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Interesses educativos, cliques interativos e alternativas
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Quando eu ainda era estudante do que hoje equivale ao fim do ensino fundamental tirei zero em uma prova de Matemática, o que comprometeu imediatamente o meu resultado no boletim escolar. Fiquei apavorada, porque na minha casa o tempo escolar sempre foi coisa muito séria – e a manda chuva da minha mãe não brincava na função materna de orientar e disciplinar aos estudos.

O que eu fiz quando esse dia aconteceu? Pode rir, leitor. Fingi um mal- estar no último dia combinado para levar o boletim assinado pelo responsável. Armei um verdadeiro teatrinho: fiquei na cama, inventei dor de cabeça, garganta inflamada e uma tonteira infinita. Pensava assim adiar o sofrimento e a cara de tacho e de condenada diante da mãe professora, mas o acaso justiceiro chegou e ajudou a fazer o desfecho dessa novela comum nos lares: logo depois do almoço uma colega de turma e vizinha, ao constatar minha ausência na sala de aula, passou em casa com um recado da secretaria do Colégio Estadual Augusto Meira e adivinhe quem atendeu à porta?

reprodução

O repeteco – Com a minha filha também já aconteceu o mesmo – e certamente com os filhos de muitos leitores. Deficiências em cálculos, inabilidades e indisposição aos desafios da matemática parece ser uma herança genética na minha pequena descendência, mas nada que não se possa entender e levar na maciota objetiva. Habilidade, empatia e experiência para tratar do tema eu reúno, mas não consegui deixar de lado a decepção quando avistei o sucesso de um bimestre escolar ficar comprometido por resultados medíocres em matemática e física. O boletim da escola é um símbolo que mais tarde vira currículo e avança na vida acadêmica e profissional crucificando ou abrindo portas, concorda comigo? É uma marca fria, nem sempre representativa das nossas potencialidades, mas que guarda alta temperatura ou resfriamento na hora dos diversos jogos competitivos na sociedade. Contradição lamentável.

Jogos de antigamente e de hoje – Lá no meu tempo de estudante minha mãe teve muita dificuldade para arranjar uma medida disciplinar e educativa para mim. Não havia nada que eu gostasse mais do que tudo no mundo, porque eu tinha muitos interesses na adolescência – coleção de selos e cartões postais, muitos livros para ler, uma caixa de bordados, meus discos de vinil, minhas fitas cassete, a redação no diário, o caderno de poemas e outro de letras de músicas do Chico Buarque e de sucessos dos maiorais da bossa-nova e estrelas da MPB. Diferente da minha filha que adora o convívio quase ininterrupto com quatro grandes conexões: o computador, o fone de ouvido acoplado ao celular, os filmes e o The Sims, um jogo de simulação espetacular.

Nos jogos de interesses educativos – aqui entendidos como ações familiares ou escolares que visem educar acertadamente – os pais e escola de hoje dispõem de muitas ferramentas para orientar, redirecionar seus pupilos e se, necessário até punir diante de um escorregão por negligência, falta de boas aulas ou da vadiagem. Num clique as escolas acham o e-mail dos pais e mandam via internet o rosário indutor das lágrimas ou a vida escolar do sucesso bimestral; o fornecimento de senhas para que os responsáveis possam igualmente monitorar a programação e o resultado das atividades está ao alcance dos pais e responsáveis. Excelente.

Cliques interativos – Eu gosto da modernidade, do avanço e das possibilidades interativas, embora ainda raramente disponíveis nas escolas públicas. Nossos pais- e os meus principalmente por serem do outro século! – ficariam espantados com a possibilidade que eu tenho de interagir rapidamente com a escola, além de pegar e guardar por algum tempo comigo os filmes em dvd ou o fone de ouvido do celular da minha filha e olhar bem nos olhos dela e dizer que quero ajudá-la, assim, a encontrar o ponto de equilíbrio e priorizar, mesmo que por indução, mais tempo aos exercícios de matemática e de física, uma vez que as questões do Enem e dos vestibulares concorridos são interdisciplinares.

Eficazmente agindo – Sem a agulha do meu aparelho de som nenhum disco de vinil conseguiria tocar, sem o cabo do gravador ou sem pilhas para o rádio minha mãe tinha como fazer o meu tempo render mais e me forçar a exercitar na resolução das equações, dos polinômios e outros itens da matemática, mas os tempos eram outros e bastou apenas o seu olhar triste, decepcionado e ao mesmo tempo um silêncio reprovador para que eu tomasse tino e tento na vida escolar no bimestre seguinte. Outros tempos, outros jogos de interesses, outros cliques interativos entre pessoas que de fato trocam experiências reflexivas e de amor incondicional.

Dia 29/11 vem ai! – A primeira fase do vestibular da UFPR, que reúne a maior parte dos meus alunos, costuma, em novembro, afastá-los de mim e das propostas de redação, porque eles agora só têm cabeça para revisar os conhecimentos gerais, interdisciplinares, mas é comum ouvir aqui e ali: ” Nossa perdi tempo demais e não liguei pros estudos na época do colégio, quando eu tinha tempo e não sabia usar.” – e você, leitor, já ouviu algo assim, exatamente às vesperas dos vestibulares?

Felipe Lima

Sugestões para ampliar direta ou indiretamente o tema de hoje

>Assista: O Diário de uma babá – a simpática Annie Braddock (Scarlett Johansson) é uma jovem que foi contratada para ser babá do filho de um casal de pais ausentes, cujo casamento está abalado. A jovem ficará ocupada demais, ouvindo aflições matrimoniais dos patrões, além de ter de cuidar de uma criança mimada e carente de atenção verdadeira.- O roteiro é óbvio, mas interessante, evoca reflexões. Vá por mim.

>Acompanhe a notícia se Dona Canô, mãe de Caetano Veloso, conseguirá fazer o seu pedido de desculpas pelo destempero verbal dirigido ao presidente Lula. Você acha que uma pessoa, qualquer pessoa pode sair por ai, atacando verbalmente e espezinhando aos demais?

>Leia Fim à obsolescência, de Bernt Entschev e O manuscrito, de Miguel Sanches Neto, na GP de hoje. Eu gostei demais desses textos e a ilustração do Felipe Lima está uma beleza, concorda comigo?

Participe mais; conte uma experiência da sua vida estudantil, um fato curioso que tenha envolvido seus pais e os resultados escolares. Relato breve e com abundância reflexiva vale como um flagrante da vida real, do cotidiano de todos nós.

Até a próxima!

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