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andré mendonça ministro STF
“Esperança conservadora” nomeada por Bolsonaro, o ministro André Mendonça tem optado por ser um observador dos desmandos de seus colegas de STF.| Foto: Nelson Jr./ SCO/ STF

Faz tempo que estou para escrever sobre o ministro André Mendonça – teoricamente a ovelha negra democrata num STF cada vez mais autoritário. O personagem me intriga. Afinal, ele foi colocado lá por ser “terrivelmente evangélico” – o que quer que isso signifique. Em meus delírios semi-infantis, eu o imaginava como um Lutero provocando o necessário cisma naquele antro.

E, no entanto, até aqui André Mendonça tem sido apenas um observador desse espetáculo deprimente em que se transformou a protoditadura alexandrina. Entre expulsar os vendilhões do Templo e oferecer a outra face, André Mendoça tem optado por ser (quase) sempre o voto honrado, mas vencido. Não há nenhum sinal de que ele um dia vai optar pelo confronto, principalmente contra o dono do Brasil e a segunda calva mais bela do país: Alexandre de Moraes.

Daí surgiu a dúvida expressa no título deste texto. Estaria sendo o ministro do STF indicado por Jair Bolsonaro e tratado como “esperança conservadora” prudente? (E aqui vale lembrar que, apesar de nossos impulsos justiceiros, a prudência é a mãe de todas as virtudes). Ou teria ele se rendido às benesses do cargo, preferindo a omissão covarde à luta heroica contra os nove Cavaleiros do Apocalipse Jurídico?

Mas antes que em massa os leitores venham exercer seu direito à perversidade e cravar no ministro André Mendonça a alcunha de covarde-mor da República Democrática do Brasil, convém se perguntar: agindo de acordo com a Constituição que jurou respeitar, como o ministro supostamente antialexandriano poderia estar agindo diferente? Na rabeira dessa pergunta, há outra: em meio à corrupção moral que tomou conta do STF, a Constituição é uma arma eficiente contra o mal que dela se apoderou e a perverteu?

Muitas perguntas, eu sei. Todas sem resposta. Mas alguém precisa fazer essas perguntas. Nem que os pontos de interrogação fiquem apenas pairando no ar como nuvens pesadas irrigando um terreno semeado de paranoias e conspirações de todos os tipos.

Pesquisa

Em minha pesquisa no Twitter sobre a postura do ministro André Mendonça a covardia deu uma sova na prudência: 85,2% contra 14,8% (adoro a ilusão de exatidão das casas decimais). Não poderia ser diferente. Redes sociais são praças dadas a julgamentos sumários, instintivos e raivosos. Me parece que ninguém que responde a uma pesquisa no Twitter se detém mais de dez segundos sobre o assunto. E é aí que está – dizem! – a diversão.

Os que consideram o “ministro de Bolsonaro” um covarde respiram o ar inegavelmente maquiavélico que contamina o debate público. São as mesmas pessoas que queriam que a direita (sempre é complicado usar esses termos reducionistas, mas... ah, vocês entenderam!) tivesse um pinscher-que-se-acha-doberman como o senador Randolfe Rodrigues para chamar de seu. Você é desses? Putz. Eu não.

É, de fato, tentador ver o único ministro que teoricamente não faz parte do grupelho como um covarde. Afinal, muitos de nós nos acostumamos a reduzir as pessoas a opostos extremos. Logo, aquele que não é herói é vilão; aquele que não é corajoso, ousado, esperto, ativista e violento é covarde e omisso. Mas será que a coragem não está justamente em se apegar à prudência quando todo mundo lhe cobra uma atitude intempestiva?

E olhe que não vou muito com a cara do ministro desde que, acompanhando a sabatina dele no Senado, percebi uma reverência demasiada ao cargo ao qual o então ministro da Justiça tinha sido nomeado. A tal ponto que, em alguns momentos, acreditei que André Mendonça fosse pedir desculpas por ser cristão. Na verdade em alguns momentos achei que ele até renegaria a fé que supostamente o qualificou para o STF. É que sou exagerado mesmo.

De qualquer modo, e por mais que a prudência do único ministro ainda digno de algum respeito naquela corte dos lobos mal-travestidos de ovelhas soe estranha à impaciência própria do nosso tempo, me parece que o que há aí e aqui, lá e acolá, é uma confusão típica da modernidade. Queremos para ontem uma justiça que tem seu próprio tempo. E insistimos em confundir o que é eficiente (as sucessivas decisões da caterva) com o que é simplesmente certo.

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