• Carregando...
Foto: Scott Eisen/Getty Images/AFP
Foto: Scott Eisen/Getty Images/AFP| Foto: AFP

Ainda é cedo, não resta dúvida. Falta praticamente um ano até a eleição presidencial americana. Contudo, é sempre possível fazer análises. Azar de quem ainda não entendeu que elas, as análises, são meras fotografias. E estão muito longe de pretender garantir quem sairá vencedor neste ou naquele outro pleito.

Por exemplo, já é possível costurar a tese de que a personalidade e o discurso divisivo do presidente Donald Trump, embora encantem seus eleitores mais fiéis, afastam os moderados. Justo aqueles fundamentais para a sua vitória em 2016. Pessoas capazes de votar duas vezes em Barack Obama, mas que não se sentiram seduzidas por Hillary Clinton.

Tal cenário foi inclusive endossado ontem (5) com o resultado de uma pesquisa encomendada pelo Financial Times, que aponta para a insatisfação ou o desinteresse dos americanos em relação à condução da economia. Dada a argumentação de Trump a respeito da criação de novos empregos e recordes batidos em sequência por Wall Street — ambos pontos verdadeiros —, só resta mesmo concluir que a forçada de barra do presidente começa a perder viço e desgastar sua imagem.

Entretanto, não há dado mais relevante até o momento, para o resultado das eleições, do que a teimosia dos democratas.

De maneira geral, para além das bolhas em que grassam radicais republicanos, há no país um verdadeiro desprezo pelo presidente. Acima de tudo em estados e cidades “azuis”, onde imperam os democratas, como é o caso de Nova York.

Pois nesses lugares, em que Donald Trump é detestado e os cidadãos dizem almejar a sua saída da Casa Branca o quanto antes, sobeja um sentimento ainda maior: orgulho. Uma disposição incomum para o autoelogio secreto. É como se o sujeito não conseguisse abrir mão de ter a sensação de superioridade moral intacta antes de dormir.

Decerto não se trata de moda nova. Quando da última disputa, foi emblemática a fala da então primeira-dama Michelle Obama: “When they go low, we go high” (algo como “enquanto eles baixam o nível, a gente o mantém alto”), referindo-se aos eleitores de Trump. Nada foi mais desastroso politicamente, porém, do que uma declaração da própria candidata democrata, a senhora Clinton, quando chamou os apoiadores republicanos de “cesta de deploráveis”.

Hillary era uma péssima aposta, mas ainda assim era democrata. Pois os progressistas americanos conseguiram errar duas vezes. Encaminharam uma candidata fraca do ponto de vista da empatia e ainda por cima deixaram de ir às urnas nas praças que contaram para sacramentar a vitória do adversário.

A vantagem para o presidente é que os democratas não parecem ter aprendido a lição.

Pelo contrário, insistem em emplacar a senadora Elizabeth Warren como indicada pelo partido na disputa. Alguém que se encaixa como uma luva nos rótulos habitualmente distribuídos a rodo pelo candidato à reeleição: “radical”, “socialista” e “comunista”. Tolices que causam bocejos em ambas as costas do país, porém assunto sério em seus rincões.

O melhor nome para derrotar Trump é o do ex-vice-presidente Joe Biden, justamente por se tratar de um candidato moderado, capaz de atrair o eleitor alheio aos radicalismos. O problema é que Biden não é capaz de aplacar o ego da esquerda americana. É considerado centrista demais.

O comportamento dos democratas até aqui deveria servir de baliza para o que não deve ser repetido por eleitores moderados mundo afora, caso haja interesse real em retirar o populismo reacionário do poder. A boa notícia é que ainda há tempo.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]