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COMO FINDAR O ETERNO TRABALHO DE DECEPAR AS CABEÇAS DA HIDRA?
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(A propósito das esperanças na revisão do passado)

 

  “Eu não sei o que quero
Mas eu sei que eu vou conseguir”
(Garotos Podres)

 

 

 A operação “Lava Jato” tornou-se a esperança de passar o pretérito do Brasil a limpo. É como se o(s) processo(s) judicial(ais) se tornasse(um) um ritual de purificação. Depois da prisão dos responsáveis pelo saque aos cofres públicos, virá a boa nova: a honestidade dos políticos e do povo, não porque se tonarão pessoas melhores, mas, porque temerão a cadeia.

Vive-se um misto de adoração, euforia e furor a cada prisão, a cada nova revelação, a cada delação. Daí segue-se o espasmo verborrágico em redes sociais: a forma contemporânea da malhação ao Judas.

As instituições que levam adiante a “Lava Jato” vêm cumprindo sua função constitucional de tentar preservar a probidade. Mas, supor que elas cumprirão um papel messiânico é um grave equívoco.

A comparação entre a operação “Lava Jato” e a operação “Mãos Limpas” (realizada na Itália, na década de 90) vem sendo feita de maneira recorrente. Sim, elas devem ser comparadas para constatar que, passados alguns anos, a Itália está, exatamente, na mesma posição que o Brasil no ranking da corrupção.

A comparação é um tanto reducionista, mas, serve para a reflexão. Não basta acreditar que instituições encarregadas de avaliar o passado conseguirão, sozinhas, mudar o presente e o futuro.

É que sem a mudança cultural da geração atual e da futura, possibilitada por reformas institucionais (ex: fim do financiamento de campanha por empresas, ampliação e maior eficácia dos controles republicanos da Administração Pública; abertura dos partidos políticos, etc.), novos episódios de corrupção surgirão.

Realizar investigações e promover punições acreditando que, só com isso, não mais haverá corrupção é o mesmo que crer que a cabeça da Hidra não mais se duplicará. Enquanto a natureza da Hidra (de duplicar cabeças) não se modificar, mais cabeças surgirão.

E não custa lembrar que somente Hércules (filho de Zeus) foi capaz de matá-la. Isso significa que homens comuns não a destruirão, embora seja louvável e necessário que continuem decepando cabeças.

Isso leva a três providências: 1) incorporar, no dia-a-dia, boas práticas, tais como: pagar todos os impostos, respeitar os direitos trabalhistas, prestar os serviços na quantidade e na qualidade contratada, respeitar a sinalização de trânsito, etc (isto é o que nos diferenciará das cabeças da Hidra); 2) insistir em mudanças institucionais que possibilitem a moralidade do Governo, criando-se instrumentos de acesso, controle e participação na política, abertos a todas as pessoas, de forma que a fragmentação do poder decisório desestimule a corrupção; ou seja, são necessárias instituições que garantam a probidade administrativa, independentemente das pessoas que as ocupem serem santas (isto não significa, necessariamente, aumento da estrutura do Estado); 3)  educar as gerações futuras não só com os exemplos (da prática 1), não só para que entendam e defendam as instituições (da prática 2), mas, para que elas mesmas incorporem nas suas vidas valores como a honestidade, o respeito às instituições democráticas, à diversidade e ao outro (esta é a educação transformadora, que derrotará a Hidra);

Eis o legado que poderemos deixar para as gerações futuras, caso a hipocrisia, a falta de autocrítica e o transe do momento não nos leve ao eterno retorno do mesmo.

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