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GABRIEL BASSO/REPRODUÇÃO INSTAGRAM
GABRIEL BASSO/REPRODUÇÃO INSTAGRAM| Foto:

A elevada expectativa no campo acentua a responsabilidade e o dever de ações rápidas por parte do novo governo

Nos últimos 16 anos, a insatisfação frente as ações do governo federal tomou conta do campo. Nós produtores rurais vivenciamos o total abandono nos investimentos em infraestrutura, acordos comerciais desastrosos, alta tributação e desestímulo a investimentos na indústria, corrupção e órgãos técnicos como a Embrapa utilizados como cabide de emprego político. Uma verdadeira vergonha!

A violência e a sensação de impunidade também esteve presente no campo. Presenciamos por diversas vezes invasões de propriedades rurais por movimentos sociais (que de social não tem nada!), roubos frequentes de maquinários e insumos, falsificação de defensivos e fertilizantes, destruição de centros de pesquisa e crimes ambientais acoroçoados pelo viés ideológico dos políticos de esquerda.

A sociedade assistiu nos noticiários que o agronegócio mata, que o produtor rural desmata, contamina alimentos e polui a natureza. Além de tudo isso ser um enorme engano, a população pouco foi informada de que a crise nos últimos anos só não foi mais grave devido à contribuição do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em outras palavras, a frase clichê “Já almoçou hoje? Agradeça ao produtor rural!” nunca fez tanto sentido como nos dias atuais.

Neste mês de Janeiro, inicia-se uma nova história no Brasil com o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. É notório a boa expectativa dos setores da economia, sobretudo do agronegócio. Aumento no crédito rural, melhoria no seguro agrícola e resolução de questões importantes como o Funrural são temas de alta expectativa dos produtores. Porém, em função do estrago causado pelos governos anteriores, Bolsonaro e sua equipe, sobretudo a nova ministra da agricultura, Tereza Cristina, terão múltiplos desafios, e por isso, tem-se a necessidade de priorizar algumas pautas.

 

Infraestrutura

Estudos revelam que o governo anterior investiu menos de 2% do PIB em infraestrutura, não sendo suficiente nem para manter a estrutura atual de estradas, ferrovias, hidrovias, aeroportos e hidrelétricas. Desse valor, o que foi destinado especificamente para o agronegócio? Praticamente nada. Por isso, nossa infraestrutura está sucateada.

Segundo avaliação do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), se o Brasil crescer nos próximos anos acima de 3%, teremos definitivamente um colapso logístico e de armazenagem de grãos. A situação se agrava quando avaliamos que o custo logístico por tonelada de grãos produzido, por exemplo nos Estados Unidos, é bem inferior ao Brasil, revelando a nossa baixa capacidade competitiva no mercado internacional. E os governos anteriores construindo portos em Cuba, dá para acreditar?

Boa parte da safra brasileira colhida sai das lavouras e chega até os portos por meio de transporte rodoviário. Considerando os valores abusivos dos pedágios, impostos sobre o diesel, mão de obra elevada e tributações na manutenção de caminhões que trafegam diariamente em estradas sem manutenção, começamos a entender porque pagamos tão caro para tirar a produção da roça.

Como solução imediata, reduzir as tributações pode favorecer preços mais baixos de frete e combustíveis. Outras medidas com efeitos a médio e longo prazo como a ampliação da malha ferroviária, a viabilização de hidrovias e melhorias na eficiência portuária precisam ser definidas de forma imediata, com foco para a integração desses modais.

 

Leis ambientais e decisões pautadas no conhecimento técnico

Ficou claro que políticos que elaboraram projetos de lei nos governos anteriores não entendiam nada de natureza, tão pouco de agronegócio. Muitas dessas leis têm criado barreiras para a evolução tecnológica e da produção agropecuária sustentável. Soma-se à isto o fato de que o produtor rural, em muitos casos, é visto pela sociedade como destruidor da natureza.

Em 2018, a Embrapa realizou um estudo revelando que apenas 7,5% do território brasileiro é coberto por lavouras e que especificamente no estado do Mato Grosso, 65% das terras são constituídas por vegetação preservada. Ainda, 66,3% do território brasileiro é destinado à preservação, manutenção e proteção da vegetação nativa. Isto significa que temos 631 milhões de hectares preservados, equivalente à área somada de 48 países da Europa. Por fim, segundo dados da FAO e da Revista Science, o Brasil ocupa a 51ª posição entre 164 países que mais consomem defensivos agrícolas, com 3,3 kg/ha/ano, revelando ainda que países da Europa e da Ásia apresentam um consumo muito superior ao Brasil.

O excesso de taxações e a fiscalização de órgãos pouco técnicos foi desastrosa, dificultando a introdução de novas tecnologias. Por exemplo, nos últimos dois anos discutiu-se muito em Brasília a proibição de algumas moléculas de defensivos químicos, como o paraquat, molécula esta pós-patente, de baixo custo e segura para usos como dessecação da lavoura, por não apresentar sistematicidade. Neste caso, atentou-se muito a pressão dos movimentos ambientais e pouco se ouviu da opinião técnica do setor.

Da mesma forma, a fiscalização das empresas produtoras de insumos agrícolas é bastante falha no Brasil, trazendo inseguranças aos produtores rurais. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (ABISOLO), estima-se que no Brasil há mais de 500 marcas de fertilizantes, setor este pouco fiscalizado e que permite que produtos sem qualidade cheguem até o campo.

A ministra da agricultura, Tereza Cristina, já sinalizou mudanças na legislação de agrotóxicos, começando pela alteração do termo “agrotóxicos” para “produtos fitossanitários”, além de agilidade no processo de registro de novos produtos como moléculas de inceticidas e fungicidas, e agentes biológicos, que atualmente podem demorar até oito anos para conclusão dos registros. Nexte contexto, é importante lembrar que a elaboração de leis ambientais deve estar pautada no sinergismo entre políticos e órgãos técnicos, e a Embrapa tem um time de excelência técnica para colaborar com o novo governo.

 

Comércio exterior

Embora as exportações de soja e milho crescem anualmente, ainda há muito que conquistar no mercado internacional. A competitividade do Brasil no mercado externo é desfavorável devido, principalmente, a alta carga tributária e ineficiência logística. Adicionalmente, especialistas apontam que o Brasil fechou-se muito nos últimos anos, reduzindo as exportações de alimentos.

É estratégico para o país acordos bilaterais para a comercialização de carnes e outros produtos agropecuários. Porém, para garantir novos mercados, se faz necessário a desburocratização do setor e revisão de tributos, favorecendo a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional.

Já dizia Ricardo Amorim em seu livro Depois da Tempestade: “a China hoje, será a Índia amanhã”. Estima-se que nos próximos 10 anos, ao menos 1 bilhão de asiáticos terão uma melhor alimentação, aumentando o consumo de proteína e gerando novas oportunidades de negócio aos países exportadores de alimentos como o Brasil.

Que Bolsonaro e sua equipe olhem para o agronegócio com a atenção que não tivemos nos últimos tempos, deixe-nos trabalhar e produzir alimentos para o Brasil e para o mundo, e que tenha serenidade nas decisões políticas.

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