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Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Democracia corrompida

Democracia, caos e tirania

Brasília (DF) 08/01/2025 " Ato a favor da democracia no Palácio do Planalto. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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Estamos a poucos passos da tirania absoluta da esquerda. Mesmo quem não acompanha a política sabe disso. Muitos perguntam como a esquerda chegou lá. Eu sempre respondo que foi promovendo a democracia com mais diversidade, mais equidade e mais inclusão.

Para entender essa dinâmica, é necessário saber responder por que a esquerda ainda insiste e permanece clamando por democracia mesmo quando, de fato, ela é quem comanda o poder do estado, das instituições e das políticas públicas.

Por que ela insiste em manter essa narrativa de que é o único movimento que preza pela democracia? Como o termo “democracia” é usado no contexto atual? Por definição, estamos em um estado moderno, em que a esquerda detém o controle das instituições e das políticas públicas.

No século 21, a esquerda tem determinado as narrativas para a opinião pública, com a adesão dos meios tradicionais de comunicação. Entretanto, no século 18 e 19, a história era bem diferente.

Foi no período setecentista que surgiram vários desses movimentos liberais e constitucionalistas, que precisavam representar uma classe até então sem voz na sociedade: mercadores, comerciantes, alta e baixa burguesia, artesãos, industriais e todos aqueles que surgiram no rescaldo da revolução industrial.

É fundamental conhecer esse movimento, porque até então o poder político era a aristocracia, o clero, a nobreza e os reis. No regime tradicional (antigo regime) a participação política dependia de pertencer a um desses canais e por concessão de seus agentes.

Petrificação da cristandade: Esse era o antigo regime que teve origem a partir do final do império romano, controlado pelos reis cristãos. Mas como todo modelo político há sempre um início libertador e inspirador e um final trágico e opressivo.

O regime tradicional se distanciou de suas raízes de legitimidade com a maturação do estado moderno. Nesse novo contexto as tradições, mitos, valores, e conexões entre governante e governado foram se petrificando e tornando-se opressivos.

A relação se acirrou entre rei, clero e nobreza com uma nova classe média emergente, urbana, liberal e móvel. Esse foi o pano de fundo de diversas revoluções do século 18 e 19.

Distanciamento da realidade: Esse distanciamento é notável e pode ser exemplificado pela criação do palácio de Versailles. O rei Luís XIV era muito receoso de levantes populares, provavelmente devido a um trauma de infância.

Seu palácio no Louvre foi invadido duas vezes por nobres rebeldes e em uma delas ele só sobreviveu porque fingiu que estava dormindo e quando dada oportunidade fugiu com sua mãe e o cardeal Mazarin, então regente da França.

Três anos após assumir o trono, em 1664, ele começa a construção de Versailles, concluída em 1682, e ao se mudar leva consigo toda a corte francesa. Luís XIV não apenas centralizou a nobreza mas também a cultura, criando uma cultura própria e muito distante do que estava acontecendo na sociedade.

Esse distanciamento, a falta de raízes na sociedade e a falta de canais de comunicação e de política mais abertos são algumas das razões da Revolução Francesa.

Foram esses fatores que deram vazão a uma revolta dos não-representados dessa nova classe burguesa, que conquistava cada vez mais poder, mas permanecia com representação distante.

Democracia, a libertadora: Nesse contexto, os conceitos de democracia, república e ciência eram percebidos como libertadores da sociedade enquanto a monarquia, a tradição e a cristandade se tornavam repressores na narrativa de todos os revolucionários.

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Marxismo mutante: O marxismo adquire fervor naquele instante do século 19 em que a Europa, mais uma vez, arde com fervor revolucionário e coloca em xeque vários regimes tradicionais a partir de 1848.

Mas no século 20, a situação complica para os marxistas, pois se por um lado, a esquerda assume o comando em diversos países, por outro, a narrativa marxista teria que ser readaptada para essa nova realidade.

Muitas das políticas propostas por marxistas se tornaram políticas públicas em diversos países à medida que eles assumiram as máquinas de estado e as transformaram em esteios naturais a militantes da esquerda. A substituição dos nobres, aristocratas e clérigos e suas tradições do antigo regime foi completa.

No novo regime, a burocracia tecnocrata se torna a grande reguladora e normatizadora da sociedade. Este é o momento em que a esquerda redireciona o uso da força da “democracia” contra si mesma

O que vem a seguir é a alta perversidade que se observa dentro dos pensadores dos movimentos de esquerda.

A democracia é o prenúncio do caos: Na antiguidade, a democracia foi considerada contraproducente por antigos filósofos, como Sócrates, assim como muitos de seus pares. Todos entendiam as dinâmicas sociais e políticas pelo viés de ciclos. Platão, inclusive, chega a esboçar uma teoria de ciclos, a qual mencionei em artigos anteriores e em meu livro “Por que o Brasil é um país atrasado?” (Ed. Maquinaria). 

Pela teoria dos ciclos, a criação de um regime ditatorial é precedida por um momento democrático. Lembrando: a sociedade começava com uma monarquia, deteriorava-se para uma tirania, da tirania surgia uma aristocracia que vinha resgatar o bem-comum, mas essa aristocracia eventualmente se corrompia para uma oligarquia, e a pólis era resgatada pela força da democracia, mas depois da democracia inexoravelmente entra o caos.

Na sequência desse momento de caos volta a monarquia, mais forte, mais centralizada, considerada como a única capaz de restabelecer a paz social.

Alguns filósofos, no intuito de preservar os momentos virtuosos da sociedade, defendiam que era necessário uma constituição para preservar as forças virtuosas desses ciclos. Advém desse pensamento a criação dos três poderes, por Montesquieu: a monarquia, a aristocracia e a democracia.

A definição de Executivo, Legislativo e Judiciário é uma subversão semântica usada dentro do conceito de estado moderno.

Decifrando o enigma da esquerda: Continuando com a questão, por que desde o final do século 20 até agora, início do século 21, a esquerda se diz democrática quando ainda está no poder?

Considerando a teoria dos ciclos, o leitor já deve ter respondido à questão: os esquerdistas sabem que fomentando cada vez mais democracia, a sociedade estará mais próxima do caos; e quem será o novo rei todo poderoso?

Aquele que já está organizado, o próprio estado. Seria brilhante se não fosse perverso fazer a sociedade crer que quanto mais democracia, mais liberdade; mas não, o efeito é o contrário.

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DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão): São as novas ideias da esquerda na intenção de promover uma democracia caótica. Essa é a meta, pois no caos ela consegue reforçar seu próprio poder sobre sociedade.

Vale ressaltar que os socialistas estão não só no comando das instituições e das políticas públicas, mas adotaram um novo desafio: controlar o comportamento e o pensamento da população. E como pretendem conseguir essa façanha?

Gerando mais caos e sempre pregando uma democracia diversa, com cada vez mais equidade e inclusão de personalidades que não devem ser incluídas, pois exibem comportamentos, valores e até mesmo religiões destrutivas da paz social vigente.

Discursos e táticas maquiavélicas: Saul Alinsky, filósofo estadunidense do século 20, foi organizador de comunidades em áreas de conflito nos anos 50, e em uma passagem importante de sua obra ele descreve como elementos da esquerda se fantasiaram de membros da Ku Klux Klan, e adotando discurso e práticas racistas, e se apresentavam publicamente junto a movimentos da direita, com o intuito de descredibilizar e descredenciar a direita.

Pois é, essa prática é muito astuta, antiga, recorrente e assume várias formas e meios. Mesmo assim, uma parcela da opinião pública sempre cai vítima da óbvia manipulação.

Em diversos casos vemos a esquerda se travestindo de direita para destruir o movimento conservador. Literalmente, em todos os sentidos. As táticas são inúmeras, e há sempre uma nova geração de desavisados pronta para ser enganada.

Ou será que essa geração é a geração que não se engana mais? Essa é a minha esperança.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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