As vítimas da falta de liderança, do despreparo e de um discurso tão negacionista quanto criminoso ultrapassam os 70 mil mortos e beiram os 2 milhões de infectados.
Na economia, a agenda de reformas dificilmente terá forças para vencer os apelos populistas que começam a conquistar a opinião pública. Perdeu-se tempo com ruídos desnecessários quando o clima para a construção de consensos era favorável.
Passados 30 dias, a Educação tem novo ministro. É o quarto em 18 meses, após demissões-relâmpago, convites desfeitos em cima do laço e a pior gestão na história da pasta.
Em que pese a maior crise sanitária em 100 anos, a Saúde está sem comando efetivo há 2 meses. Antecessores foram demitidos por se recusarem a aceitar pitacos em decisões que devem observar critérios científicos.
O Meio Ambiente é tocado por alguém que vê na comoção gerada pelo morticínio uma oportunidade para ensejar políticas avessas a tudo o que entidades ambientais defendem.
Lá se vão cinco secretários de Cultura e o chanceler solapa a imagem do país no âmbito internacional.
O combate à corrupção sofre com manobras destinadas a livrar os filhos do mandatário de investigações sobre rachadinhas, lavagem de dinheiro e disseminação de fake news para destruir reputações de jornalistas e adversários políticos.
O presidente afronta a democracia, a ciência, estimula comportamentos que colocam vidas em risco e sucumbe a pressões externas.
Os crimes cometidos por dirigentes petistas não devem ser esquecidos, mas é preciso dizê-lo: se o PT fosse responsável por um fiapo do que estamos testemunhando hoje, o país já estaria em chamas.
Nesse sentido, a pandemia colaborou com o governo. Boa parte de seus críticos atendeu aos apelos de governadores e da comunidade científica em favor do distanciamento social, o que inibiu protestos.
O retorno à normalidade, mesmo sem o anúncio de uma vacina eficaz, somado à recessão econômica, o desemprego e a conscientização de que dezenas de milhares morreram desnecessariamente poderá estimular manifestações.
Os Bolsonaros ficarão marcados por terem conduzido o país ao período mais calamitoso dos pontos de vista ético, estético, civilizatório, democrático e institucional desde o início da Nova República. A pergunta ainda sem resposta, entretanto, é se o eleitor que apertou 17 por repulsa ao 13 continua enxergando na política um jogo de soma-zero, em que os pecados de um grupo absolvem os de outro.
A renúncia ao petismo teve razão de ser. Pela mesma régua, Bolsonaro não merece outro destino.
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