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Foto: CARL DE SOUZA / AFP
Foto: CARL DE SOUZA / AFP| Foto:

Não cabem meias palavras quando se trata de falar sobre o comportamento de grande parte dos eleitores de Jair Bolsonaro ou de seus filhos. Aliás, incluindo o dele próprio. Assim como não viria ao caso tergiversar a respeito das inconsistentes propostas de Paulo Guedes, seu assessor econômico e, dizem, futuro Ministro da Fazenda. Seria incabível, por fim, pôr panos quentes nas declarações do vice da chapa, General Mourão. São graves e ferem até o mais vago conceito de democracia.

Tudo isso dito, o povo falou. E falou em alto e bom som .

Deixou claro, sem titubeios, que todos esses argumentos, assim como quaisquer outros reparos morais que possam ser feitos, pouco importam quando o que está em jogo é a ameaça do retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder.

Um movimento tão forte que transcendeu a própria ojeriza a Lula e ao PT. Foi como se, aproveitando a leva, essa ventania também se encarregasse de espalhar as suas bases. Rejeitando candidatos de esquerda ou ditos progressistas, sem dúvidas, mas também nomes que há anos conseguiam se eleger sem maiores esforços.

Não deixa de ser perturbador pensar que a nossa renovação política se dê pela ascensão de uma visão atrasada de mundo, mas seria um equívoco muito grande por parte dos pensadores deste país e da própria sociedade enxergar nesse movimento uma simples marcha a ré civilizatória. Pode até sê-lo, não me nego a aceitar esse fato, entretanto não se pode parar a reflexão por aí. Trata-se, acima de tudo, de uma resposta. De uma reação. De uma compreensível reação.

Ao longo das últimas décadas, houve por aqui o cultivo cuidadoso e profissional de um sentimento de asco por uma parcela específica da população. Passou-se a acreditar, quase que por osmose, que determinado grupo não tinha direito a se manifestar. Que não devia ser ouvido. Pior ainda, que merecia ser ridicularizado e intimidado. Enfim, que uma espécie de equilíbrio moral justificava o seu achincalhamento. O achincalhamento do “coxa” e do “reaça”. O estigma da “elite branca”. 

Pois essa panela de pressão engendrada com fins eleitorais pelo PT finalmente explodiu. E, como acontece nesses casos, espalhou sujeira para todo o lado.

A faxina não será fácil. Arrisco-me a dizer: levaremos um bom tempo até entendermos que, de certa forma, o sucesso do bolsonarismo se confunde com o do próprio petismo. Representa a consagração de uma maneira de fazer política e de impor narrativas. Responsável pela fundação de um estado de catarse coletiva que não dá espaço ao bom senso.

Durante os próximos anos, a parcela da sociedade que não se deixou contaminar por tal embate sentirá o reflexo desta eleição. Na torcida para que a nossa democracia seja elástica o suficiente e assim possa suportar o abalo.

Honestamente, tomara.

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