• Carregando...
(Foto: Isabella Lanave)
(Foto: Isabella Lanave)| Foto:

Há shows em que o público é vítima, alma entregue, isolada e desarmada. A contemplação, pela magnitude do que se está vendo, é mais forte do que qualquer outra reação imaginável. Há outros em que a plateia é parte integrante do espetáculo – normalmente pelo equilíbrio inesperado de forças entre público e artista — mesmo que sua interação venha em forma de um silêncio inoportuno, bocejo casual ou um grito solitário, embora poderoso, de “mais um, mais um, mais um.”

(Foto: Isabella Lanave)

(Foto: Isabella Lanave)

O Hurtmold voltou a Curitiba no último sábado, e tocou para um Paiol lotado. Aproveitava a oportunidade para lançar o disco Mils Crianças (2012) em vinil. E mostrou que é impossível ficar em paz ao se ouvir o sexteto que, se tem força e tecnicamente é impecável, no fim de tudo alterna tantas sensações e ambiências que sugere algo perto do cansaço mental.

Figura fora da curva do dito pós-rock, a banda renega o conforto ao, por exemplo, sugerir linhas de guitarras mais sobrepostas do que complementares. É quase uma estética de guerrilha, que fica muito interessante quando a percussão dá cores a algo que está perto de fugir do controle.

Exceto por “Hervi”, a música cuja melodia se sobressai em Mils Crianças, não há porto seguro em um show do Hurtmold. É tudo rápido. Independente. Há pouca comunicação entre um instrumento e outro, então o produto final, sempre exigente, chega de maneira quase fractal. É o combustível para um possível afastamento entre quem está no palco e quem está fora dele.

(Foto: Isabella Lanave)

(Foto: Isabella Lanave)

Mas pera lá: o Hurtmold nos engana. Em “Chavera”, há o indício de um rumo possível, um trilho conhecido, e logo depois a reviravolta para algo surpreendente – e, dessa vez, brilhante. Talvez porque exista um fiapo de melodia, essencial no caos controlado da banda, sinônimo de nossos tempos. Pois a Hurtmold está em sintonia com a loucura que existe lá fora – e isso é grandioso. Mas sabemos que tudo passa. Ou muda. Apesar da proficiência, seu show, altamente urbano e contemporâneo, carece de um momento ímpar, memorável, que atinja a transcendência.

Com alma densa, execução quase matemática e alternância aloprada de ritmos, o sexteto nos exige a cada segundo. Há que se estar disposto preparado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]