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Foto: Sérgio Lima/AFP
Foto: Sérgio Lima/AFP| Foto: AFP

A retórica apelando para valores familiares, adversários à feição para inflar a dicotomia ideológica e um momento de catarse coletiva que ensejou a manipulação de multidões — levadas a acreditar que a radicalização em nome de um bem maior era a única saída possível.

Celebradas em 2016 e 2018, as vitórias que conduziram Marcelo Crivella à prefeitura do Rio e Jair Bolsonaro à presidência da República seguiram roteiros parecidos. Não será surpresa se os desfechos coincidirem.

Na esteira das manifestações de junho de 2013, todos nos tornamos um pouco bestas-feras. Há quem tenha se aproveitado do momento para rasgar a fantasia e revelar uma natureza autoritária, porém são inúmeros os casos de quem, hoje, olhando para trás, já não se reconheça.

Três anos depois, uma onda em torno de Marcelo Freixo tomou conta do Rio. Para além do poder de persuasão da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) e da rejeição que por seus posicionamentos radicais o PSOL criou para si, deu-se então uma guinada como poucas vezes se viu em uma cidade historicamente afeita a candidatos da esquerda.

Quando da eleição presidencial, o ambiente recrudesceu. Em meio a um cenário similar àquele que coroou o bispo licenciado, cariocas e fluminenses em geral não só caíram na esparrela do capitão, como ainda entregaram o estado a um completo desconhecido, chamado Wilson Witzel.

Aparentemente, o momento é outro. Witzel foi afastado; já Crivella sofreu derrota acachapante nas eleições deste ano. Uma surra que se deu apesar do apoio de Bolsonaro, embora tentem diminuir o envolvimento do presidente, que até vídeo oficial gravou para o sobrinho de Edir Macedo.

Após tantos discursos raivosos, com o desemprego crescente e uma pandemia que, a despeito das bravatas, já levou quase 200 mil vidas, o cidadão começa a dar sinais de cansaço.

A disposição para servir de peão em um Fla-Flu que só interessa aos extremos e não colabora para solucionar os desafios diários já não é a mesma.

Faltam pouco menos de dois anos paras as próximas eleições. Antes, Bolsonaro terá de lidar com uma crise econômica de proporções desafiadoras, milhões de desempregados, popularidade em queda e a perspectiva de não ter pela frente um rival ligado à esquerda para servir de espantalho.

A ver se o destino do mito vai emular o do bispo.

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