem como "projeto".

A falsa controvérsia entre maternidade ideal e maternidade real é típica da falsidade da hipótese acima enunciada.

A maternidade ideal destruída pela maternidade real é, do ponto de vista do amadurecimento, como descobrir que Papai Noel não existe quando você já tem 35 anos.

A perda do sonho de que haveria algum tipo de realização superior na maternidade, ou que essa mãe teria agora, de fato, uma "relação de verdade" com outro ser humano – o filho – na vida, é entrar em pânico porque alguém te contou que bebês são fruto de uma gozada dentro de uma mulher.

Do ponto de vista demográfico, isso nada mais é do que o efeito colateral da adolescência tardia e seus desdobramentos no imaginário das mulheres emancipadas.

Quando, finalmente, despertam para a realidade atávica da maternidade, passam a acusar o capitalismo, o patriarcalismo, o machismo, o aquecimento global pelo sofrimento que a realidade causa em todos nós, principalmente naqueles que vivem em crescente retardo moral.

Não compactuam com a violência? Essa então é de matar. A riqueza produzida em razoável escala pelo capitalismo cria essa realidade paralela na qual muitos acreditam que somos menos violentos. Basta uma quebradeira geral e voltamos à violência do neolítico. Parem de mentir sobre os jovens. Quando viverem mais, cometerão os mesmos pecados que todos nós, por isso são nossos iguais.

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