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“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Jo 1, 1)
Era o fim de uma tarde fria, 1.º de julho. No dia 22 deste mês, há exatos 45 anos, Madre Leônia, a santa da minha rua, fez a sua Páscoa definitiva, em um acidente de carro. No dia 18 deste mês, há exatos 50 anos, a geada negra encerrou o ciclo do café no Norte do Paraná. Neste mês, há exatos 55 anos, numa sexta-feira invernal, nasceu este cronista de sete leitores.
Decidi, então, rezar o meu último terço do dia no Santuário Eucarístico Mariano, onde o Santíssimo Sacramento fica exposto durante todo o dia para a adoração dos fiéis, ao lado do túmulo de nossa querida Madre Leônia.
Vi o milagre de Pentecostes se reproduzir diante dos meus olhos
Mas eis que lá me esperava uma grata e maravilhosa surpresa. Uma verdadeira experiência mística do poder da Palavra.
Quando começamos a rezar as dezenas do terço, percebi que nem todas as irmãs ali presentes eram as religiosas que estou acostumado a encontrar no Santuário. Algumas delas eram rostos novos, que eu não conhecia.
O primeiro mistério foi rezado como sempre: o Pai-Nosso, dez Ave-Marias, o Glória. No segundo mistério, algo inusitado ocorreu: a primeira parte de cada Ave-Maria passou a ser rezada de maneira diferente.
— Kính mừng Maria, đầy ơn phúc, Chúa ở cùng Bà. Bà được chúc phúc hơn mọi người nữ, e Giêsu, con lòng Bà, cũng được chúc phúc — rezou a irmã Dihn Thi Thu, do Vietnã.
E todas responderam:
— Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte, Amém.
— Salam Maria, penuh rahmat, Tuhan sertamu. Terpujilah engkau di antara wanita, e terpujilah buah tubuhmu, Yesus — orou a irmã Erna Nubatonis, da Indonésia.
— Santa Maria...
— Ave Maria, kmanek laran, Dominus ho Ita, Ita boot liu feto hotu, no kmanek liu oan husi Ita nia leet, Jesus — prosseguiu a irmã Joanita Martins, em tétum, língua falada no Timor Leste.
— Santa Maria...
— He Mariam, kripa pobre, Prabhu tere saath hai, Dhanya hai tu striyon mein, aur dhanya hai tere garbh ka phal, Yeshu — rezou a irmã Sneha Jacob, missionária que veio da Índia.
— Santa Maria...
— Je vous salue, Marie, pleine de grâce, Le Seigneur est avec vous, Vous êtes bénie entre toutes les femmes, Et Jésus, le fruit de vos entrailles, est béni — ouvimos em seguida, na voz da irmã Prisca Edwige Atale, do Benim.
— Santa Maria...
— Nba ka afo Mari, nyananfata, Ala ka n'i bolo. I ka barika bè afo nyènèn, E ka den Jésus ka barika bè — eis que a irmã Valentine Kouamé Amoin nos encantou com a oração no idioma local da Costa do Marfim.
— Santa Maria...
— Zdrowaś Maryjo, łaski pełna, Pan z Tobą. Błogosławionaś Ty między niewiastami, i błogosławiony owoc żywota Twojego, Jezus — agora era a voz de nossa missionária polonesa, a irmã Ewelina Feliszek.
— Santa Maria...
— Zdrava, Marija, milosti polna, Gospod je s teboj. Blagoslovljena si ti med ženami, in blagoslovljen je sad tvojega telesa, Jezus — completou a irmã eslovena Marjetka Zlahtic, que um dia conheci admirando o alinhamento dos planetas no céu de Londrina.
— Santa Maria...
Confesso que não contive o ímpeto de rezar a Ave-Maria no idioma oficial da Santa Igreja:
— Ave Maria, gratia plena, Dóminus tecum. Benedicta tu in muliéribus, et benedíctus fructus ventris tui, Iésus.
Jamais me esquecerei dessa tarde de julho em que vi o milagre de Pentecostes se reproduzir diante dos meus olhos pela voz das missionárias claretianas, filhas de Madre Leônia, vindas de todos os continentes e reunidas em Londrina na casa-mãe da congregação.
É uma alegria saber que em todas as línguas e culturas as orações a Nossa Senhora apontam para aquele que está no centro da Ave-Maria: Jesus, o Verbo.
