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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil| Foto:

Se existe uma vantagem em poder contar com o ministro Paulo Guedes na equipe de governo, para além da sua sabedoria, experiência e conhecimento adquirido em escolas tarimbadas, esta recai na sua lábia de vendedor. Foi o que depreendi há 8 meses, durante o período eleitoral, assistindo a uma sabatina que contou com sua participação, e atestei ontem, após outra longa entrevista no mesmo formato — ambas para o canal Globonews.

Há no ministro uma gana com frequência inimiga da cortesia, até da civilidade, mas que, por outro lado, convence. Impulsiona sobremaneira os crédulos e pode temperar o mau humor dos céticos. Trocando em miúdos, funciona politicamente, conquanto, na prática, preste um desserviço à sociedade.

Assim acontece pois, quando se trata de economistas falando para ao povo, subsiste um problema central: a maioria das pessoas não os compreende. Pior, evita pautas econômicas. Por outro lado, verdade seja dita, poucos especialistas se esforçam em adotar um vocabulário menos técnico, o que talvez ajudasse a desmistificar o assunto.

Não por acaso, noves fora apoiadores e analistas simpáticos à causa, o desempenho de Guedes na entrevista em agosto último acabou recebendo elogios da opinião pública, mas encontrou críticas importantes por parte de economistas renomados.

Sinto em dizer, embora para muitos seja duro admitir, que o script apresentado ontem não mudou: em grande parte, os comentários do ministro da Economia serviram como desafogo. Um parêntese de otimismo em meio a tantas patinadas por parte do governo. Contudo, incapaz de alterar a realidade.

Não será alardeando o famigerado R$ 1 trilhão — de tão repetido periga alcançar a irrelevância — que a articulação política no Congresso vai começar a funcionar. Menos ainda aventar hipóteses sobre privatizações ou garantir um alto patamar de crescimento em curto espaço de tempo podem desfazer a imagem de que a Petrobras não é independente.

Na verdade, a tarefa de animar as pessoas hoje em dia é ainda mais árdua. É que, agora, tanto o mercado quanto a própria população começam a ficar escaldados. Afinal, o governo já se encaminha para o quinto mês, na prática sétimo, se contarmos com o período de transição. Em outras palavras, vender sonhos é sempre mais fácil do que renovar esperança.

Desde a sua calamitosa aparição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), quando anunciou ter vida fora do ambiente político, a impressão que me dá é a de que Paulo Guedes começa a ficar cansado. Já não foram poucas as vezes em que discursou como quem lava as mãos. Sintomática, a expressão “foi um prazer ter tentado” surgiu em mais de uma ocasião.

Seria irresponsabilidade bancar aqui a pitonisa. Talvez nem mesmo o próprio Guedes tenha clareza se terminará o mandato ou se, farto de levar rasteiras por parte de quem deveria apoiá-lo, pedirá o boné antes da hora.

Todavia, ainda que a postura otimista continue, entremeada por arroubos típicos de quem ainda não entendeu como funciona o jogo político, o tom parece ser outro.

A figura do camelô, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, é um clássico: vende-se de tudo, com lábia e aos berros, para que a sua voz supere o alarido em volta. Afinal, só assim a atenção do freguês será capturada.

Conceitualmente, as naturezas desse ambulante e de um posto de gasolina que oferece toda sorte de serviços são parecidas. A diferença é que o primeiro luta mais para fazer negócios e enfrenta adversidades nem sempre previsíveis. O cansaço é natural.

Para o bem do país, que o aparente desânimo do ministro não passe de mera impressão.

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