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Fotos: Nelson Almeida/AFP
Fotos: Nelson Almeida/AFP| Foto:

Talvez não exista reflexo mais claro em relação à obrigatoriedade de nos dirigirmos às zonas eleitorais em dias de eleição do que o nosso apreço pelo voto útil. Pois, sim, não se trata apenas de capitular, mas de ver lógica na coisa toda. Desta forma, o sujeito pode ser desprezado por seguir esse ou aquele partido, sofrer rejeição dos amigos e até da própria família caso se decida por um candidato específico, mas ai dele se minimamente demonstrar inclinação para anular ou votar em branco. Periga se tornar um pária na mesma hora.

A lógica é tão simples quanto irrespondível: ainda que a situação pareça drástica, sempre haverá uma escolha menos prejudicial à sociedade.

Bom, se tudo der errado, talvez tenhamos finalmente a chance de atravessar esse rubicão. Afinal, nada como restringir a escolha derradeira em uma eleição tão importante, para um país que precisa aprovar reformas fundamentais logo no primeiro semestre do ano que vem, justo entre os dois extremos do espectro político. Entre o representante de um partido popular que jamais em sua história significou tão pouco para o cidadão e um candidato rejeitado por sua retórica ofensiva e antidemocrática.

Uma espécie de frisson soturno por conta dessa possibilidade já está acontecendo.

Quando o assunto é a eleição, não faltam amigos a me dizer coisas como “sinto muito, mas seriei obrigado a votar…”. O final da frase? Varia. Há quem argumente de maneira convicta sobre o quanto a vitória de Fernando Haddad, e portanto do PT, seria desastrosa para a economia. Até mesmo para a liberdade da imprensa, hajam vista os constantes avisos do candidato e de grão-mestres do partido sobre um plano para “democratizar a comunicação”. Os que argumentam assim não titubeiam em afirmar que Jair Bolsonaro presidente e Hamilton Mourão são a escolha menos dolorosa para país.

Há também quem aponte para o outro lado. Pessoas capazes de afirmar que eleger Bolsonaro seria uma temeridade. Tanto do ponto de vista econômico — uma vez que o candidato sabidamente ignora por completo o tema — quanto pelo inevitável retrocesso nas instituições. Acrescentam, sabedores dos argumentos em contrário, que não faz sentido depositar toda a esperança em Paulo Guedes se não será ele o eleito. Afinal, ministros caem a toda hora. E tampouco não pensam em relativizar a paura provocada pelos ataques do candidato às minorias e à imprensa, se esses são alardeados há anos. Por fim, como se pode imaginar, essa é a turma que está preparada para, se for o caso, tampar o nariz e devolver o Partido dos Trabalhadores ao poder.

De fato, uma escolha dessas não seria simples. Não só pelos receios que ambos os candidatos estimulam com seus históricos, suas declarações e o comportamento agressivo de seus seguidores, mas por estarmos programados a escolher qualquer um. Mesmo se não comungamos de seus valores e projetos apresentados.

Parte do processo de amadurecimento democrático pelo qual ainda estamos passando deveria incluir uma certeza: o voto em branco ou nulo é tão legítimo quanto qualquer outro. Afinal, ele também é uma escolha.

No caso dessa eleição específica, uma eventual maioria de brasileiros terá todas as condições de ponderar se Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro representam o que há de melhor para conduzir a nação durante os próximos quatro anos. 

Nessa hipótese, não deveria causar espécie que a minoria discordasse.

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