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Sabotadores
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Visual Hunt

Muitas são as máscaras que utilizamos para sabotar nossos sonhos. Dramatizamos, nos desculpamos, nos distraímos, desviamos o foco, desanimamos e desistimos de sonhar, acreditando que quem nos sabota são os eventos e nunca que o maior sabotador, na verdade, é nosso estado de ser.

Dramatizamos quando nos colocamos como vítimas da situação – sou o coitado, o bode expiatório, o sem sorte, o infeliz a quem o mundo vive trapaceando. Sair deste ‘drama’ é o primeiro passo para o crescimento interno, para a busca da perfeição. Enquanto permanecermos culpando o externo pelas nossas misérias, continuaremos patinando no lodo da ignorância (um lugar até certo ponto tranquilo), vítimas do medo de assumir omea culpa, medo de viver de forma diferente, medo do que advirá se arrancarmos as máscaras, medo do desconhecido.

Não mais dramatizar significa entender que o mundo dos acontecimentos nada mais é que nossos projetos (convites enviados), e que visam única e exclusivamente a nos defender de nossas próprias culpas, pelo nosso estado de ser destrutivo e amargo, de pensamentos e sonhos nebulosos e mal traçados.

As desculpas que forjamos são resultado de uma educação arcaica e deformante, que culminou em nos conduzir à negação de nossas próprias escolhas – ‘se não fui eu que escolhi… então o mundo que carregue as culpas todas de meus insucessos e frustrações’. Óbvio e cômodo. É confortador responsabilizar o externo, porque assumir o erro é ter que se ver frente a frente com as sombras e os medos que introjetamos para nos esconder. Desculpas são a forma mais amena que encontramos para não assumir nossos enganos e poupar nosso ego de sofrências e desenganos.

Distração e Desvios (outros pecados)

Para sonhar e não ser sonhado, pensar e não ser pensado, temos que evitar a distração e os desvios a que as circunstâncias, muitas vezes, nos submetem. Não raras vezes nos enganamos com distrações que são formas encontradas pelo nosso ego para sabotar nossas metas. Para que isso não ocorra devemos nos manter como observadores  atentos de nós mesmos. O caminho é árduo,  pois somos dados a sempre encontrar justificativas para nossos fracassos. Desanimados, nos acomodamos para fugir do ônus de encarar que somos nós os responsáveis pelo nosso destino. Não desanimar tem um custo, requer disciplina e auto-observação.

Remover os obstáculos que encontramos e que impedem nosso crescimento demanda coragem, estudo e uma certa rebeldia para virar o jogo, voltar-se para si mesmo, não depender, respeitar a unicidade e a unidade , saber ser o próprio guia. Quando desanimamos, voltamos para a zona de conforto que conhecemos bem, mas pagamos um alto preço – o de permanecer medíocres, dependentes e sem respeito próprio.

E voltamos ao ponto de partida, nos sentindo inferiores e percebendo o mundo de forma linear, sequencial, e assim o aceitamos. Livrar-nos da dinâmica repetitiva que criamos para nos justificar requer a violação da linearidade, a mudança da visão de mundo, requer ocrer para ver, confiar que a transformação é possível, acreditar que esta parte obscura e camuflada que pensamos não conhecer, esta sombra malévola – será a nossa aliada na luta contra os grilhões da ignorância. Conhecê-la e encará-la é o caminho para a restauração da integridade do ser.

Os inimigos por excelência do ser humano são os sabotadores que ele inflige a si mesmo e a auto-observação é o processo a ser adotado para eliminá-los. Se nos dispomos a encarar tal tarefa, precisamos ter um propósito, projetos, estudos, organização, disciplina, método, diligência, criação, realização e o elemento mais importante – sonhos. A tarefa é árdua mas altamente recompensadora! Desempenhada até seu final, estamos prontos para mudar o mundo que nos cerca, pois que ele é a representação perfeita do nosso estado de ser e, como consequência, os acontecimentos – ao invés de inimigos – passam a ser nossos aliados.

Fomos ‘formatados’ para buscar a aceitação do mundo externo e isso nos leva a esquecer quem, de verdade, somos. Ficamos à mercê da imagem especulativa com que o outro nos enxerga, como se somente  através do olhar alheio eu atingisse o discernimento e a condição de saber e conhecer quem EU sou. Vale aqui relembrar o mito de Narciso, o buscador primeiro da beleza no mundo exterior. Ele não morre por enamorar-se de si mesmo. Morre por acreditar que a imagem refletida nas águas da fonte era de um belo e grande ‘outro’. Esta lenda nos leva a perceber toda a sorte de artifícios e engodos com que fomos formados e, por fim, formatados.  A morte do ser se dá por ele não acreditar que o bom e o belo estão no interior dele. Afinal, o mundo nada mais é que a projeção que fazemos de nós mesmos – é o espelho de nossa alma.

Por Pedra Bucci

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