Poucos dias depois da terrível agressão com palavras de grosso calibre num aeroporto italiano, o ministro e defensor-mor da democracia Alexandre de Moraes voltou a ser agredido, hostilizado e insultado. Desta vez, o crime de lesa-majestade ocorreu por volta das 2h da madrugada, durante o sonho de um cronista de província cujo nome permanece em sigilo. Ele foi preso nas Masmorras da Realidade, pagou fiança e agora está aqui, escrevendo este texto.
Chamada às pressas para tratar de mais essa tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito (que, por sinal, é xará do cachorrinho do magnânimo), a Polícia Federal acionou imediatamente sua Divisão de Sonhos, Delírios, Fantasias e Paranoias de Tiranos. “Mas infelizmente não conseguimos o flagrante. Quando chegamos à casa do meliante, às 5h da manhã, nós já o encontramos roncando, babando e sonhando com o Coxa campeão da Libertadores”, disse o delegado Paranhos.
Depois de devidamente algemado e amordaçado, ele foi levado para a sede da DISODEFAPATI. Lá, fontes exclusivas deste periódico imparcialíssimo contam que o cronista de província foi interrogado pelo renomado dr. Salvador Daqui, especialista em sonhos antidemocráticos, vaga-lumes e fogos-fátuos, com diploma falso vendido pela Universidade de Rarvar. “Tudo o que posso revelar neste momento é que no sonho havia Alexandre de Moraes (ou alguém bem parecido com ele), um exemplar da Constituição todo cheio de orelhas-de-burro e um gafanhoto cor-de-rosa gigante chamado Astolfo”, disse o doutor mediante o pagamento de um cafezinho. “Ei, volta aqui! Se você me pagar um pão de queijo eu conto mais”, tentou ele. Mas estávamos sem trocado.
Arma do crime
De acordo com o relato de Alexandre de Moraes, vítima que por acaso também é acusador, juiz, estenógrafo, testemunha e o que mais precisar nos inquéritos que o envolvem, o cronista de província o atacou de uma hora para outra e “sem uma explicação jurídica plausível” enquanto ele pegava um atalho pelo sonho alheio e passava distraidamente por uma rua de chocolate cujo meio-fio estava sendo caiado de branco por dois súcubos trajando reduzidíssimos uniformes militares.
“Foi horrível”, contou o ministro, literalmente entre duas lágrimas cuidadosamente pensadas para dar efeito dramático à coisa toda. “Eu estava vindo todo apressado porque precisava mandar prender mais alguns velhinhos golpistas quando, de repente, não menos do que de repente, tchã-nã-nã-nã! Ele apareceu do nada e me atacou por trás com uma palavra assim, ó, desse tamanhão”, disse, imitando o saudoso Paulo Silvino.
Até agora a arma do crime não foi encontrada. Mas, a julgar pelos hematomas na honra outrora imaculada do ministro, as autoridades acreditam se tratar de uma “inconstitucionalissimamente” – arma de uso restrito de lexicógrafos e aficionados por palavras cruzadas. A perícia, porém, não descarta o uso de rimas infantis para palavras chulas, uma vez que diversos cartuchos de “careca”, “feio”, “bobo” e “cara-de-mamão” foram encontrados no criado-mudo do meliante.
Testemunhas
Duas testemunhas ouvidas pela reportagem deram versões diferentes para essa página infeliz da nossa história/ passagem desbotada da memória/ das nossas novas gerações. James Stewart, é, ele mesmo, o ator que estava por perto na hora do incidente só porque o cronista de província assistiu a “Meu Amigo Harvey” na noite anterior, pediu vênia para estranhar o relato supremo. “Ele [O cronista de província] jamais sonharia com os militantes políticos do STF”, disse a estrela de “A Felicidade Não Se Compra”. Que filmaço!
Já a Cuca do Sítio do Picapau Amarelo, presença constante nos pesadelos do sonhador subversivo, disse que Alexandre de Moraes jamais poderia ter sido atingido por uma palavra daquelas porque, desde que botara a cabeça no travesseiro, o sono do cronista de província estava sendo embalado por Ella Fitzgerald cantando “Anything Goes”. E acrescentou, ameaçadoramente: “Cuidado com a Cuca que a Cuca te pega! E pega daqui e pega de lá”.
Outro lado
Na saída do depoimento, o cronista de província alegou que estava sem assunto e se recusou a atender a imprensa. Com a cabeça coberta por um saco desses de supermercado (digo, do tempo em que supermercado embalava as compras em sacos), ele mandou um beijo para todas as suas fãs antes de se esconder sob os vidros fumê de uma linda Kombi 1977.
Para o advogado Pedro B.O., que representa o terrorista onírico, é preciso muita calma nessa hora, pessoal. “Meu cliente me ofereceu o mindinho e jurou que não estava sonhando com Alexandre de Moraes, e sim que jogava bolinha de gude com o Pepe Le Gambá! Estamos aguardando as imagens das câmeras de segurança daquele que é um dos cérebros mais movimentados do mundo para esclarecer os fatos como eles realmente se deram”, disse.
E foi então que o despertador tocou.
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