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Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Conclave

O Espírito Santo “escolhe” o papa? Ratzinger explica

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O cardeal Joseph Ratzinger, em foto de 2003. (Foto: Harald Tittel/EFE/EPA)

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Hoje é feriado também na Itália, a ponto de os cardeais terem resolvido que nem haverá congregação geral – eles voltam a se encontrar apenas amanhã. Essa breve pausa serve para pensarmos melhor sobre uma das afirmações mais frequentes feitas a respeito do conclave: a de que, de alguma forma, o Espírito Santo “escolhe” o papa. Em alguns casos, parece evidente que determinada eleição foi, mesmo, obra do Paráclito. Mas... e Alexandre VI? E Bento IX? E João XII (parente mais ou menos distante de Bento IX, aliás)? E tantos outros papas eleitos por puro conchavo político das poderosas famílias italianas? E papas que até tinham uma vida pessoal ilibada, ou até santa, mas foram desastres administrativos, como São Celestino V?

Quem deu a melhor resposta que conheço para essa pergunta foi, para a surpresa de ninguém, o então cardeal Joseph Ratzinger (ele mesmo uma escolha inspirada para o papado, em 2005). Ele dava uma entrevista à televisão alemã em 1997 quando lhe perguntaram exatamente sobre o “papel” do Espírito Santo na escolha dos papas. Ele respondeu:

“Eu não diria desta forma, que o Espírito Santo escolhe o papa... eu diria que o Espírito Santo não exatamente assume o controle do processo, mas, como bom educador que é, nos deixa muito espaço, muita liberdade, sem nos abandonar completamente. O papel do Espírito Santo deveria ser entendido de uma forma muito mais ‘elástica’; ele não dita o candidato em quem alguém deve votar. Talvez a única garantia que ele ofereça é a de que a coisa toda não será totalmente arruinada. Houve muitos papas que o Espírito Santo certamente não teria escolhido!”

Inspiração não é coerção; Deus dá liberdade a todos os cardeais eleitores, inclusive para fazer más escolhas

Convenhamos, se o Espírito Santo “escolhesse” o papa da maneira como alguns pensam, nem seria preciso haver conclave: os cardeais entrariam na Capela Sistina e esperariam algum sinal do céu que indicasse o eleito – talvez eles nem precisassem se trancar, e tudo podia ser feito bem no meio da Praça de São Pedro, diante do olhar de todo o mundo católico. Mas não é assim. Um cardeal que se deixa guiar pelo Espírito Santo sabe do que a Igreja precisa, e sabe identificar, entre seus colegas, aqueles que correspondem a essas necessidades.

Mas inspiração não é coerção; Deus dá liberdade a todos os eleitores, inclusive para fazer más escolhas. Como disse o então cardeal Ratzinger, o Espírito Santo garante, pelo menos, que uma escolha ruim não acabe com a Igreja. Por mais imorais que tenham sido aqueles papas que listei no primeiro parágrafo, por mais que eles tenham desmoralizado a Igreja com seus atos, nenhum deles usou a autoridade dada por Jesus a Pedro para ensinar o erro em termos de doutrina ou de moral – e sabemos que, ainda que algum deles quisesse fazer isso, o Espírito Santo teria impedido que isso ocorresse, graças à promessa de Cristo pela qual “as portas do inferno não prevalecerão” sobre a Igreja.

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Como os cardeais pediram ontem, sigamos rezando pelo conclave, para que os cardeais sejam dóceis às inspirações do Espírito Santo e nos deem um bom papa; mas, se os eleitores não estiverem muito dispostos a isso, que ao menos sigamos confiando na proteção que Deus dá à Igreja – protegendo-a inclusive dos maus líderes.

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