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Paulo Filho

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Estados Unidos

Trump no poder: decifrando a liderança que desafia o mundo

Trump vai conversar com a China, mas alerta que tarifas podem aumentar "substancialmente"
O presidente dos EUA, Donald Trump (Foto: Will Oliver/EFE/EPA)

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Donald Trump completa hoje sua primeira semana na presidência dos Estados Unidos, mas o turbilhão de notícias e especulações que cercam suas primeiras decisões faz parecer que ele está há muito mais tempo no cargo. 

Líderes internacionais ainda procuram entender como lidar com o “terremoto trumpista” enquanto tentam proteger os interesses de seus países diante das mudanças já anunciadas e das muitas que estão por vir.

Lidar com Trump é enfrentar sua retórica polarizadora e ações pouco convencionais, recalculando estratégias em tempo real. Isso já ficou claro para líderes de países como a Dinamarca, em sua recusa à ideia de Trump de comprar a Groenlândia; o Panamá, devido às tensões envolvendo o Canal do Panamá; o México, frequentemente alvo de sua política migratória e a Colômbia, na crise de ontem, envolvendo a recusa em receber os aviões que levavam os migrantes colombianos deportados dos EUA de volta para sua terra natal.

Nesse contexto, compreender a dinâmica do processo de tomada de decisão de Trump é essencial, tanto para prever o impacto de suas ações quanto para formular respostas estratégicas adequadas. 

Estudos sobre liderança ajudam a interpretar o estilo de Trump. Margaret Hermann, por exemplo, desenvolveu uma tipologia que analisa líderes por suas características pessoais. Alguns tendem a centralizar decisões, com alta necessidade de controle, enquanto outros são mais abertos ao contraditório. 

Trump exemplifica o primeiro tipo: avesso às normas tradicionais, busca controle total e tem foco em sua autoimagem, características que moldam sua abordagem tanto no plano doméstico quanto no internacional.

Esse estilo de liderança é marcado pela personalização do poder, um fenômeno em que o líder dá mais valor à própria intuição do que à análise técnica ou ao aconselhamento de especialistas. Suas escolhas para cargos de alto escalão deixam isso claro: são figuras leais e alinhadas ideologicamente, em vez de especialistas com perspectivas divergentes.

A ênfase na lealdade gera um ambiente propício ao “groupthink”, fenômeno descrito na década de 1970 pelo pesquisador Irving Janis para descrever situações em que grupos priorizam consenso interno em detrimento de debates críticos. 

O “groupthink” pode ter consequências graves para a tomada de decisão, especialmente em um governo onde o poder é altamente centralizado no líder. Quando todos os conselheiros pensam da mesma forma e não há contraditório, decisões precipitadas, superestimação de capacidades e subestimação de adversários tornam-se prováveis.

No caso de Trump, o risco é ainda mais evidente porque ele não apenas promove um ambiente que privilegia o consenso entre seus aliados, mas também descarta rapidamente aqueles que o contradizem

Essa dinâmica ficou clara na definição dos integrantes do alto escalão do governo, com a formação de um gabinete formado por figuras alinhadas à sua visão e pela rejeição de especialistas que representavam a “velha ordem” de Washington.

Trump é o presidente legítimo da maior potência do mundo. Suas ideias e personalidade já eram amplamente conhecidas pelo eleitorado, que o escolheu democraticamente, dando-lhe ainda a maioria nas duas casas do parlamento.

Para os líderes globais, resta ajustar as velas conforme o vento sopra, de modo a conduzir a Nau de seus países na direção dos seus objetivos em meio a um mar agitado. Isso significa que é essencial dedicar atenção à personalidade de Trump e a seu processo decisório, buscando prever comportamentos e antecipar-se a decisões.

Dessa forma, o futuro das relações entre os Estados Unidos e o restante do mundo dependerá, em grande medida, da capacidade dos governos de compreender a liderança de Trump, mitigando os riscos de um estilo de governo que desafia convenções e limites.

Ao mesmo tempo, esse contexto oferece lições importantes sobre como as figuras pessoais dos líderes ainda têm, mesmo no século 21, um enorme poder para moldar o rumo de nações e impactar o sistema internacional, para o bem ou para o mal.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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