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Obstáculos
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A palavra satã é originária do hebraico e pode ser traduzida como obstáculo. Introduzida no Cristianismo, de satã passou a ser interpretada como satanás, diabo, anjo decaído – o desígnio de uma fonte externa que cerca os homens e os empurra para o abismo, uma força externa do mal, um inimigo a ser vencido através de virtudes e obediência. Na verdade, esse satã religioso não é e nunca será uma energia invasora, mas sim algo que está dentro de nós mesmos. Somos nós que o criamos e o alimentamos, deixando-o dono da situação e da condução de nossas vidas. Os obstáculos são necessários para o crescimento do ser e porque nos oferecem possibilidades de escolha.

No Universo tudo é mantido pela força dos opostos – sempre que algo se ganha, há que se abrir mão de alguma outra coisa e algo então se perde. Somos governados por estas leis que sempre se interpõem entre os nossos desejos e as realizações, mas se aprendermos a conhecer e a dominar estas forças, o adversário fica mais leve, mais frágil, tornando mais fácil a batalha.

O que consideramos como forças externas que atrapalham nosso crescimento são nada mais que a materialização de sombras obscuras que têm como morada nosso ser, essa parte escura da nossa caixa de Pandora, cujos segredos temos medo de descortinar. Entretanto eles apenas são os convites remetidos ao Universo que, quando aceitos e reenviados, nos assustam, nos surpreendem e a eles responsabilizamos pelos obstáculos interpostos e obstruidores dos nossos desejos.

Somos nós mesmos os nossos opostos. Precisamos nos harmonizar, nos restaurar, juntar as partes e conectar-nos ao Todo (do qual somos parte) perdoando-nos, retrocedendo às origens, quebrando muitos paradigmas. Temos que elevar nosso ser amando o inimigo que está dentro de nós, e assim nenhum satã interporá obstáculos para a nossa ascensão, o que é , aliás, um direito de todo ser humano – ser dono e senhor do seu destino.

Todos os obstáculos que advierem do mundo externo devem ser vasculhados no baú de cada um e, uma vez examinados à luz da razão, entenderemos que são as respostas reenviadas pelo Universo, todas elas compatíveis com os nossos pedidos, mas que agora se apresentam como travas. Estas travas têm que ser arrancadas das sombras, quebradas e transmutadas em uma nova energia, saudável e construtiva.

Uma linda história retirada de Às Margens do Ganges (Contos dos Sábios da Índia), de Martine Quentric-Séguy.

Visual Hunt

 

                                                                   Espelhos

“Um homem muito cheio de si mandou revestir de espelhos todas as paredes e o forro do seu mais belo quarto. Com frequência ele se fechava ali, contemplava sua imagem, admirava-se detalhadamente, a partir de cima, a partir de baixo, de frente, por trás. Com isso ele se achava totalmente reanimado, pronto para enfrentar o mundo.

Certa manhã ele saiu daquele quarto sem trancar a porta. Seu cão entrou. Ao ver outros cães, ele os farejou; como eles também o farejavam, ele grunhiu; como eles também grunhiam, ele os ameaçou; como também o ameaçavam, ele latiu e se atirou sobre eles. Foi um combate medonho: as batalhas contra si mesmo são as mais ferozes que existem! E o cão morreu extenuado.

Um asceta passava por ali enquanto o dono do cão, desolado, mandava emparedar a porta do quarto com espelhos.

– Esse lugar pode ensinar muito a você, disse ele. Deixe-o aberto.

– O que o senhor quer dizer?

– O mundo é tão neutro quanto os espelhos que você tem. Conforme sejamos admirativos ou ansiosos, ele nos devolverá a mesma coisa que lhe damos. Se você estiver feliz, o mundo também estará. Se inquieto, ele também ficará. No mundo nós combatemos sem cessar nossos reflexos e morremos no confronto. Que esses espelhos ajudem você a compreender isto: em cada ser e a cada instante, feliz, fácil ou difícil, não vemos nem as pessoas nem o mundo, mas apenas nossa própria imagem. Veja isso e todo medo, toda rejeição, todo combate abandonará você.”

Por Pedra Bucci

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