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"Recomeçar", primeiro trabalho solo de Tim Bernardes
"Recomeçar", primeiro trabalho solo de Tim Bernardes| Foto:

Músico, compositor e multi-instrumentista, Tim Bernardes vem a Curitiba para sessão dupla do show “Recomeçar”, seu primeiro trabalho solo, na sexta-feira (27), no Teatro Paiol. O guitarrista e vocalista da banda O Terno deu uma entrevista exclusiva para o Música Urbana, falando de sua origem musical, influências, o processo de criação do disco solo, o “indie” e muito mais.

Você é um multi-instrumentista, posso te chamar assim? Inclusive pelo que eu sei, você gravou todos os instrumentos desse disco, é isso mesmo?

É, acho que sim! Praticamente na verdade, porque eu gravei todos os instrumentos de base – violão, guitarra, baixo, teclado, bateria – mas depois fiz arranjo pra cordas, sopros e harpas. Tirando essa parte orquestrada, isso não fui eu.

Você está com quantos anos?

Eu tenho 26.

Bem jovem! Como é que a música te encontrou ou você encontrou a música? Que você viu que tinha que ser isso da vida?

Sou filho de músico (o pai de Tim Bernardes é Maurício Pereira, da banda Os Mulheres Negras, ao lado de André Abujamra), então cresci em um ambiente bem musical, gostava muito desde pequeno. Minha mãe brinca que eu falei “música” antes de “mamãe” e “papai”, que ela ficou brava que não foi “mamãe” minha primeira palavra. Eu já gostava desde pequeno, aí meus pais me colocaram em aula de música, com seis anos. Acho que chegou o momento de quinze, dezesseis anos, que eu comecei a fazer banda e entendi que eu queria fazer aquilo, que eu podia. Chegou aquele momento em que eu comecei a pensar como um músico mesmo.

Você buscou alguma formação musical?

Sim. Eu fiz aula de música dos seis aos 17, com 17 eu entrei em faculdade de música. Me formei em música.

Como foi a influência do seu pai no teu universo musical?

Ele sempre incentivou a música e meu gosto por música, e sempre com o cuidado de mostrar coisas diferentes pra mim, mas sem querer valorar nada assim, sabe? Falar “esse tipo de música é legal, esse tipo não é”. De pequeno, a gente ouvia muito em casa Beatles, Rolling Stones, Jorge Ben, Caetano, Mutantes, coisas assim. Muitas coisas que eu ia gostando, ele ia me dando para ouvir mais. Mas eu acho que de adolescente assim, minha formação foi diferente da dele. Ele nunca se meteu muito, acho que de propósito, até. Então ele ouviu muito jazz quando tinha minha idade, eu já sou muito mais pro rock and roll, pro folk, pra música brasileira. Então ele sempre pôs pilha mas com aquela distância, porque o barato é a gente desenvolver nossa própria “autoralidade”.

E hoje já inverteu? Digamos assim, teve uma fase de perguntas para ele. Hoje ele já pergunta pra você sobre música?

Já tem um tempo que há uma troca. É natural que eu fique curioso, pergunte coisas pra ele, ele também fica curioso do meu contato com a minha época, com bandas novas, com pensar música hoje. Ele vai lançar um disco agora esse ano também, me pediu um monte de palpite.

Como é que ficou a tua carreira solo em relação à banda? Você não cabia mais só dentro d’O Terno, digamos assim?

Eu tinha essa série de canções que já tinha guardadas, que não faziam tanto sentido na banda quanto num trabalho solo em algum momento. Mas não era uma prioridade na época que compus as músicas. Então eu e os meninos, a gente já sabia que uma hora eu podia parar por causa desse disco, mas também sabia que não seria uma interrupção d’O Terno, que seria um projeto que eu teceria simultaneamente. Assim como eles também tem banda que tocam fora d’O Terno. Pra mim, tá sendo muito legal, porque é um outro lado que eu gosto, mais solitário, pessoal, íntimo, e mais minimalista também. Os shows são sozinhos, muito focado na voz. Não apenas como um instrumentista ou guitarrista, que é um lado que aparece mais n’O Terno. Então eu posso mostrar vários lados assim, tendo expandido pra dois projetos. Aí vou administrando: uma semana um show meu, uma semana d’O Terno, vou organizando, estou gravando com O Terno enquanto estou viajando com o meu, e vice-versa. Minha vontade é, se eu puder, conciliar as duas coisas, eu fico satisfeito de formas diferentes em cada um dos projetos.

Tim faz sessão dupla do show nesta sexta


Percebi isso que você falou, que você conseguiu uma intimidade maior com esse solo.

A intimidade que veio, eu não sabia direito como poderia ser a reação. Porque eram músicas tão íntimas, pessoais, até por isso enrolei tanto pra gravar, porque eu não sabia direito como o público receberia isso. Eram músicas que compus e que não mostrava pra ninguém. Não sabia direito como lançar, o que eu ia fazer, num momento em que eu estava com O Terno, de muita exploração sonora, então fui guardando pra ver se, com o tempo, elas sobreviveriam. Se eu ia continuar achando bonito. E eu continuei gostando. E depois do último disco d’O Terno, que tem coisas mais emocionais, eu vi também como as pessoas se ligam a isso. Quando você está falando uma coisa muito sua, mas que até por isso, a pessoa consegue se enxergar muito de perto. De alguma forma, ele é mais universal por ser mais específico e mais íntimo. E acho que isso foi uma coisa que muita gente se ligou, enxergou.

Quem é seu público hoje? Tanto no solo quanto na banda?

Ele tem uma intersecção muito semelhante. É o meu primeiro disco solo, então o público de cara veio de um momento que O Terno já tinha três discos, foi muito bacana. Tem um público muito variado, desde de gente que cresceu com a gente, sabe? O primeiro disco eu tinha 17 anos, e a gente foi crescendo junto… Tem gente mais jovem. O público d’O Terno, a maioria, é entre 15 e 35 anos, um público jovem. Mas por ter influências de uma sonoridade retrô, uma série de coisas ligadas à música mesmo, tem um público mais velho também, 40, 50, 60… um público bem amplo e um perfil levemente alternativo. Muita gente que tem a ver com alternativo, como o indie. O meu disco vem daí, o publico migrou rapidamente d’O Terno, mas ele expandiu um pouco mais, talvez, por ser temas mais universais. Um pouquinho menos “freak” e mais emocional. Então tem gente mais velha e gente fora de uma “bolha indie”. Uma pessoa que não vai só se identificar com o indie. É um público em formação porque é o primeiro disco.

A questão do “ser indie ou não ser indie”. Você hoje vê o teu trabalho como indie? Você se considera “indie raiz”, digamos assim? Ou você já pulou essa fase, teu som já atingiu outras camadas, está migrando do indie?
(Risos) Eu acho que “indie” tem muitos sentidos, né. “Indie” no sentido estético, eu acho que meu som é. No sentido assim de quando o indie quer dizer “independente”, de você não ter que funcionar dentro de padrões fonográficos específicos. Você buscar qual que é a sua onda, e a sua onda ser a criatividade e a sua pessoalidade, sua “autoralidade”. Nesse sentido eu acho que eu sou indie. Aquele sentido de mais independente, de mais underground, eu já não me encaixo. Existe um underground com muita gente e um mainstream com pouca gente dentro da cena musical. No sentido d’O Terno, ele está nesse “limbo” que é esse meio, que de uns anos pra cá começaram a ter bandas e artistas que estão explorando esse meio. Vendo o indie, tendo na estética uma coisa própria. Não tão mainstream, não são gigantes, mas também não são pequenos, sabe? Tem gente que chama de “midstream”, sei lá. Mas é um terreno que não foi capinado ainda. É meio por aí que eu e O Ternos estamos.

Como você imagina teu som daqui vinte anos? Tua carreira daqui 20 anos? O que você projeta?

Difícil pensar. Daqui 20 anos eu vou ter 46 anos… Minha vontade é seguir compondo e desenvolvendo. Eu sinto que a coisa por um lado vai se aprimorando, mas do outro lado vai se variando. Eu vou achando jeitos diferentes de falar, de expressar minhas coisas e a cada fase da minha vida, eu tento retratar isso de alguma forma, meus pensamentos, tudo o mais. Então eu me vejo fazendo o que eu faço hoje, que é compondo discos e produzindo eles, seja sozinho, seja com a banda. Eu imagino que, talvez, num ritmo um pouco menos frenético, que assim, por estar começando, a gente lança disco com bastante frequência: eu lancei d’O Terno em 2016, esse meu em 2017, agora em 2018 já estamos gravando mais coisa com O Terno. Então é um ritmo bem de estar em evidência, lançando coisas, novidade o tempo inteiro, mas eu sinto que seria saudável fazer um intervalo entre um disco e outro. A minha vontade é compor e gravar essas coisas, e tentar melhorar como autor e como todas as outras coisas que eu faço, até eu ficar velho e morrer.

Você comentou sobre o que você escutava na época de jovem com seu pai. E hoje, quem você escuta?

Desde essas coisas que eu sempre gostei de escutar, da minha formação – Clube da Esquina, Tropicalismo, Beatles. Mas eu ouço muito quem tá fazendo música agora, o que a galera tá viajando agora e que me toca. Então eu ouço muito a cena indie de fora. Porque lá fora o indie não é uma coisa underground necessariamente. Que se sustente, embora não seja gigantesco. Fleet Foxes é uma banda que eu gosto, Tame Impala, Mac Demarco. Eu gosto dessas bandas que tenham também pesquisa estética, de achar uma sonoridade, uma personalidade. Que conseguem misturar estética com conteúdo, sabe? A experiência, ou a maluquice com o popular.

Você conhece Curitiba?

Conheço de tocar. Já fiquei um dia a mais, fui no Centro beber um pouco, coisas assim, sabe? Mas nunca fiquei um tempo em Curitiba.

E a música curitibana? Você conhece as bandas locais, a cena local?

Um pouco, nesse sentido de trocar ideia, conhecer. A gente já cruzou com o pessoal do Trem Fantasma, que é uma banda que eu acho interessante daí, o Audac. Algumas bandas que a gente tocou junto com O Terno, como Ruído/mm. Conheci A Banda Mais Bonita da Cidade, Trobone de Frutas…

São alguns ícones da cena local. E você vai ter uma oportunidade, além da passagem com o show solo, você volta daqui alguns dias pro festival Coolritiba, com O Terno. Vão tocar várias bandas locais. Do show solo, especificamente, pode adiantar alguma coisa? Qual tua expectativa?

Quando eu pensei esse show solo, eu queria fazer ele não ficar refém do disco. Assim como, enquanto eu tava com O Terno fazendo o disco, eu queria fazer o disco que eu ia gravar as coisas sozinho e que eu ia orquestrar, um disco bem caprichadão, que fosse pra esse minimalismo, mas pra uma coisa grandiosa de vez em quando, de arranjo e tudo mais. Mas eu tinha muita vontade de fazer um show de compositor, canções cruas que eu mesmo compus. Esse show é isso: eu mostro não só as músicas todas do disco como mostro algumas músicas que eu compus pr’O Terno, como eu fazia elas no meu quarto, como eu compus. Que versões de outros artistas que eu gosto que combinavam. O clima do show é esse: eu com um piano de cauda e minha guitarra, meu violão, um clima de quarto. Até a iluminação é meio assim, com luminárias. Eu achei que isso passava mais o clima de solidão, do vazio que tem no disco do que eu chegar pra uma turma enorme e ficar preso a reproduzir o disco. E eu tenho gostado bastante de fazer assim.

Você tenta encontrar a intimidade com o teu público.

Ainda mais direto, assim, mais “um com um”.

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