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Pedro Menezes

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Preços em alta

A inflação veio para ficar?

Inflação de novembro veio acima da meta e é exemplo da pressão exercida pela alta nos preços dos alimentos.
Inflação de novembro veio acima da meta e é exemplo da pressão exercida pela alta nos preços dos alimentos. (Foto: Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo)

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O IBGE divulgou na terça-feira (8) o IPCA de novembro, com mais um recorde. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,31%. Vale lembrar que o Banco Central se comprometeu com uma meta de 4% para a inflação anual de 2021. Tudo indica que, ao fim do ano, a inflação oficial superará a meta.

Se o leitor voltar para o início da pandemia, ele lembrará de economistas garantindo que a inflação não seria um problema para a economia brasileira. Segundo muitos argumentaram, o alto desemprego controlaria as demandas por aumentos de preços e, por isso, o Banco Central tinha liberdade para diminuir a taxa de juros sem medo de desarrumar a casa. Esta não era apenas a visão de um ou outro colunista de jornal, mas também foi o diagnóstico que levou a taxa Selic para os 2% — ou seja, a taxa nominal de juros é mais ou menos a metade da taxa de inflação nos últimos 12 meses, de modo que a taxa real de juros (corrigida pela inflação) hoje é negativa.

Logo, uma pergunta se impõe: os diagnósticos sobre a inflação foram otimistas demais? Eu responderia que não e creio que a maioria dos analistas macroeconômicos, de diversas partes do espectro ideológico, concordam comigo. Apesar da alta de preço observada nos últimos meses, a tendência é que a pressão inflacionária perca força em 2021.

É importante entender o que aconteceu até agora. Quando o consenso entre economistas apontava para a baixa probabilidade de descontrole da inflação, a ideia era simples: num cenário de alto desemprego, tudo o mais constante, a economia desaquece, os empresários tem maior dificuldade para aumentar seus preços e os trabalhadores também sofrem na barganha por maiores salários. Esse raciocínio é válido, mas é importante observar o “tudo mais constante”, premissa implícita na maior parte dos argumentos econômicos.

Num momento inicial da pandemia, diversos fatores contribuíram para que, apesar do alto desemprego, os preços continuassem subindo. Cito três que certamente estão entre os principais: o auxílio emergencial, as restrições de oferta associadas à pandemia e a subida do dólar.

Ao garantir renda à multidão desempregada, o auxílio emergencial atenuou o impacto do alto desemprego no enfraquecimento da demanda por bens e serviços. Muitas famílias perderam sua fonte de renda, mas o Estado garantiu uma fonte de renda emergencial. Por isso, muitas famílias conseguiram manter ou até aumentaram o próprio padrão de consumo, apesar da perda de emprego.

Além do auxílio ajudando a manter a demanda, é importante considerar que 2020 foi um ano com fortes restrições também do lado da oferta. Seja por regras de distanciamento social ou por outros eventos atípicos, muitos setores não conseguiram produzir o suficiente para atender à demanda, o que também favorece o aumento de preços. Esse problema é especialmente claro em setores como a construção civil, onde a dificuldade de encontrar alguns insumos levou ao aumento de preços.

Quanto ao terceiro fator, a alta do dólar favorece o encarecimento de muitos produtos exportáveis. O caso do arroz foi emblemático. O consumidor nacional passou a enfrentar a concorrência do consumidor estrangeiro, que estava disposto a pagar mais caro por alguns produtos. A bagunça que a pandemia causou no comércio internacional intensificou esse fenômeno.

Sendo assim, cabe perguntar: esses três fatores continuarão presentes em 2021? Se sim, a inflação pode voltar a surpreender. Caso contrário, o alto desemprego deve predominar, dando origem a um cenário de inflação mais baixa.

Caso uma nova onda de mortes leve o governo a estender o auxílio emergencial por mais alguns meses, as restrições de oferta voltariam à tona, e o dólar provavelmente subiria de novo. Nesse caso, os três fatores que impulsionaram a inflação em 2020 continuarão presentes em 2021.

Outro risco diz respeito à política econômica. Uma eventual sinalização do governo sobre o afrouxamento do ajuste fiscal (o abandono do teto de gastos, por exemplo) tende a elevar o risco-país e, consequentemente, o dólar.

São acontecimentos possíveis, mas não parecem os mais prováveis no momento atual. Tudo indica que a pandemia deve arrefecer em 2021, especialmente caso a vacinação em massa se concretize. E Paulo Guedes garante que, enquanto ele estiver no cargo, não haverá abandono da agenda fiscalista — cabe discutir se o ministro merece credibilidade.

Caso o cenário mais provável se realize, os fatores que levaram ao aumento da inflação em 2020 não permanecerão em 2021. E o desemprego deve fazer valer sua força. Em janeiro, quando o auxílio acabar, o brasileiro deve se deparar com o pior mercado de trabalho das últimas décadas. Neste momento, a inflação tende a deixar de ser um problema, mas será preciso resolver os outros que vão surgir no caminho. A demanda por estímulos fiscais não será pequena ao longo do próximo ano, nem faltarão ativistas achincalhando o teto de gastos.

Após apresentar os argumentos, posso responder a pergunta do título: se tudo ocorrer como esperado, com arrefecimento da pandemia e volta da agenda de ajuste fiscal, a inflação deve deixar de ser um problema imediato. O lado ruim desta história é que não é nada fácil prever a trajetória da pandemia, nem as decisões de Jair Bolsonaro.

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