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Michel Teló: um meme da música
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[ai, ai]

O que faz uma música ser boa? Para mim, é um misto de influência do seu passado musical, enquanto ouvinte; de envolvimento pessoal, revelado quando alguma sequência de acordes te suscita lugares e pessoas; de interesse, por descobrir, conhecer e pesquisar; e, vá lá, até de insistência, porque existem aqueles discos que você sabe que são bons, mas demoram a engatar.

Exatamente por isso tudo o Michel Teló não vai me pegar, como disse a revista Época. Pois nunca ouvi sertanejo na vida, pouquíssimas vezes me referi à mulheres como “delícia” e não, não vou insistir e tentar engolir uma versão da música em russo, holandês ou mandarim.

Isso não quer dizer que Teló deve ser pregado na cruz, entretanto. O rapaz, afinado até, é mais um fenômeno que representa nossa era pós-indústria fonográfica, de singles vendáveis, e não de álbuns conceituais. E quase pós-humana, de prosa digital, e não de poesia. É um produto que deu certo. E muita gente com igual ou mais talento gostaria de estar em seu lugar, dizendo aos quatro ventos que têm 90 mil ou 90 milhões de visualizações no YouTube.

Tentaram relacionar o feito à Macarena, outra música boba e divertida – a de Teló é só boba –, que rodou o mundo. Acharam semelhanças com Sepultura e CSS em relação à internacionalização da música brasileira. E o Bruno Medina, tecladista da banda Los Hermanos, comparou, de forma arrogante e infeliz, o sucesso da dita com “Anna Júlia” – música que a banda ignora, ao contrário do que faz o sertanejo com a sua cria. A música brasileira já exportou muita coisa ruim, axé e funk, por exemplo. É só mais um episódio, só que agora mais efêmero.


Tudo isso é um grande e saboroso exagero, que coerentemente faz parte das coisas nestes tempos: assim como Justin Bieber ou Neymar, o sujeito vira capa de uma revista nacional, deve estar no Fantástico na semana que vem, é motivo de “curtir” e seria também de “odiar” – se existisse essa opção no Facebook. Em relação a isso não deve haver julgamento de mérito. Não temos que gostar ou não, e sim tentar entender. Porque Michel Teló é, nada mais, do que um meme da música.

Assim como uma sequência de imagens engraçadinhas que te fazem rir por três segundos, “Ai se eu te Pego” faz milhões cantarem por, sei lá, dois minutos e meio. Michel Teló não irá prevalecer. Não porque não tem talento, mas porque o que faz não tem profundidade. (Ou você acha que isso, além de servir como passatempo, vai ser lembrado daqui a 10 anos?)

A revista Época ainda diz que o rapaz “traduz o valor da cultura popular para todas as classes.” Ora, o que é a cultura popular brasileira? Precisaríamos estar presente em bate-papo entre Darcy Ribeiro (1922-1997) e José Miguel Wisnik para tentar achar uma resposta plausível a uma pergunta covarde. E essa resposta poderia ser tanto Michel Teló quanto João Gilberto.

Comprimir, codificar, plastificar, canalizar, visualizar, curtir, compartilhar, reproduzir e pegar. Bem-vindos a 2012, com Michel Teló.

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