
A ideia é muito boa. Em vez de você ir ao restaurante, sem saber qual seria o cardápio e quanto seria o valor a ser pago, você escolhe ir a uma aula-interativa, observando e até participando da elaboração dos pratos e conversando com o chef enquanto ele prepara, ali defronte ao balcão, aquilo que será servido em seguida.
A iniciativa é do Espaço Gourmet, escola especializa em gastronomia, que, além de formar chefs de cozinha e profissionais do ramo, agora também estende a possibilidade desse contato entre os cozinheiros da casa e as pessoas interessadas em aprender algumas técnicas, alguns truques e, ao mesmo tempo, aproveitar para saborear um belo jantar, harmonizado com vinhos selecionados conforme a exigência dos pratos.
Tive a oportunidade de participar de um evento desses, dias atrás, e achei muito bom. Foi com o chef Rodrigo do Prado, um dos sócios do empreendimento (com Márcio Silva e Gilda Bley), com a proposta de releitura de alguns pratos de chefs internacionais consagrados, como Gaston Acúrio, Thomas Keller, Alain Ducasse e Paul Bocuse. Tudo montado em um cardápio só. Ali na hora, sem subterfúgios nem nada.
Além de entender das coisas da cozinha, Rodrigo é bom de didática, sabe transmitir suas mensagens, sabe ensinar. Jovem ainda, esse chef e sommelier tem uma bagagem considerável nos caminhos da gastronomia. Admitido na University of Central Florida (EUA), Rodrigo especializou-se em Hospitality Management, com foco em Alimentos & Bebidas, e apostou suas fichas para a formação de chef no renomado The Culinary Institute of America (CIA). Entre suas experiências profissionais, conquistou uma vaga na Walt Disney Company, onde somou conhecimento em gestão de qualidade no atendimento e ampliou sua visão para a experiência de entretenimento gastronômico. Atuou ainda no Hyatt Hotel and Resorts, onde desempenhou a função de Chef de Cuisine e adquiriu o título de Coffee Master pela Starbucks. Após quatro anos no exterior, Rodrigo retornou ao Brasil, onde trabalhou como consultor em gestão de qualidade para a rede de restaurantes do chef Sergio Arno e foi Diretor Pedagógico da ABS-PR (Associação Brasileira de Sommeliers – Paraná).
Na volta a Curitiba, assumiu a cozinha da Trattoria Boulevard, de onde saiu para mais tarde tornar-se sócio do Espaço Gourmet, se encaixando perfeitamente na proposta inicial de Márcio Silva, oxigenando os horizontes da casa.
E uma das propostas que cresceu com ele nessa nova fase da escola de gastronomia foi justamente a aproximação maior com cozinheiros eventuais, de fins de semana, que não têm a necessidade de seguirem o rigor do curso de master chef, por exemplo. A experiência tem dado resultados, pois o ambiente é muito alto astral, leve, numa interação que deixa todos muito à vontade para participar e aproveitar.
Nosso jantar começou com uma referência a Gaston Acúrio, o peruano que tem revolucionado a cozinha latino-americana. O chef se propôs a fazer um Ceviche de tilápia, utilizando a consagrada técnica de cozimento do peixe no caldo cítrico, acompanhado de cubinhos de tomate, cebola, coentro, milho verde, pimenta vermelha e azeite de oliva. E com o toque final de fatias de banana da terra tostadas, crocantes.
Logo em seguida, assim que os presentes foram servidos, Rodrigo começou a fazer o Vol au vent com champignons à la crème, numa referência gastronômica que vem desde os tempos idos de Antonin Carême. Os delicados vol au vents são feitos na hora, recortando e assando a massa folhada comprada pronta. Para o recheio, um creme de cogumelos que me chamou a atenção por não utilizar cebola no início do cozimento (ingrediente que normalmente é utilizado como base na grande maioria dos pratos).
Mas também não teve cebola no prato seguinte, o L’Entrecôte de Paris, referência direta a Alain Ducasse. Ele disse que no molho poderia ter sido usada a “cebola Piquet”, que é um naco de cebola com o cravo espetado apenas para dar o sabor inicial e que depois é retirada do cozimento. Mas fez sem ela, apenas reduzindo o vinho branco e juntando o bechamel preparado à parte, mais o creme de leite. Para finalizar a mostarda dijon. E a carne, temperada apenas com um toque de sal grosso moído e pimenta (para quem aprecia), vai na chapa ultra-quente, selando por uns três minutos de um lado e mais três do outro. Junta-se o molho e serve-se.
E nós ali, aproveitando tudo e curtindo primeiro os aromas emanados dos pratos sendo preparados e depois, claro, os sabores irretocáveis. E cada um deles harmonizado com um tipo de vinho, o que já entra no pacote da aula-show.
Para encerrar em alto estilo, uma ode a Paul Bocuse, o ícone francês. Um Crème brûlée com coulis de frutas vermelhas. O creme já estava pronto, pois senão não poderia esfriar a tempo. Mas foi feito no padrão mais tradicional: creme de leite fresco, gemas, açúcar e baunilha. Na hora de servir, açúcar (de confeiteiro, ele usou) salpicado em cima e a chama de um maçarico para formar aquela crosta deliciosa.
O que mais me surpreendeu nessa sobremesa foi o “coulis”. Ou pelo menos o que o chef denominou assim. Originalmente é um purê quase líquido, que pode ser feito com frutas ou verduras. É muito comum na gastronomia francesa, de onde vem o termo, utilizado para complementar doces e sobremesas. Nesse caso não era um purê, mas apenas as frutas maceradas no açúcar, que, por essa ação, aos poucos vão soltando a calda. Foram colocadas por cima do creme, dando o contraste de acidez que equilibrou perfeitamente com o doce clássico.
Os cursos
Rodrigo do Prado não é o único professor nesses cursos rápidos, pois o corpo docente da escola conta com profissionais de respeito, que se revezam nessa programação de aulas interativas. Para que se tenha uma ideia, somente nesse mês de maio o calendário de cursos ainda reserva temas como Risotos clássicos italianos; Churrasco gourmet com angus, cordeiro e picanha e acompanhamentos; Cozinha mexicana; Festival de hambúrgueres; Comida árabe; Preparações com salmão; Sushi e sashimi básico; Pizza e Focaccia; Pães caseiros; Preparações com bacalhau; Mignon, seus molhos e segredos; Boteco dos amigos… apenas para enumerar alguns deles – o calendário completo pode ser consultado aqui no site da escola.
O custo para uma aula, com tudo a que tem direito, fica entre R$ 140 e R$ 190, conforme o tema e os ingredientes a serem selecionados.
O Espaço Gourmet dispõe de um amplo e seguro estacionamento, cozinhas montadas de acordo com a temática de cada curso e, como já escrevi lá em cima, um alto astral que transforma essas aulas em puro prazer.
E então fica aqui o reforço de sugestão. De vez em quando, em vez de sair para jantar em um restaurante, que tal combinar com parceiros e amigos e encarar uma dessas? Garanto que vale a pena.
Espaço Gourmet Escola de Gastronomia
Alameda Prudente de Moraes, 129F – Mercês
Fone: (41)3019-0437
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