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Enquanto escrevo este texto sei que uma criança pode estar sendo abusada, uma mulher está sendo estuprada e uma mulher esta sendo vítima de violência doméstica. A pergunta que não pode calar … onde erramos … que seres estamos criando …

A sociedade anda invertendo seus valores, é comum ouvir … o que fazia nesta hora na rua… foi baleado porque estava na rua a noite… foi estuprada porque usava roupa indecorosa … foi agredido porque é gay ….ah que verdade se não fossem as vítimas não haveria violência.

Cômoda estas afirmações, uma forma fácil de omitir pensar e ver de frente uma sociedade doente e sem valores morais que a norteie, uma sociedade em que estamos criando pequenos delinquentes sem limites e sem disciplina entre certo e errado, onde ser esperto, levar vantagem é o que conta. Tudo pode e tudo é permitido.

Esta semana fomos acordados de nosso sono hipnótico com a notícia de um estupro coletivo com uma menor de 16 anos ( não importa poderia ser maior, ter 46 ou mesmo 70 anos), várias versões estão sendo apresentadas, foi estupro, foi sexo grupal, foi consentido, não importa de qualquer forma ela foi estuprada sim no momento em que violaram a intimidade e jogaram na internet, retiraram dela o direito a sua privacidade. Escrevo sem julgamentos, pois a verdade sempre terá três versões, a minha, a do outro e a real.

O que assistimos nestes casos é sempre a mulher a vítima vilã da situação, da  covardia, pois vai carregar além das marcas no corpo as piores marcas que serão as da alma, do psiquismo, vai carregar a invasão não desejada de sua intimidade, a quebra do seu sagrado direito de oferecer seu corpo a quem deseja e não a quem a deseja e ainda vai carregar a culpa de acreditar ser a causadora da situação.

No consultório onde as dores são colocadas sobre a mesa é que percebemos que esta dor deixa marcado a ferro e fogo os seus futuros relacionamentos.

Lembro-me de alguns casos atendidos, quando esta dor é posta a trabalho, o quanto esta ferida sangra e gangrena a alma e muitas vezes sem acolhida da família e dos profissionais que atendem.

Vou relatar um caso que atendi, onde a vítima de 14 anos, entregou para a mãe que o padastro havia abusado dela, a mãe o entregou para a polícia e lá ele cometeu o suicídio, e a mãe a culpava pela morte do companheiro e por acreditar que ela o seduziu por ser mulher e jovem. O único lugar que lhe cabia era o de vítima da situação mas o lugar que lhe deram era de algoz. Trabalhamos juntas algum tempo, tentando amenizar e cicatrizar estas feridas e me pergunto onde andará esta garota hoje mulher e se as marcas pararam de sangrar e já cicatrizaram, o que fez de sua vida. Perdemo-nos no tempo.

Nos meus 38 anos de consultório muitas casos foram atendidos de estupro e todos sem exceção a vítima sempre chegava carregada de culpas pelo acontecido, acreditando que de alguma forma ela provocara a situação.

Precisamos mudar nossa visão, mudar as leis, transformar crimes de estupro em crimes hediondos, ele não destrói o corpo ele mata a alma, o espírito, a esperança, a alegria deixando as vítimas marcadas a ferro e fogo para o resto de suas vidas.

Por Pedra Bucci

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