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Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE| Foto:

Paulo Guedes errou. É importante tirar logo essa dúvida da frente, se é que ela ainda existe. Errou ao aceitar provocações e, dessa forma, fazer o jogo da oposição durante a sabatina à qual se submeteu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E também por ter enfatizado reiteradas vezes, como quem lava as mãos, que a responsabilidade pela aprovação da reforma da Previdência estava a cargo do Congresso.

Alguém haverá de salientar a falta de traquejo político do ministro, que, acrescida ao seu temperamento irascível, não poderia levá-lo a se comportar de outra maneira. Faz sentido, mas, para fins práticos, pouco importa.

Outrossim, o cortejo fúnebre organizado pela esquerda brasileira em memória própria, por meio de comportamentos detestáveis e acima de tudo tolos do ponto de vista político — se pensarmos que estamos diante de um governo hábil como poucas vezes se viu em pisar no próprio rabo —, só espantou quem não seguiu este país durante as últimas décadas.

Aqueles pouco afeitos ao equilíbrio democrático podem discordar, já está claro que tantos anos sob o jugo petista foram capazes de provocar este danoso efeito nas pessoas, contudo foi sofrido relembrar o motivo do clima catártico nas últimas eleições. Não vem ao caso tergiversar sobre os danos de toda ordem provocados pelo PT e legendas satélites enquanto estiveram no comando do país. Não se trata, tampouco, de achar que estaríamos melhor se Haddad fosse hoje presidente. Todavia, cabe lamentar a ausência de uma oposição sensata, ainda que valente. Justa, mesmo se regida pelo dever de contestar. Intelectualmente honesta, embora o teatro faça parte da disputa política. E afeita a um pingo que fosse de decoro, por que não?

Mas, dizia eu, pouco importam a inabilidade de Guedes, jogado aos leões por um governo despreparado, que nem mesmo assunta os trâmites de uma Comissão de modo a proteger os seus, ou os extertores de uma oposição descompromissada para com as necessidades do Brasil, conquanto mestre em gerar ruídos.

O ponto é que, desde o início da noite de quarta-feira, já é possível afirmar que a reforma da Previdência não vingará como o esperado. Não se trata mais de ponderar um número aquém do R$ 1,1 trilhão esperado por Guedes, e sim de admitir que a proposta final, dado o clima suscitado pelo amadorismo da gestão e a sangria vindoura por meio das negociações com o Congresso, tende a estabelecer um patamar muito distante do necessário para encaminhar o reequilíbrio das contas públicas — se é que teremos mesmo reforma este ano, diga-se. A essa altura, uma dúvida não só plausível como sensata.

Pois, dado esse cenário, considerando, portanto, um desacerto irrefreável nas expectativas do mercado financeiro e da sociedade em relação à retomada do crescimento econômico, incluindo aí a manutenção do número de desempregados acima dos 10 milhões de pessoas, a inabilidade política de uma administração preocupada em acentuar divisões, desastrosa quando se trata de diplomacia e absolutamente nefasta para a Educação, pergunta-se: até quando Jair Bolsonaro continuará no poder?

Ou é possível imaginar este governo perdurando por quatro anos nesse ritmo?

Sei bem, o bolsonarista ferrenho pode ler estas linhas e arrancar os cabelos de tanta indignação, mas que ele não se deixe enganar pela febre ideológica: somente em casos extremos, previstos em lei ou irreversíveis do ponto de vista político, eu seria favorável a uma mudança de comando.

Por pior que seja a gestão Bolsonaro, se tenho uma certeza é a de que precisamos aprender a assumir as nossas responsabilidades e respeitar os processos democráticos. Não dá mais para alimentar esse conceito de que, se tudo estiver ruim, e às vezes nem tanto, mas insatisfatório ao sabor da maioria, basta trocar o presidente.

Dito isso, há hoje, na opinião deste que vos escreve, a certeza de que o atual governo, sob a liderança de Jair Bolsonaro, não continuará de pé caso o ritmo atual de desmandos, medidas amalucadas e disposição para o confronto com inimigos imaginários prossiga.

Ou o presidente assume o comando da sua turma, exonerando ministros e assessores desconectados da realidade; dando respaldo àqueles poucos em condições de colaborar com o país, ou então será o terceiro caso de um presidente impedido desde a reabertura democrática.

Não é a minha vontade, insisto, porém a nossa história recente já demonstrou como a instabilidade política de um governo é capaz de miná-lo até que a sua remoção se torne uma questão de tempo.

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