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Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil;Valter Campanato/Agência Brasil; Cleia Viana/Agência Câmara
Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil;Valter Campanato/Agência Brasil; Cleia Viana/Agência Câmara| Foto:

Enfrento a esteira de notícias no meu celular e, para além dessa sequência de tragédias que escancara o nosso descaso pela vida, me chama a atenção o baixo nível das informações que envolvem o governo. Há, inclusive, certa dose de infantilidade. Que o grotesco sobeja, não se discute, mas, acima de tudo, prevalece um comportamento tolo. Uma agressividade proposital, destinada a chocar, como se ainda vivêssemos as recentes eleições.

Por exemplo, um que se esmera em desempenhar esse papel é o chanceler. Dia desses, mais que de repente, eis que Ernesto Araújo surge nas redes sociais tecendo loas ao dito guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho; de lambuja ainda recita a falaciosa narrativa de que o governo pretende estabelecer uma doutrina despida de ideologias.

Já nesta última segunda-feira foi  vez do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, provocar espécie ao desdenhar de Chico Mendes, líder seringueiro assassinado em 1988. Não se sabe ao certo o quanto existe de verdade na mistura de ignorância e prepotência demonstrada pelo ministro durante o programa Roda Viva, mas esse ponto é o de menos.

É o de menos também pensar em criticar o alcance na pirotecnia de Eduardo Bolsonaro e Onyx Lorenzoni quando tentam flexibilizar o porte de armas em aviões, ou as já folclóricas tiradas de Carlos Bolsonaro no Twitter, ou ainda a própria presença de Damares Alves num ministério.

E é o de menos porque foi precisamente essa a aposta da sociedade no último pleito. Houve a repulsa pelo petismo, sem dúvida, mas também houve uma irresponsável sanha da mudança pela mudança. Como se a renovação política per se fosse suficiente para melhorar o debate, a pauta de agendas e a própria administração pública.

Por fim, é o de menos porque o custo dessa aventura já se constitui uma realidade. Pode ser visto tanto nessa série de esquisitices protagonizadas pelo alto escalão do governo quanto pelo temor generalizado de que este não seja capaz de encaminhar todas as reformas necessárias — após tantas bateções de cabeça até aqui, típicas de quem não reúne experiência e em alguns casos condições cognitivas para representar a sociedade em momentos alvissareiros, que dirá com tantos desafios pela frente.

Houve uma época em que grande parte da sociedade acreditou piamente na volta da ditadura caso Jair Bolsonaro fosse eleito. Espantalho eleitoral típico, mas que funcionou para muitos.

Hoje, pelo menos para mim, o medo não recai sobre guinadas ditatoriais ou civilizatórias. Temo apenas que esta nova administração seja ruim. Que, à parte as ilhas Sérgio Moro e Paulo Guedes, estejamos entregues ao discernimento de mentecaptos ávidos por estrelismo e, claro, cliques nas redes sociais.

Que remédio se de fato nos encaminharmos para essa trilha? Será o preço da aventura contratada.

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