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As entrevistas e o vestibulando
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Costumo ler atentamente, selecionar, recortar e reproduzir as entrevistas publicadas nos jornais e revistas para compartilhar esse abundante material com os meus alunos de redação; sabe a razão? Elas evidenciam temas, mostram a objetividade das perguntas, a precisão ou esvaziamento das respostas e ressaltam uma composição excelente para treinar duas modalidades de texto, costumeiramente presentes nas avaliações dos vestibulares: o resumo e a transposição lingüística.

Arquivo cel.          Doralice    Araújo
Meus alunos leem as entrevistas e depois exercitam o resumo e as transposições linguísticas – Encontros Marcados com a Redação, junho de 2009

Resumos exigem excelente compreensão do texto examinado; resumir é fazer uma espécie de rastreamento objetivo da idéia principal, das secundárias, do tema e também da fonte, esta última aqui entendida como quem escreveu o texto examinado, data e menção de onde foi publicado. Esta era, entretanto, uma preocupação, infelizmente, pouco exigida há anos atrás nas escolas, mas de vital importância para quem pretende seguir uma carreira acadêmica. Oferecer dados da autoria é respeitar a criação intelectual de uma pessoa.

As transposições linguísticas exigem, além das características acima, o poder de ajuste da linguagem ao que se leu, por exemplo, nas entrevistas, uma vez que nem sempre o entrevistado é uma pessoa com a mesma condição de autonomia vocabular do leitor. Os textos caracterizados como entrevistas e aqueles trechos entremeados por diálogos diretos ou indiretos, igualmente presentes nas narrativas caem como uma luva para tais propostas – e quem sabe fazer resumos acerta na boa a fazer as transposições linguísticas comumente solicitadas.

Leia e confira; elas estão ai, diariamente – As reportagens que incluem depoimentos dos entrevistados mostram ao leitor um exemplo da fusão estabelecida entre o resumo de uma conversa investigativa e a inclusão das declarações dos personagens que ilustram o texto. Eu corrijo muitas composições acadêmicas e sei o quanto vale a habilidade na elaboração de resumos, resenhas, monografias, dissertações e teses na rotina das avaliações universitárias. Vestibulando, portanto, prepare-se. Universitários, infelizmente, exibem acentuada carência na redação dos seus textos acadêmicos – e aqui vai a recomendação incisiva: não deixe de exercitar todos os modelos de textos, uma vez que a soberania da redação na sua língua de origem é permanente nas relações dinâmicas do conhecimento, tanto no mundo do trabalho, quanto nas atividades universitárias.

Quer alguns exemplos?

Comecemos pela entrevista feita pelo repórter Euclides Lucas Garcia com o professor Ricardo Oliveira, do Departamento de Ciência Política, da UFPR (GP, 3 de junho) transcrita integralmente abaixo. Ela faz parte da reportagem Inquérito contra Carli vai para a 1ª instância(GP, 3 de junho); examine-a atentamente – e depois, se estiver disposto a treinar a escrita imprimia a minha proposta de redação e exercite a composição de resumo e transposiçao linguística.

Como o senhor avalia o pedido de renúncia de Carli Filho?

A renúncia foi um gesto pensado e calculado. Foi a melhor alternativa, porque poupa o parlamentar e a família dele de um desgaste politico. A pressão da opinião pública estava muito forte. Dessa maneira, ele preserva o futuro político já que poderá se eleger nas próximas eleições. Foi um jogo de cena, que é a etiqueta do Parlamento. Não há nunca uma derrota final. O Parlamento funciona assim. Todos são obrigados, por cortesia, a tratar bem seus pares seja na vitoria ou na derrota. É um mundo das aparências. A renúncia poupa os deputados e a própria Assembleia de um desgaste maior proporcionado pela sociedade. O que se viu dentro da Assembleia foi uma escassa discussão sobre o fato de um parlamentar dirigir com a carteira vencida e se envolver num acidente grave com duas vítimas fatais. O que mais se discutiu em plenário foi o mérito da renúncia

O que significou para os demais deputados a renúncia de Carli Filho?

Foi um alívio. A situação estava contagiando todos eles (parlamentares). Começou quando a imprensa começou a divulgar a situação da carteira de habilitação do Carli Filho, e depois do pai (o prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli) e do tio (o deputado Plauto Miró). E a partir daí começou a contaminar o partido dele (PSB) e em seguida quase a metade dos deputados. O que se viu foi que muitos daqueles que julgariam Carli Filho tinham teto de vidro, ou seja, estavam em situação semelhante. Num gesto calculado, a renúncia foi a melhor alternativa tanto para Carli Filho quanto para os demais deputados. Poupou o parlamentar, a família e a própria Assembleia de um desgaste politico enorme.

De certa forma, então, o senhor acha que o corporativismo se sobrepôs a ética?

Sem dúvida. Basta ver que ao longo dos anos a Mesa Executiva foi composta por unanimidade. Isso é muito ruim porque mostra que não há oposição, fiscalização e debates. Não há desgaste político nenhum. É o corporativismo se sobrepondo à ética e ao papel do deputado.

Quer treinar a escrita?– Examine parte do texto da reportagem Paraná registra -5,4°C na manhã mais fria do ano, de Célio Yano(GP, 3 de junho) e elabore um resumo; limite-se a 10 linhas,se utilizar o caderno ou aos 500 caracteres, caso opte pela caixinha destinada aos comentários.

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Geada mudou a paisagem do Jardim Botânico, um dos principais pontos turísticos de Curitiba

“O frio voltou a bater recordes na manhã desta quarta-feira (3) no estado Paraná, segundo informações do Instituto Tecnológico Simepar. A massa de ar polar que vem da região da Argentina e derruba as temperaturas no Sul do país desde a segunda-feira (1º) fez os termômetros caírem para a marca dos -5,4°C na estação meteorológica de Entre Rios, distrito rural de Guarapuava, na região Central do Paraná. Foi o menor índice registrado no estado desde junho de 2008, quando General Carneiro enfrentou -5,7°C.
(…)

“Se o tempo estivesse úmido e houvesse instabilidade, com essas temperaturas haveria possibilidade até de neve no Paraná”, afirma Cezar Gonçalves Duquia, meteorologista do Simepar. Ele explica que a baixa umidade, por outro lado, deixou uma sensação térmica de ainda mais frio. “Em Pinhais, os moradores podem ter tido a sensação de -7,2°C e em Entre Rios de -8,5°C. Em Curitiba, calculamos uma sensação térmica de -2,9°C”, diz.

Segundo Duquia, em todas as regiões do estado houve formação de geada, com menos intensidade no litoral e em alguns pontos do Norte e Noroeste próximos à divisa com o estado de São Paulo. “A previsão era que o frio fosse mais intenso justamente nesta quarta-feira. A partir de quinta-feira (4), com o afastamento da massa de ar polar, as temperaturas começam a subir gradativamente”, afirma o meteorologista.”

Até a próxima!

Serviço: continuo com inscrições abertas aos meus Encontros Marcados com a Redação; interessados devem enviar e-mail para casadalinguagem@uol.com.br

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