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Há, no mínimo, três razões para os partidos do centrão pararem de apoiar esse governo. As duas primeiras são bem evidentes, mas a última é a determinante.
Primeira - a esquerda está sem base: a primeira delas é a perda massiva que os esquerdistas amargaram nas eleições de 2022 e depois nas eleições municipais em 2024. O que aconteceu naqueles dois momentos foi revelador: a esquerda não forma mais a base em municípios e estados.
O que significa isso? Não há número de prefeitos e vereadores para ser cabo eleitoral para deputados, senadores e presidente de esquerda. Desse modo, será muito difícil obter vitória para seus candidatos em 2026, considerando essa perda massiva da base. Mas pode ser pior.
A base agora é o centro, com cerca de 80% do fundo eleitoral e tempo de televisão. Isso é o que vai comandar os resultados. O centro no comando da máquina significa que partidos como União, PP, Republicanos, MDB e PSD deverão ter um poder de “convencimento” (leia-se compra de votos) várias vezes superior ao que os partidos de esquerda e direita terão. Na questão presidencial, o centrão se tornou a força política dominante e vai macular qualquer tentativa da esquerda de alcançar vitória em qualquer pleito.
A direita, que também ganhou muita base nas últimas eleições, com partidos como PL e Novo, aumentou para um número expressivo seus prefeitos e vereadores. Individualmente, o PL se tornou o maior partido, mas, se confrontado com um centrão unido, vê-se diminuída sua força; a composição da direita com o centro seria avassaladora, e tal leitura política é indiscutível, sob o risco de abraçar o conjunto que hoje viabiliza a esquerda e a corrupção.
Seja como for, do ponto de vista do centrão, ficou claro que ele não precisa mais do atual governo para ter sucesso nas próximas eleições, pois já estão praticamente assegurados os meios para sua perpetuação.
Segunda - Trump: é importante ressaltar que Donald Trump venceu as eleições de forma avassaladora. E venceu com proposta de reforma profunda e contundente. Na Europa, também são notáveis os partidos de direita assumindo liderança nos parlamentos. Esse movimento é internacional, massivo e está bem claro que os discursos da esquerda simplesmente não colam mais em lugar nenhum.
Toda a velha narrativa de luta pela igualdade, pela democracia, por mais estatais e sindicatos; e também as lutas mais recentes da esquerda, identitárias, pela igualdade de gênero, diversidade cultural, globalismo, pautas ambientais e sócio-ambientais, tudo isso está caindo por terra no mundo, pois foram desvelados muitos dos interesses econômicos de grandes grupos e mesmo agendas políticas de alguns países.
Com a maioria conservadora, Donald Trump será capaz de comandar o Senado e a Câmara. O judiciário dos EUA já tinha maioria conservadora; e com a também maioria da opinião pública, ele está determinado a desarmar e desarticular todas as estruturas da esquerda que afetaram praticamente o mundo todo.
Eles já sabem de tudo: o governo norte-americano possui tanto bases militares como de inteligência no mundo inteiro. A força subversiva da CIA, por exemplo, é determinante em vários países. Aqui no Brasil, vemos apenas uma das pontas em evidência, a USAID, e como ela operava em conluio com o próprio Estado brasileiro, com ONGs de esquerda.
Certamente, os Estados Unidos vão agir contra quem estava ou está vinculado a esse esquema e vão mirar em agentes do Judiciário, partidos e políticos alinhados ao governo e às ações do judiciário brasileiro.
Se o Planalto acirrar sua postura antiamericana, a retaliação também será contundente
Já estão cancelando vistos e recusando entrada nos Estados Unidos de todos os que estejam vinculados a governos amigos do narcotráfico e terrorismo. Agora, irão incrementar as retaliações a todos que são favoráveis à censura e a limitar a liberdade de expressão. Isso pode afetar a maioria do centrão que votou com o governo.
Diante do risco de ameaças individuais, não será surpresa nenhuma ver membros do centrão negando sua ligação com o atual governo e talvez até mesmo abandonando alguns ministérios nos próximos meses.
Terceira - grana: o terceiro ponto é o mais decisivo para que o centrão deixe o barco do governo, e parece o mais simples: dinheiro, fator que sempre manteve os partidos de centro junto aos governos.
O centrão é movido a dinheiro, não tem ideologia, não tem visão de país e está faltando verba para emendas parlamentares, orçamentos de ministérios e orçamentos de projetos que alimentam os estados e prefeituras que eles detêm.
O Poder Executivo Federal está arrecadando muito e gastando mais ainda e por isso há um enorme rombo fiscal que ele não conseguirá mais cobrir com aumento de endividamento. Isso o forçará a enxugar gastos e, consequentemente, menos recursos para comprar base política.
Vamos lembrar o que é base política? Na Câmara -a casa onde se inicia o processo de impeachment - o governo só tem 140 deputados – partidos de esquerda raiz. Do outro lado, temos entre 100 e 120 deputados que são da oposição, de direita. Somados os dois, oposição e governo, estamos falando de 240 a 250 deputados de 513 componentes.
Onde está a outra metade, os restantes 260 parlamentares? Estão todos no centrão e fazem composição de base com o governo, só que eles têm um preço, são comprados por meio de seus líderes com ministérios, indicações para estatais e autarquias, emendas parlamentares e outros. Entretanto, esses recursos de nomeação estão acabando e as sanções dos Estados Unidos estão às portas do Brasil.
Desse modo, os prejuízos pessoais de fazer parte desse desgoverno só seriam compensados com muito dinheiro - e, como os recursos estão escassos, vários partidos devem reconsiderar sua participação nesse desgoverno.
Vai ficar óbvio demais que eles só querem dinheiro: nós sabemos que o centrão, mesmo mudando o discurso, não vai dar uma guinada para apoiar as pautas da direita por questões ideológicas. Se tivessem algum resquício de alinhamento com a direita, já teriam pulado do barco de forma mais contundente.
Observamos que o centrão ficará até o último momento, e ele será definido pelo governo. Se o governo deixar de pagar, saem. Se ganhar algum fôlego daqui até 2026, alguns partidos do centrão ficam. Patético, mas centrão é isso aí mesmo, não espere muito.
Combine esse aspecto do dinheiro com outro que é importante ressaltar: quem será a alternativa para 2026? O centrão vai permanecer alinhado ao governo se essa alternativa não os abrigar. Eles não vão querer sair de um barco, mesmo furado, para barco nenhum. Será necessária uma opção bem construída, mesmo que com algum risco.
De qualquer forma, os pilares estão caindo. Observamos até alguns partidos de esquerda, como o Solidariedade, por meio do deputado Paulinho da Força, fazendo pronunciamentos contra as ações do governo. É certo que ele ainda faz parte da base, mas o discurso já sinaliza descontentamento.
A verdade é que este governo acabou e todos os que ainda se seguram nele vão sair chamuscados diante da opinião pública, nacional e internacionalmente, e pode refletir nas urnas
Coadjuvantes na nossa própria novela: o que ficou óbvio com o escândalo do USAID é que temos instituições inteiras corruptas e não temos instituições para proteger a população contra a ditadura gerada pelo atual governo e pelo Judiciário.
Ficamos passivos ao ver os Estados Unidos serem agentes de tantas mudanças que podem ocorrer por aqui, mesmo positivas. Isso é péssimo.
Temos que ter um plano institucional para repor tudo o que está acontecendo (a liberdade que nos foi tirada, a crise e a instabilidade política, a inflação), e não temos instituição que nos proteja, o que está bem claro.
Não se trata de substituir do poder pessoas de má-fé por outras de boa-fé. Temos instituições incapazes de reverter tudo o que aconteceu no Judiciário e mesmo no Executivo, em termos de destruição do nosso país e da nossa sociedade.
Assistimos passivos às ações exemplares da justiça dos Estados Unidos para podermos ter alguma luz de esperança. Graças a Deus, os norte-americanos estão com o governo do lado certo e podem ajudar muito a sociedade brasileira, mas todo governo passa e precisamos de proteção própria perene.
É importante, por isso, fazer uma depuração nas nossas instituições. É o momento de incutir grandes reformas institucionais e ter um estado de direito de verdade, para não cair, no futuro, mais uma vez, na tirania que temos hoje.
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Conteúdo editado por: Aline Menezes




