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A Folha de S.Paulo, meu querido leitor, mostra em manchete nesta segunda-feira que o aluno paulista concluinte do ensino médio expressa conhecimentos inerentes à oitava série do ensino fundamental. Para mim, nenhuma surpresa , pois a realidade aqui também evidencia esse resultado– e você ficou surpreso? Há mais de 15 anos que esta revelação vai de encontro à defasagem entre os conteúdos escolares anunciados e a aprendizagem real. Recebo alunos de toda esta querida Curitiba e não é sem motivo que seus pais os levam até a mim para melhorar suas condições de leitura e escrita em língua portuguesa.

Ensino fraco e mau X ensino forte e bom

Identificar pertinências, eliminar superficialidades e incluir os que estão ausentes são algumas medidas de urgência, mas é preciso fazer uma costura geral entre essas necessidades, feita por especialistas realmente comprometidos com o ensino, além, é claro, de uma ampla revisão sobre as condições de trabalho oferecidas aos colegas professores e o papel do Estado nessa situação de urgência e de tristeza de resultados. Reformas são necessárias, mas o que temos são remendos educacionais, que deixam todo o resto muito vulnerável; afinal, quando o assunto é educação dos nossos filhos a prioridade deve ser máxima – além de merecer discussão , cobrança e estratégias de solução entre os envolvidos.

Leia o que diz o jornal

Quase a metade dos estudantes do Estado de São Paulo acaba o ensino médio (antigo 2º grau ou colegial) com conhecimentos de escrita e leitura esperados para um aluno de oitava série. O resultado aparece em dados inéditos do último Saeb, exame de avaliação de aprendizagem. Nas escolas públicas, a situação é ainda mais dramática.

Ou seja, eles não conseguem, por exemplo, compreender o efeito de humor provocado por ambigüidade de palavras ou reconhecer diferentes opiniões em um mesmo texto.
(FSP,Cotidiano,1º /10)

O que é preciso?

1– Equiparar conteúdos do ensino fundamental e médio com as exigências dos vestibulares, em programa único, nacional, sem subtração alguma, tanto para universidades públicas quanto particulares, coibindo desse modo a famosa facilitação de ingresso ao ensino superior, especialmente nas instituições particulares, sempre ávidas por novos alunos e estes famintos por facilitações à entrada do processo.

2-Fiscalizar exemplarmente as instituições escolares de ensino médio e manter idêntico rigor com as que oferecem a porteira quase aberta à ocasião dos vestibulares, estabelecendo neste ponto a manutenção de um procedimento assentado no rigor e atenção às bases da formação escolar do aluno e suas possibilidades reais.

Maior participação dos envolvidos

Para que as soluções aconteçam será preciso que, especialmente os pais e responsáveis por milhares de estudantes na escola brasileira tomem à frente essa cobrança, que é justa, necessária e urgente. Conferir o programa de conteúdo escolar, checar se está realmente sendo oferecido aos alunos, olhar frequentemente cadernos, apostilas, examinar-lhes as provas e ter um mínimo de controle, afinal. À escola entregamos nossos filhos para que aprendam os conteúdos escolares, mas se esta não atende ao encargo e mesmo assim aufere certificado de conclusão do ensino fundamental ou médio aos nossos filhos é porque alguma coisa vai mal. Estamos quietos demais, esta é a verdade.

Quem quer vai lá!

Quase no final do mês de junho fui tomada por um mal –estar materno: minha filha, da 7ª série, estava marcada para ficar em recuperação em matemática- e até então eu não fora avisada pela escola. O único documento que comprovava este perigo era uma nota: 1,9 numa prova que valia 9.0 pontos. Fui à escola e pedi para ver os objetivos dos conteúdos naquele bimestre. Pedi com veemência para me localizarem nisso. Onde estava escrito? No caderno? Na agenda? Na apostila? Em folha solta? Onde, afinal? Não estava escrito em lugar nenhum.

O resultado dessa cobrança chegou dias depois através da agenda: um folheto contendo os objetivos do programa escolar de todas as séries. Fiz a sugestão do folheto; a escola apoiou e todos os pais receberam um informe discriminando os conteúdos do bimestre. Com a lista desses itens nas mãos, de preferência na primeira folha do caderno do aluno, a família tem maiores possibilidades de acompanhar e compartilhar responsabilidades.

O que os pais devem fazer?

1– Exigir uma lista dos conteúdos de todas as disciplinas – e acompanhar o alcance desses itens checando os cadernos das crianças, se possível durante a semana. Assumir o papel de fiscal, sim, afinal se esse produto é anunciado todos têm o direito de conferir, na prática, se realmente foram trabalhados em sala de aula.

2-Ir às reuniões promovidas pela escola e exigir explicações quando os conteúdos não forem dados. Reposição de aulas e atividades extras são instrumentos de ajuste escolar. É preciso contar com eles quando a família percebe que seus filhos tiveram conteúdos subtraídos à ocasião das greves, dias facultativos ou qualquer interrupção no calendário escolar das nossas crianças e jovens.

3-Participar mais da vida da escolar. Reuniões entre pais e professores geralmente são bem intencionadas, mas na prática não funcionam pelo baixo nível de freqüência ou porque são mal conduzidas. É um momento de encontro entre aqueles que regem a vida escolar dos nossos filhos, mas não parecem nada com isso. Na escola da minha filha, o diretor fala sem parar e nos faz ver alguns vídeos para nos ensinar algum ponto que ele vê falho na conduta dos pais dos alunos. Quando acaba o filme o tempo já tarda e a vida externa nos chama.

4- Cobrar do Estado a responsabilidade com os custos do ensino público e exercer, assim, o papel que nos cabe como cidadão responsável pelos destinos deste país, atordoado com práticas de vilanias ininterruptas, mau emprego das verbas públicas e distribuição desigual de oportunidades.

Algumas perguntas aos pais dos escolares

Seu(s) filho(s) consegue ler e escrever com desenvoltura?

Você está satisfeito com a escola brasileira?

Qual a sua contribuição efetiva para cobrar metas no ensino escolar?

Você costuma ir às reuniões na escola? Qual é a sua postura diante do que ouve?

Você dispõe de uma lista com os conteúdos de cada disciplina constante do currículo escolar do seu(s) filho(s)?

O que acha de nos mobilizarmos para obtenção dessa lista, antes que o terceiro bimestre acabe?

Sem rigor e maior congruência entre os conteúdos veiculados na escola de ensino médio e o que efetivamente é cobrado dos alunos não apenas nos vestibulares, mas na também na vida prática o resultado da pesquisa anunciada pela FSP continuará coberto de razão.As soluções, meu querido leitor, só acontecerão se na condição de adultos responsáveis fizermos frente diariamente para que aconteçam.É preciso agir- e logo, principalmente porque logo, logo as candidaturas eleitorais ganham força e aquela cantilena de palanque retornará em acelerado movimento do diz que eu faço e mando e arrebento, mas na prática a toada é a mesma.

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