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Aos 15 anos, Polly Miiler mobiliza a comunidade de Almirante Tamandaré para sonhar com o UFC. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Aos 15 anos, Polly Miiler mobiliza a comunidade de Almirante Tamandaré para sonhar com o UFC. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.| Foto:

No número 67 da rua Padre Pedro Fuss, na Vila Feliz, em Almirante Tamandaré, respira-se MMA.

O motivo é uma tímida adolescente de 15 anos que, curiosamente, dispensa o UFC nas noites de sábado. Pollyana Miiler, a Polly, só quer saber de luta mesmo quando é dentro do ringue.

“Na hora em que eu subo no octógono, desligo de tudo. Só quero dar porrada”, diz calmamente a garota, que já soma cinco combates amadores no cartel — normalmente contra adversárias maiores e mais velhas.

Foram duas vitórias por nocaute, duas por decisão unânime, além de uma por finalização. A sexta luta será neste domingo (15), na edição de cinco anos do Gladiator Combat Fight, em Curitiba.

“Todo mundo pergunta: é você que luta, de verdade? As pessoas não acreditam quando olham pra mim”, conta a atleta de 1,58 m.

Realmente não é fácil de acreditar. E, para falar a verdade, o jeitinho meigo da aluna do 9.º ano da Escola Estadual Professora Maria Lopes de Paula esconde bem mais do que apenas uma candidata a promessa do esporte.

Polly mobiliza a família — e parte da cidade da região metropolitana de Curitiba — em torno de sua carreira.

Pollyana Miiller, lutadora de MMA

Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Enquanto o pai, Paulo Marcelo, segura as pontas trabalhando em uma serralheria, Cristina, a mãe, abandonou a profissão para cuidar da rotina atribulada da jovem lutadora.

De depiladora, passou a empresária. E roda Almirante Tamandaré em seu Fiat Uno atrás de comerciantes que apostem no sonho da filha, que dedica pelo menos quatro horas por dias aos treinos.

Entre patrocinadores e apoiadores, Polly já conta com 15. As contribuições podem vir em dinheiro ou em permutas por divulgação de marca. Os perfis de Polly no Facebook e no Instagram, por exemplo, já têm juntos mais de quatro mil seguidores.

No ano passado, quando a lutadora passou quase um mês na Tailândia para aprimorar o muay thai, Cristina conseguiu juntar cerca de R$ 20 mil com apoio dos comerciantes de Tamandaré e promovendo rifas.

O empresário Ronaldo Proença, 39 anos, proprietário do Supermercado Francielle, bancou as passagens.

“Não espero retorno. Quero ajudá-la a conquistar o objetivo, que é chegar a ser profissional. A gente sabe que sem o apoio nosso e de outros comerciantes não seria possível”, afirma Proença, que também ajuda com um valor considerável toda vez que Polly vai lutar.

Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Francelize Mendes, 40, dona da Stemps, empresa que produz uniformes de artes marciais personalizados, faz permuta da roupa que Pollyana usa nos combates. A cada duelo, um modelo diferente.

“Ela me manda os logos dos patrocinadores e eu desenvolvo o modelo conforme o que ela pede”, explica.

“A Polly está conosco há muito tempo, é a segunda lutadora que apoiamos. E como tem muitos seguidores, já têm algumas meninas que pedem roupa igual à dela”, revela.

A popularidade de Pollyana Miiler, aliás, também pode ser vista nas arquibancadas dos torneios de MMA. Em outubro de 2017, quando enfrentou Jaqueline Jaensch, no evento japonês Arzalet, no Ginásio do Tarumã, Cristina vendeu mais de 200 ingressos para amigos e conhecidos.

Desta forma, a filha já consegue um faturar bolsas maiores do que grande parte dos atletas profissionais do cenário local. É comum no MMA nacional, por exemplo, que o lutador receba uma porcentagem dos ingressos que conseguiu vender como pagamento ou outro valor pré-determinado.

A lógica é simples: quanto mais público atrair, maior o salário.

“Eu não conheço a maioria das pessoas que vai me assistir. Minha mãe, querendo ou não, conhece todo mundo”, brinca Polly, que deu R$ 500 para os pais após vitória mais recente.

“Ela [Polly] não sabe nem quantos ingressos são vendidos. Tem que focar em treinar”, enfatiza Cristina.

Futuro

Polly começou a treinar artes marciais aos 11 anos com o objetivo de ganhar autoconfiança e ajudar a combater sinais de síndrome do pânico. Hoje, ser lutadora é sua única opção.

“Já se passaram quase quatro anos e não mudei de opinião. Não me vejo fazendo outra coisa”, garante.

Ainda faltam três anos para que ela se torne maior de idade e possa competir profissionalmente. Mas o plano de carreira está já desenhado. E com detalhes.

“Quero estrear lutando fora do país, no Invicta [torneio americano exclusivamente feminino]. Espero que consiga”, diz a peso palha (até 52 kg).

“Já recebi várias mensagens de empresários falando que colocariam a Polly para lutar em tal lugar quando completar 18. Muitos managers estão de olho. Isso assusta um pouco”, admite a mãe da lutadora, que evita pressionar a filha.

A expectativa, contudo, é natural e só tende a crescer. Afinal, a família gira em torno do prodígio da luta.

“Na verdade, eu não queria isso para minha filha. É muito pesado vê-la dentro do octógono. Eu ainda seguro onda, mas marido passa mal, minha outra filha passa mal durante as lutas”, emenda Cristina.

O UFC, claro, é o grande sonho. E por que não sonhar?

Eu só treino. Se for pra ser, vai ser.

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