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A intimação da Corregedoria da Câmara dos Deputados de 14 parlamentares que participaram da obstrução na semana passada segue o roteiro do teatro absurdo a que assistimos, atônitos, todos os brasileiros. Deputados do PT e da esquerda, acostumados a realizar ocupações e até invasões pelos menores motivos, e não raro com muita violência, agora representam contra seus colegas de direita por fazerem o mesmo, pacificamente e com motivação nobre.
Ainda que a injustiça salte aos olhos e a situação cause desconforto para quem está sendo perseguido, a mensagem não deixa de ser clara e evidente: até mesmo no Poder Legislativo, o governo Lula quer eliminar a oposição. O próprio presidente da República, em manifestação a respeito do episódio, defendeu não apenas a suspensão de mandatos, mas a cassação de todos os parlamentares envolvidos. Ou seja, na verdade, Lula defendeu a cassação da oposição inteira, posto que atuou unida e sem defecções.
Assim como em Cuba, China ou na Coreia do Norte, o que o PT quer para o Brasil é um regime de partido único. Quando dizem defender a “democracia”, a exemplo do que ensinou George Orwell em 1984, querem dizer que defendem a ditadura do partido e pensamento únicos. Não é à toa, portanto, que querem “extirpar” a oposição do Parlamento — assim como Lula já defendeu no passado ao afirmar, em 2010, durante um comício em Santa Catarina, que o Democratas deveria ser extirpado da política brasileira.
Para agravar a situação, além da determinação ideológica do PT em acabar com a oposição, alia-se ainda ao partido de Lula o Supremo Tribunal Federal, que persegue individualmente parlamentares por posicionamentos, pronunciamentos e até mesmo por posts em redes sociais. Pode soar repetitivo, mas não importa: é na resistência da oposição, eleita democraticamente pelo povo brasileiro, que o país ainda tem chance de encontrar esperança de um futuro melhor. E é exatamente por isso que os petistas e os detentores do poder no Brasil querem tanto calar e cassar a oposição.
Por esse motivo, apesar de ainda não termos certeza se serão cumpridos os acordos feitos para o fim da obstrução, a manobra, em si, já deu excelentes resultados. Mostrou à população brasileira que há um grupo expressivo de parlamentares dispostos a defender o país custe o que custar, e que não estão na política por cargos, salários ou quaisquer outras benesses, mesmo diante da ameaça de uso de violência física e de punição financeira para os participantes do movimento.
O Brasil não merece tornar-se uma “democracia” de partido único. Pelo contrário: precisa voltar a ser uma democracia plural, em que se respeitem a diversidade de opiniões e a vontade da maioria, como é o caso da pauta apresentada pela oposição: aprovação da anistia, fim do foro privilegiado e impeachment de Alexandre de Moraes. O governo Lula e seus associados podem tentar calar a oposição, mas o recado que demos foi claro: resistiremos até o fim e não nos intimidaremos.




