Logo que Sergio Moro saiu do governo houve um princípio de fragmentação do grupo mais alinhado à direita nas redes sociais, mas a coesão já foi retomada durante a semana. Depois de apedrejar o ex-ministro, elegeram a deputada Joice Hasselmann como novo alvo. Este pequeno grupo que se dedica sistematicamente a ataques representa 16% dos perfis. Segundo o Observatório da Democracia Digital, da Fundação Getúlio Vargas, 51% dos perfis que debatem política no Twitter não são alinhados a um grupo específico, são apartidários.
A saída de Sergio Moro do governo foi muito mais comentada do que qualquer outro evento, inclusive do que a pandemia - e inclua na contagem todo mundo que faz relato, reclamação e dica da quarentena.
Os temas do debate político variam de acordo com a bolha de influenciadores em que a pessoa está.
Os que não são alinhados politicamente, mais ligados a cultura e entretenimento, falam mais no Twitter sobre o cotidiano do isolamento, criticam as declarações de Jair Bolsonaro sobre as vítimas do coronavírus e falam de eleitores arrependidos.
A base de apoio bolsonarista, que teve uma grande fragmentação assim que Sergio Moro saiu do governo se recompôs no Twitter. orquestrando um ataque à deputada Joice Hasselmann. Pela manhã, no Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que tinha um áudio comprometedor de uma deputada. Mais tarde, perfis anônimos já investigados da CPMI das Fake News divulgaram maciçamente o áudio que, no final das contas, não era o que o presidente afirmou. Pouco importa: atacar sempre deixa o grupo unido novamente, não importa o que aconteça.
Na base de oposição ao presidente no Twitter, falou-se das declarações sobre as vítimas do coronavírus, a possibilidade de que Regina Duarte saia do governo e o machismo presente nos ataques à deputada Joice Hasselmann.
No Twitter, a movimentação de robôs orquestrada com uma declaração do presidente da República funcionou para unir a base abalada com a saída de Moro, formada majoritariamente por pessoas reais. A manipulação tem efeito na vida real, funciona. Imagine qual será o efeito da pulverização de Fake News sobre coronavírus via Whatsapp.
A FGV analisou 251,6 mil mensagens postadas em 172 grupos públicos entre 24 e 29 de abril. À exceção de uma reportagem do site The Intercept, todas as demais são de websites dedicados a Fake News, feitos com características estéticas que imitam sites de notícias, mas sem nenhum compromisso com informação ou verdade.
Os links mais compartilhados são aqueles falando sobre a investigação da facada e o caso Adélio. Quem tiver o cuidado de visitar os links verá que não há em nenhum deles a citação de que o laudo de insanidade mental do criminoso que tentou matar o presidente foi emitido pela defesa de Jair Bolsonaro. Também não é informado que o processo só foi encerrado desta forma porque o presidente Jair Bolsonaro decidiu não recorrer, quando podia ter recorrido. A omissão é para dar sentido à narrativa de que a demissão do diretor da Polícia Federal se deve à falta de investigação do caso.
Os links sobre coronavírus mais compartilhados pelo WhatsApp são de sites sem método jornalístico, que praticamente postam com a estética parecida com a dos sites de notícias, textos exaltando o Governo Federal. Há ataques ao STF, ao ex-ministro Mandetta e elogios à participação dos militares no combate à pandemia.
O brasileiro continua ingenuamente acreditando que as redes sociais são livres e que as plataformas têm o mesmo modelo de negócio de empresas de comunicação. Na realidade, as redes sociais possuem mecanismos sofisticados de manipulação psicológica e emocional para viabilizar o seu negócio real, a publicidade direcionada. A informação é apenas um detalhe nesse movimento, por isso a conivência com conteúdos que têm alto engajamento mas desinformam e até colocam pessoas em risco.
É triste que, durante o drama que vivemos, uma pandemia gravíssima que nos atinge de forma cruel, esses mecanismos sejam utilizados para voltar nossos olhos a um debate político que em nada ajuda o Brasil nem os brasileiros. O desvio de atenção cobrará seu preço e todos nós pagaremos essa conta.
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