Ecoou durante os últimos dias a notícia de que, segundo relatório das agências de inteligência americanas, os russos, assim como em 2016, buscam influenciar as eleições presidenciais deste ano. Furioso, o presidente Donald Trump criticou o parecer, tachando-o de teoria conspiratória. Para além do inconformismo no Salão Oval, o levantamento das agências expõe um detalhe sintomático na estratégia de Vladimir Putin em conduzir o presidente à reeleição: impulsionar o senador Bernie Sanders nas primárias democratas.
Não deveria ser difícil entender a motivação de Moscou em apoiar justo o candidato que se autoproclama “socialista democrático” à disputa pela Casa Branca. Razão e pragmatismo, contudo, são hoje conceitos estranhos ao espectro progressista nos Estados Unidos.
Embora o fator “vencer Trump” seja apontado pelas pesquisas como decisivo para a escolha do candidato, a convicção dos prepotentes pauta o caminho dos democratas. Nada parece interessar mais ao eleitor médio, especialmente em cidades de perfil liberal como Nova York, a não ser ver refletida na convenção do partido a quintessência dos valores progressistas. O encontro se dará em Milwaukee, em meados de Julho, no estado de Wisconsin.
É como se o eleitor democrata tivesse decidido copiar a receita adotada pelos republicanos para voltar ao poder: radicalizar. Não por acaso, na última sexta-feira Sanders usou a sua conta no Twitter para publicar: “Eu tenho uma novidade para o establishment Republicano. Eu tenho uma novidade para o establishment Democrata. Eles não vão conseguir nos interromper”. E ainda assim foi agraciado com uma importante vitória em Nevada.
O populismo é previsível, mas nem por isso deixa de ser eficiente. Resguardadas as particularidades em cada caso, a vitória de Trump se repetiu em diversos pleitos mundo afora, inclusive no Brasil. Os desafios que se apresentam aos democratas este ano, entretanto, tornam pouco provável a sua chance de sucesso.
A começar pelo aspecto estatístico. Até hoje, apenas cinco presidentes americanos não conseguiram se reeleger: William Taft, Hebert Hoover, Gerald Ford, Jimmy Carter e George H.W. Bush. Uma lista tão diminuta que, por si só, já daria a dimensão do favoritismo de Trump. Todavia, um detalhe relevante torna o panorama ainda menos alvissareiro para a oposição: em quatro dos cinco casos nos quais os mandatários não conseguiram permanecer na cadeira — Hoover, Ford, Carter e Bush — a economia americana passava por momentos de dificuldade ou recessão. Os Estados Unidos vivem hoje uma realidade de pleno emprego, com a menor taxa de desocupados em 50 anos.
Há também uma questão de estilo. Enquanto os candidatos democratas, em especial os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren fundamentam suas mensagens nos ataques a Trump e falam para eleitores que já gravitam o ideário progressista, o presidente, sem deixar de provocar, foca em assuntos primordiais e comuns à toda sociedade: emprego, segurança e proteção das fronteiras. Não se esquece de pintar os rivais como uma ameaça à Segunda Emenda — a que resguarda o direito da população de manter e portar armas —, e espezinha um projeto de reformulação no sistema de saúde defendido por Sanders e Warren.
Sobre essa proposta — de longe o nódulo principal nas discussões do partido, já que para além de um custo na casa dos trilhões de dólares está previsto o fim dos planos de saúde privados —, não é à toa que o senador de Vermont tergiverse quando pressionado pelo ex-vice-presidente, Joe Biden, o ex-prefeito de South Bend, Pete Buttigieg, e a senadora Amy Klobuchar.
O sucesso de Donald Trump na última eleição deixou claro que na política tudo é possível. Sem entrar no mérito das nuances ideológicas e de modelos de governo que o termo abarca, quem sabe não estamos às vésperas de testemunhar o primeiro presidente americano socialista?
A maioria das pesquisas, hoje, aponta para derrotas do presidente contra qualquer um dos principais candidatos democratas. Por outro lado, vale lembrar que a disputa presidencial no sistema eleitoral americano não se resume ao voto popular: Trump perdeu por uma diferença de quase três milhões de votos em 2016 e mesmo assim foi eleito.
Ainda no campo das consultas, uma recente, do instituto Gallup, revelou que apenas 47% disseram que votariam em um socialista para assumir a Casa Branca. Para termos de comparação, além de ser menos da metade, a hipótese perde para um presidente ateu (60%), um gay ou uma lésbica (76%), um judeu (93%), uma mulher (94%) ou um negro (96%).
É compreensível que esses cenários desanimem quem gostaria de ver uma mudança de rumos no comando de um governo americano, porém nada deveria incomodar mais do que a incapacidade dos democratas, e da esquerda americana em geral, em se conectar com quem discorda de sua visão de mundo.
Não que o Kremlin esteja reclamando.
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