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O dia de amanhã, 7 de outubro de 2025, marcará dois anos desde que o grupo terrorista Hamas perpetrou os terríveis ataques de 7 de outubro de 2023. As imagens dos ataques, que mataram indistintamente crianças, mulheres, homens e idosos, ficarão gravadas para sempre na memória não só do povo judeu, mas de toda a humanidade, como um ato de suprema infâmia.
Foram quase 1,2 mil pessoas mortas e cerca de 250 sequestradas. Muitas delas morreram nas masmorras do Hamas e nunca voltarão para suas casas. Outras, mesmo retornando, conviverão com os traumas do horrível cativeiro pelo resto de suas vidas.
O Hamas atuou conscientemente naquele 7 de outubro de 2023. O grupo sabia que um ataque daquelas proporções ensejaria uma resposta violenta de Israel, o que, em primeiro lugar, sabotaria a aproximação que estava em curso entre Israel e a Arábia Saudita e, em segundo lugar, atrairia a atenção global para a causa palestina, em baixa naquele momento.
O grupo não contava, entretanto, com uma reação israelense tão devastadora e determinada. É provável também que os líderes do Hamas tenham superestimado a capacidade da comunidade internacional de conter a reação israelense.
Dois anos depois dos ataques, os principais líderes do Hamas estão mortos. Todos os seus apoiadores regionais também sofreram perdas relevantes: as principais lideranças do Hezbollah, no Líbano, e dos Houthis, no Iêmen, foram eliminadas.
O governo de Bashar al-Assad, na Síria, caiu, e o Irã teve seu programa nuclear atacado. A vitória militar israelense foi decisiva, e a derrota do Hamas, acachapante, fez o grupo perder definitivamente as condições de governar a Faixa de Gaza.
Entretanto, a vitória israelense veio em troca de um custo reputacional terrível, que isolou quase completamente o país no sistema internacional e aprofundou as divisões políticas no seio da sociedade israelense
A comunidade internacional não suportou acompanhar a “guerra existencial” travada por Israel na Faixa de Gaza, que causou a morte de dezenas de milhares de palestinos, destruiu completamente as principais cidades e, com elas, hospitais, escolas e toda a infraestrutura básica necessária a uma vida digna para os cerca de 2,2 milhões de habitantes daquele território.
As cenas de mulheres e crianças famintas se acotovelando em filas para conseguir comida, e as histórias de pessoas mortas por desnutrição, revelaram que Israel travou uma guerra total, cujos princípios de humanidade, proporcionalidade e distinção entre civis e combatentes — que deveriam ser respeitados por soldados profissionais — foram repetidamente desrespeitados. Isso foi reconhecido inclusive pelo Tribunal Penal Internacional, que emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e contra o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, sob acusações de crimes de guerra e contra a humanidade.
Nesse contexto, ganhou destaque a proposta de paz de 20 pontos lançada pelo presidente Donald Trump, que vem ganhando tração nos últimos dias. O plano exige o fim imediato das hostilidades, a liberação de todos os reféns israelenses em 72 horas em troca de centenas de prisioneiros palestinos, e a transição para uma governança tecnocrática em Gaza, supervisionada por um "Conselho de Paz" internacional liderado pelos EUA. A iniciativa atraiu elogios de líderes árabes, europeus e até da Autoridade Palestina, que a veem como “sincera”.
No último sábado, 4 de outubro, o Hamas respondeu condicionalmente, aceitando libertar os reféns ainda vivos e devolver os restos mortais dos falecidos, mas exigindo discussões sobre o futuro de Gaza e os direitos palestinos.
Diante dessa resposta, Trump exigiu que Israel interrompesse a ofensiva na Faixa de Gaza, com o que os israelenses concordaram, anunciando que seus soldados passariam a adotar uma atitude defensiva. Se implementada, essa proposta poderá romper o ciclo de violência, prenunciando a possibilidade de um novo recomeço para a Faixa de Gaza.
Diante desse panorama de triunfos militares e ruínas morais, de um lado Israel emerge vitorioso no campo de batalha, mas com sua reputação internacional profundamente abalada e uma sociedade politicamente dividida. De outro, a derrocada do chamado “Eixo da Resistência” — que vai do Hamas ao Hezbollah e aos Houthis, passando pela liderança do Irã — reconfigura o tabuleiro do Oriente Médio, abrindo espaço para a atuação de atores regionais e globais na busca de vantagens geopolíticas.
Uma solução de paz somente será viável se acompanhada de garantias de segurança para Israel, aliadas a um plano concreto para Gaza: reconstrução apoiada internacionalmente, desarmamento completo do Hamas e passos irreversíveis rumo à criação de um Estado palestino viável.
Sem isso, o ciclo de violência persistirá, isolando não só Israel, mas toda a região em um abismo de ódio e desconfiança. Dois anos após 7 de outubro de 2023, judeus e palestinos merecem mais que vingança: merecem uma paz justa e duradoura.




