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Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: Arquivo/Gazeta do Povo| Foto:

Candidata pelo partido que ela mesma idealizou, Marina Silva está no limbo: enquanto considerável parcela da população não esquece os mais de vinte anos no Partido dos Trabalhadores, a outra banda da arquibancada não perdoa o seu apoio ao candidato Aécio Neves em 2014, quando este enfrentava Dilma Rousseff no segundo turno, nem tampouco o posicionamento em favor do impeachment da então presidente petista.

Em outras palavras, ambos os lados do espectro político responsáveis por nortear as percepções do eleitor nutrem por Marina desconfiança. E isso, na melhor das hipóteses.

Contudo, ainda há outro obstáculo a ser considerado na campanha da líder do Rede Sustentabilidade: não só existe uma considerável rejeição por parte das tribos estabelecidas praticamente desde a reabertura democrática, como o cidadão se acostumou a compreender a disputa política como uma competição entre agremiações esportivas, como corrida de cavalos ou — e talvez seja essa a melhor metáfora — como concorrência entre escolas de samba.

Ou seja, mais do que escolher um candidato — e a essa altura os planos de governo e as convicções na economia nem sequer são levados em conta —, o sujeito busca se identificar com selos. Anseia por referências que resumam o seu posicionamento. Algo que o possibilite deixar mais respiráveis as fortuitas conversas que, em época desse negócio desagradável chamado eleição, teimam em aparecer.

E Marina personifica justamente o oposto. É a candidata disforme. Sem um discurso claro. Sem uma bandeira ou mesmo uma cor para o eleitor chamar de sua. Ou, pelo menos, é esse o estereótipo que acabou cultivando ao longo dos anos.

Pois bem, dado esse cenário, é obrigatório admitir que a candidata demonstrou uma firmeza rara durante a entrevista concedida ontem no Jornal Nacional.

A grande ironia é que, de certa forma, Marina foi até favorecida pela insistência de Bonner e Renata — que novamente não estiveram bem, por vezes chegando a ser deselegantes — em pressioná-la sobre o seu discurso supostamente exagerado em favor do diálogo e a pouca disposição para posicionamentos firmes. A candidata usou vários desses momentos para demonstrar uma postura incomum. Idem para a entonação.

Quando lhe perguntaram se a falta de alianças não demonstrava inabilidade política, usou de uma ironia desconcertante: “É engraçado: as pessoas reclamam que a Rede não tem alianças, mas quando eu me aproximo daqueles que sobraram, as pessoas reclamam”.

De resto, anunciou que o seu governo seria de transição e que nele as mulheres poderiam se aposentar mais cedo.

Marina foi bem. A condução da entrevista impediu que falasse sobre assuntos importantes para o País, mas o eleitor acostumado a bocejar quando ouve seu nome teve uma surpresa.

Podemos dizer que as chances da postulante pela Rede mudaram desde ontem? Não.

Marina continua tendo de enfrentar a desconfiança provocada pelo seu passado e também por uma imagem de fragilidade que se confunde com a sua própria estrutura física. E, é claro, acima de tudo, terá de superar a falta de alianças robustas e, consequentemente, de tempo de televisão.

Apenas uma improvável dificuldade de Alckmin em crescer, mesmo com a força que terá no horário eleitoral e nos palanques Brasil afora, sustentam suas esperanças de se tornar a candidata anti-Bolsonaro.

Tudo muito difícil de imaginar.

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