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Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Crônica

E aí, o papa Leão XIV te representa?

papa leao xiv
O papa Leão XIV saúda os fiéis na Praça de São Pedro em sua primeira aparição pública. (Foto: Alessandro di Meo/EFE/EPA)

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(Ao longo da semana passada, enviei a leitores que se cadastraram no site da Gazeta do Povo a newsletter gratuita Diário do Conclave. Nela, contei alguns bastidores da nossa cobertura, e também fiz algumas reflexões, baseadas em minha vivência de católico que estava acompanhando a eleição do novo papa. Hoje, compartilho com os leitores da coluna a newsletter que enviei na manhã do dia 10.)

* * *

Já se passaram mais de 24 horas desde que o cardeal Robert Prevost foi eleito para se tornar o papa Leão XIV. A vida dele foi devassada, e você já sabe de muita coisa que ele disse e fez antes de se tornar o chefe da Igreja Católica. Você sabe que ele já botou o pé na inundação, sabe para que time de beisebol ele torce (embora isso esteja sendo contestado), sabe até o registro eleitoral dele. Já leu suas primeiras falas como pontífice, e o que ele andou escrevendo no X, ou Twitter, antes disso. Agora, responda: já conseguiu decidir se Leão XIV te representa?

O papa não é alguém que fiscalizamos como um político, vigiando cada passo à procura de um tropeço para viralizar nas mídias sociais ou transformar em manchete. O papa é nosso pai

Pois eu digo que Leão XIV não me representa. Francisco também não me representava. Nem Bento XVI, nem João Paulo II, nem João Paulo I, nem Paulo VI, para citar todos os papas que passaram pelo Vaticano desde que eu nasci. E, goste você ou não de Leão XIV, a notícia que vou lhe trazer é a mesma: ele também não te representa. Mas calma lá, que a razão é muito simples.

O papa – qualquer papa – não é um líder político que nós colocamos em uma posição de comando para executar um programa de governo que nós aprovamos na urna, e nem é alguém cujo nome nos será apresentado de tempos em tempos para manifestarmos nossa aprovação ou nossa reprovação, em uma prestação de contas obrigatória. Não somos mandantes, nem o papa é mandatário.

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Ele não é nosso representante, mas o Vigário de Cristo – Santa Catarina de Sena dizia que ele é o “doce Cristo na Terra” – e o sucessor de São Pedro. Se ele “representa” alguém, é Aquele que lhe deu o poder de abrir e fechar na terra e no céu, como diz a inscrição em latim que está na base da cúpula da Basílica de São Pedro, que só hoje [dia 9] pude visitar com calma, junto com todos os demais peregrinos, atravessando a Porta Santa jubilar.

Não é, então, a nós que ele deve prestar contas, como se ele devesse governar a Igreja da maneira que nós queremos ou achamos melhor. A prestação de contas do papa virá apenas naquele dia que chega para todos. Então Cristo lhe perguntará: “Apascentaste meus cordeiros? Apascentaste minhas ovelhas? Tua fé não desfaleceu? Confirmaste teus irmãos?”

Detalhe da Morte no túmulo de Alexandre VII na Basílica de São Pedro, monumento executado por Gian Lorenzo Bernini. (Foto: Marcio Antonio Campos/Gazeta do Povo)

O papa não é alguém que fiscalizamos como um político, vigiando cada passo à procura de um tropeço para viralizar nas mídias sociais ou transformar em manchete. O papa é nosso pai – no caso de Leão XIV, um pai que acabamos de ganhar. E cuidemos bem dele como cuidamos de um presente novo que recebemos. Amemo-lo, rezemos por ele, sejamos compreensivos e tolerantes com quem acaba de receber um cargo que também é uma carga. O Espírito Santo ilumina o papa, mas não o livra do estresse, das preocupações, das angústias, das pressões. Então, que o ajudemos da forma como podemos, especialmente com as nossas constantes orações.

Uma das primeiras coisas que me passaram pela cabeça quando Bento XVI renunciou, alegando não ter mais forças, foi que nós não tínhamos rezado o suficiente por ele. Acostumamo-nos a pensar que ele, um teólogo genial, um conhecedor dos meandros da Cúria, um guerreiro da fé, era “larger than life” e tinha forças para se virar sozinho. Estávamos enganados.

A minha oração pelo papa Francisco – além da tradicional “que o Senhor o conserve, e lhe dê vida longa, e o faça santo na terra, e não o entregue à vontade de seus inimigos” – era para que ele fizesse não o pontificado que eu queria, nem o pontificado que ele queria, mas o pontificado que Deus queria. É assim que seguirei rezando por Leão XIV, e espero que você nunca deixe de rezar por ele, porque ele precisará muito de oração e de amor.

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