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Foto: Luis Fortes / MEC
Foto: Luis Fortes / MEC| Foto:

Os protestos que se sucederam à execução de George Floyd por um policial branco em Minneapolis não ganharam o mundo por acaso. O preconceito de cor faz parte da nossa formação — algo que fica evidente em palavras e expressões que usamos, na ausência de negras e negros em todos os espaços, no nosso ambiente de trabalho e principalmente em postos de chefia. O combate a ele, portanto, deve partir dessa consciência, sem a qual vencê-lo será impossível.

Talvez tenha origem nesse reconhecimento, de que construções históricas nos levam a cometer atos execráveis, um afã quase inconsciente de socorrer quem nos pareça sob o seu jugo.

A intenção pode ser nobre, mas nem sempre alcança o efeito desejado.

Exemplo disso pôde ser verificado recentemente, quando da saída de Carlos Decotelli do comando da Educação após denúncias sobre inconsistências no seu currículo.

É possível que a situação tenha servido como biombo para rancores racistas, mas isso não torna menos alarmantes os fortes indícios de plágio na dissertação de mestrado do ex-futuro-ministro. Tampouco deslegitima a indignação da sociedade após novo percalço na gestão de uma pasta tão crucial.

O argumento levantado pelo próprio Decotelli de que "brancos trabalham com imperfeições em currículo sem incomodar” merece reflexão, mas presta o desserviço de normalizar uma conduta inaceitável.

Cabe traçar um paralelo com um momento vivido pelo professor e jurista Silvio Almeida há duas semanas, quando foi sabatinado no programa Roda Viva.

Tratou-se de um momento histórico porque nem sempre é dada a oportunidade de se expressar a intelectuais negros com a sua projeção e capacidade. Menos ainda de ser questionado por uma bancada moralmente investida e capacitada para argui-lo, como foi o caso.

Durante a entrevista, ao responder sobre o quanto políticas econômicas que pregam um estado menor reforçariam o racismo, Almeida declarou que “ser antirracisita é incompatível com a defesa de políticas de austeridade neste momento”.

A afirmação gerou controvérsia, uma vez que, afora os heterodoxos, não há registro de economistas de ponta que a sustentem. Questionamentos são comuns em debates maduros e democráticos. Novidade foram as tentativas de blindar o professor. De relativizar a sua fala como se ele fosse alguém despreparado para sustentar suas opiniões.

O risco do paternalismo está no selo imposto àqueles que busca proteger.

Destacar condutas ou posicionamentos por meio da cor da pele, de preferências sexuais ou de crenças religiosas abre caminho para que grupos inteiros sejam estigmatizados.

Um prejuízo mais importante do que o regozijo em ser condescendente.

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