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Foto: Paola de Orte/Agência Brasil
Foto: Paola de Orte/Agência Brasil| Foto:

Nenhuma administração ao longo da Nova República assumiu uma postura tão intervencionista como o atual governo em seus primeiros oito meses (sim, incluindo os mandatos petistas). Dentre as várias ofensas aos conceitos de separação de poderes e da impessoalidade, porém, um se destaca: a indicação de Eduardo Bolsonaro para assumir a embaixada em Washington.

Não que os demais atropelos sejam desimportantes. A investida ao Coaf, por exemplo, é digna de um déspota: após o órgão ter revelado movimentações atípicas de um então obscuro Fabrício Queiroz — descortinando assim o esquema de “rachadinhas” envolvendo o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, e quem sabe até mesmo milicianos —, o mandatário decidiu extingui-lo. Entra em cena a Unidade de Inteligência Financeira (UIF), sob o guarda-chuva do Banco Central, cuja formação está aberta para "cidadãos brasileiros com reputação ilibada e reconhecidos conhecimentos".

Há também uma tentativa de intimidação de auditores fiscais e da Polícia Federal, com direito a ameaça de demissão do diretor-geral da PF.

“Quem manda sou eu”, tem repetido o presidente em inúmeras ocasiões, para não deixar dúvidas a respeito da sua insegurança. “Fui (eleito) presidente para interferir mesmo”, sapecou dia desses, confirmando sua índole mandona.

Pois é justamente olhando para a natureza de Bolsonaro que o Senado tem o dever de reprovar Dudu para o posto de embaixador.

Minto, os senadores têm obrigação de impedir que Eduardo assuma o cargo porque ele está sendo indicado pelo próprio pai. Episódio clássico de nepotismo, em que a qualificação do candidato — no caso falta dela, dada sua nula experiência, um inglês na melhor das hipóteses sofrível e uma visão de mundo capaz de infligir danos irreparáveis à imagem do país — perde em importância.

Para além dessa constatação, entretanto, o comportamento e as recentes declarações do presidente, marcados por seguidas provocações às instituições, como se testasse suas fibras, esgarçando-as pelo caminho, impõem que a Casa eduque o mandatário.

Jair Bolsonaro precisa honrar sua principal promessa de campanha, quando decretou o fim da velha política em caso de vitória. Precisa entender que as fronteiras e as ambições do Brasil extrapolam as do Vale do Ribeira. E precisa entender, acima de tudo, que não pode usar o cargo de presidente da República para oferecer filé mignon aos seus rebentos.

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