• Carregando...
Rodrigo Lemos, por Rosano Mauro Jr.
Rodrigo Lemos, por Rosano Mauro Jr.| Foto:

Lançado na última terça-feira, o segundo disco d’A Banda Mais Bonita da Cidade, como bem escreveu o colega Rafael Rodrigues Costa nesta resenha aqui, significa evolução. Se o sucesso inadvertido de “Oração” catalisou o lançamento do primeiro álbum, para este novo trabalho há um apaziguar de ânimos. Melodias “ganchudas”, valorização de arranjos e participações especiais fazem de O Mais Feliz da Vida um disco mais coeso do que seu antecessor, embora (e ao mesmo tempo) sem grandes novidades em termos de composição.

Baixe o disco aqui.

Na entrevista abaixo, o vocalista e guitarrista Rodrigo Lemos (também capitão da banda Lemoskine e vocalista da Poléxia, que faz show em novembro) discorre sobre a composição do álbum; fala sobre a saída do baixista Diego Plaça; repercute a turma que “não está para brincadeira” e conta como conseguiu bolar uma fórmula para que os ouvintes escapassem do que chama de “audição tendenciosa”:

Rodrigo Lemos, por Rosano Mauro Jr.

Rodrigo Lemos, por Rosano Mauro Jr.

Onde estão e qual a última coisa que ouviram antes de responder a essa entrevista?

Acabo de chegar casa, de madrugada. Após uma sessão de estúdio produzindo outra banda, peguei uma carona e ouvíamos “In The Guetto”, do Elvis.

Depois do primeiro disco, que surgiu meio às pressas por conta de “Oração”, vocês tiveram mais tempo para pensar no segundo álbum. Como foi esse processo? Como gostariam que o disco novo soasse?

O processo do segundo disco foi lento, mas bem natural. Respeitou-se o tempo que essa sonoridade precisava para surgir e evoluir conosco. Como a Uyara costuma mapear composições com as quais estabelece conexão para interpretar, esperava-se que esse norte fosse guiar o caminho… Mas, dessa vez foi diferente. Foi como se as canções fossem nos procurando. De alguma forma, todos se envolveram sugerindo canções, arranjos, e o Vini [Vinícius Nisi, tecladista e produtor] fez um baita dum trabalho produzindo para que soasse uma “Mais Bonita 2.0”.

O novo álbum abre horizontes. É mais perceptível, ao meu ver, a influência “internacional” – o coro na primeira faixa é puro Arcade Fire. Faz sentido isso? Vocês quiseram ampliar o alcance de suas músicas?

Os coros estão permeando o álbum mesmo… Mas só notamos essa característica depois que já estava tudo gravado. As novas canções são mais “ganchudas” nas melodias. Não sei se isso irá resultar num alcance maior necessariamente… Mas, com certeza, há uma vontadezinha de transpor essa catarse para os shows; a exemplo do Arcade Fire.

O disco chama-se O Mais Feliz da Vida, mas na capa há uma senhora carrancuda. Por que a contradição?

Ela não é carrancuda, vai! RSS. Na versão “física” teremos a Dona Júlia sorrindo como contracapa, só pra contrariar. Não lembro qual foi o momento em que decidimos que esta canção iria dar nome ao álbum. Não a considerávamos uma faixa forte, até levarmos esse trabalho para o Chico Neves. Foram os dias em Nova Lima (MG) que fizeram a banda tomar consciência do álbum como um todo. Estávamos falando sobre fases da vida e expondo isso sem “mimimi”, de forma arriscada, pois as pessoas esperam uma banda fofinha, saltitante e etc. Então, abrir mão da própria imagem foi um começo. E sugerir contradição com o título do disco, foi a forma que encontramos para convidar a uma audição menos tendenciosa.

 Qual o tamanho da influência de Curitiba na composição do novo disco?

O time de compositores está mais variado. Até a Uyara assina uma bela canção chamada “Um Cão Sem Asas”. Então rolou uma diversificação, em decorrência das nossas andanças por aí.

De qualquer forma, a cidade exerce influência sobre a banda continuamente, mas de forma mais corriqueira.

hm2Por que o cover de Pélico e como surgiu a parceria com Tibério Azul?

“Que Isso Fique Entre Nós” faz parte do discurso. Já fazíamos ao vivo — contando eventualmente com a participação do próprio Pélico — e ela acabou entrando no disco por afinidades (com a canção e o compositor). Já o “Tiba” nos foi apresentado pelo conterrâneo China. Selamos a amizade tocando juntos no Abril Pro Rock do ano passado e, em seguida, começamos a nos corresponder. Logo surgia “Maré Alta”; uma melodia que entreguei para ele colocar letra.

Qual o motivo da saída do Diego Plaça?

Foi um motivo pessoal, que tivemos de aceitar e apoiar. Por sinal, o Diego foi peça fundamental no desenvolvimento deste novo repertório. É um cara excepcional, com uma sensibilidade incrível, um ouvido de ouro. Espero que ele faça muitas coisas com esse talento.

No disco, há parcerias com Luiz Leprevost, Alexandre França e Troy Rossilho, autores de uma música polêmica que autoexaltava a cena local há algum tempo. O que acharam dela e o que pensam da dita cena local?

Eu gostei da música, sobretudo do efeito que ela causou; não tenho nada contra antropofagia. Além do mais, o trio aí de cima sabe bem o que faz. São compositores de mão cheia e as canções incluídas no novo disco são peças importantes do quebra-cabeças. Sobre “o que acho da cena local”, já perdi a conta das vezes em que tive de responder a isso. Seria interessante perguntar a outro integrante. Mais interessante ainda, seria perguntar ao motorista de táxi o que ele acha da cena local… Hoje utilizei o serviço para ir ao estúdio e o taxista se mostrou bastante interessado. A pedido dele, deixei os nomes das minhas bandas anotados num papel.

A Banda Mais Bonita, em uma visão superficial, é tida como feliz, e várias vezes é encaixotada no estilo “pop fofo.” O que é a felicidade para vocês, afinal? 

Ser encaixotado, oras. A gente adora… Tá. Para mim, felicidade é não precisar definir.

 Em uma entrevista recente, o Cassiano Fagundes (Cacique Revenge) disse que hoje há “bandas independentes excelentes se curvando a uma lógica que é exatamente contra os princípios do que é ser independente. Fazem de tudo pra aparecer, e quando ganham seus 15 minutos de fama, aceitam ser tratados como produto de décima categoria só por causa da exposição. É compreensível alguém ficar deslumbrado com as luzes dos holofotes, mas não dá pra esquecer o que se é por causa deles.” O que é ser independente para vocês?

A gente nunca esteve preocupado com essas definições; se é que isso chega a delimitar o alcance de um trabalho, sabe? Ser independente é, antes de qualquer coisa, um estado de espírito. Para uma banda — mesmo a que tem gravadora — também deve funcionar assim. Você tem que fazer o que quer fazer, porque essa ideia veio para você. Então faz! Se seu som vai estabelecer ligação com um público restrito apenas, tudo bem. Se compõe um refrão que pode ser cantado por multidões em estádios, tudo bem também… Mas se está buscando aceitação a qualquer custo, tem algo de estranho aí. Freud explica?

* O Pista 1 está oficialmente em férias até o dia 5/11, até que se prove o contrário.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]