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No último dia 26 de março, o general Anthony Cotton, comandante do Comando Estratégico dos Estados Unidos, compareceu perante o Comitê das Forças Armadas no Senado daquele país. Tratou-se de um depoimento rotineiro, no qual o general de quatro estrelas, responsável pelo arsenal nuclear americano, prestou contas acerca do seu trabalho.
Foi nessa oportunidade que o general Cotton fez a declaração que inspirou o título deste texto: “Teerã reduziu o tempo necessário para produzir urânio suficientemente enriquecido para a produção de um dispositivo nuclear de 10 a 15 dias para, presumivelmente, menos de uma semana.”
Aos 39 anos de serviço e tendo atingido o ápice da carreira, o general Cotton comanda o Comando Estratégico dos EUA, responsável pela dissuasão estratégica e pela pronta resposta nuclear do país.
A declaração do general ocorre em um contexto de outros movimentos diplomáticos e militares dos EUA no Oriente Médio e em seu entorno — todos eles indicativos de que os americanos estão levando muito a sério a possibilidade de o Irã se juntar ao seleto grupo de países detentores da arma atômica.
No campo diplomático, o presidente Trump enviou uma carta ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, no dia 5 de março, dizendo que os EUA preferiam negociar um acordo para evitar que o Irã adquira a arma nuclear a ter de agir militarmente para impedir esse desenvolvimento.
No último dia 27, um dia depois do depoimento do general Cotton, os iranianos anunciaram que enviaram uma resposta que, segundo Kamal Kharazi, conselheiro de política externa do aiatolá, indicava que “a República Islâmica não fechou todas as portas e está disposta a iniciar negociações indiretas com os Estados Unidos.”
Para além das declarações e dos movimentos diplomáticos, as ações no campo militar tornam-se cada vez mais incisivas. Os ataques desencadeados pelos EUA a alvos Houthis, no Iêmen, já vão pela terceira semana consecutiva.
A força-tarefa aeronaval liderada pelo porta-aviões Harry Truman, em coordenação com a Força Aérea, vem realizando bombardeios diários contra a infraestrutura militar e contra lideranças do grupo que, desde o início do atual conflito no Oriente Médio, tem atacado navios mercantes no Mar Vermelho, causando enormes transtornos ao transporte marítimo na região.
A atuação dos Houthis está perfeitamente alinhada aos interesses estratégicos do Irã, potência que fornece armamentos e treinamentos ao grupo iemenita.
Trump ameaçou os iranianos, dizendo que qualquer reação do grupo contra alvos americanos no Oriente Médio seria considerada como uma resposta iraniana — e que teria consequências
Também na semana que passou, tornaram-se públicas duas informações relevantes. A primeira é a de que os EUA haviam deslocado pelo menos sete bombardeiros stealth B-2 para Diego Garcia, uma ilha controlada pelos britânicos no Oceano Índico, que historicamente desempenhou um papel importante nas operações de bombardeio estratégico dos EUA durante a Guerra do Golfo e nas campanhas do Iraque e do Afeganistão.
A presença dos B-2 — avançados bombardeiros projetados para penetrar densas defesas antiaéreas sem serem detectados — em Diego Garcia é bastante incomum e pode ser interpretada como parte de preparativos para uma ação militar em larga escala: seja para ampliar ainda mais a intensidade dos ataques ao Iêmen, seja potencialmente visando a infraestrutura militar iraniana.
A segunda foi a notícia de que o Pentágono deu ordem para que a força-tarefa aeronaval liderada pelo porta-aviões Carl Vinson, atualmente localizado em Guam, no Oceano Pacífico, também se desloque para o Oriente Médio. Com isso, os EUA dobram sua presença militar na região.
Toda essa movimentação diplomática e militar americana ocorre em um cenário regional cada vez mais sensível, no qual a possibilidade de um Irã nuclear é considerada intolerável por muitos de seus vizinhos — especialmente por Israel.
Os israelenses, que já são uma potência nuclear, adotam uma política de tolerância zero diante da perspectiva de que um inimigo regional obtenha a bomba atômica. Isso está consignado na chamada “Doutrina Begin”, que orienta ataques preventivos sempre que houver evidências concretas de que um adversário caminha rumo ao armamento nuclear.
Essa doutrina foi colocada em prática em 1981, quando a força aérea israelense destruiu o reator nuclear Osirak, no Iraque, e novamente em 2007, ao bombardear instalações nucleares secretas na Síria. Hoje, diante dos avanços iranianos, não é improvável que Israel volte a agir — ou pressione os EUA a fazê-lo.
A perspectiva de um ataque preventivo israelense é, portanto, mais um fator que eleva as tensões no Oriente Médio e aumenta o risco de um confronto direto com o Irã.
Nas próximas semanas, o mundo deve acompanhar com atenção redobrada os desdobramentos dessa escalada. A janela para uma saída diplomática está aberta, ainda que estreita, mas o acúmulo de forças militares na região e a retórica cada vez mais firme de Washington e Tel Aviv indicam que o tempo está se esgotando.
Se o Irã der o passo final rumo à fabricação de uma ogiva nuclear, é provável que assista a uma resposta imediata — seja por parte de Israel, dos Estados Unidos ou de ambos.
O Oriente Médio caminha, mais uma vez, sobre uma linha tênue entre a dissuasão e o confronto, e os tambores de mais uma guerra, infelizmente, já se fazem ouvir.
Conteúdo editado por: Aline Menezes