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O mundo não vai acabar nem se transformar num Paraíso com a eleição de Biden.
O mundo não vai acabar nem se transformar num Paraíso com a eleição de Biden.| Foto: AFP

Não quero, mas sinto que preciso falar sobre Biden. E também sobre Trump. Até porque seria impossível falar de um sem falar do outro. A relação entre os dois (e de seus seguidores/adoradores) é como a do Batman e do Coringa naquela obra-prima improvável chamada Lego Batman. O sonho de todo vilão é ser reconhecido como arqui-inimigo pelo herói.

Eu achava que Trump ganharia. E de lavada. Um amigo morador de Nova York e democrata de carteirinha me disse, todo acabrunhado, que nunca tinha visto uma mobilização tão grande pró-Trump. Me deixei levar pelo pessimismo dele. Também tinha o fato de uma reeleição ser diferente de uma eleição para primeiro mandato. E a economia norte-americana estava se recuperando. E isso e aquilo. São muitas as justificativas para um palpite equivocado.

Na minha biruta, todos os ventos apontavam para uma reeleição republicana. Mas deu Biden. Ou está dando, sei lá. Há quem acredite numa virada de Trump nos tribunais. Ou numa grande revelação de fraude que dê razão aos indignados tuiteiros pró-Trump. De minha parte, não consigo conceber um presidente norte-americano governando por meio de uma decisão judicial. Mas vai que.

Celebrações

Uma vez confirmada a vitória de Biden, houve comemorações de todos os tipos. Minha preferida foi a de Gal Costa que, exultante, escreveu “Vencemos”. Assim mesmo, na primeira pessoa do plural. Não sei se a cantora (cujo timbre de voz curiosamente lembra a risada da agora vice-presidente Kamala Harris) vota nos Estados Unidos. É possível. Tudo é possível. Inclusive o ridículo puro e simples de se achar vencedor da contenda alheia.

O Youtuber Felipe Neto também está em êxtase. Ele disse que o melhor aniversário de sua vida será o de 2021, porque coincidirá com a posse de Joe Biden. O que é bastante revelador de uma geração que deposita todas as suas esperanças de felicidade, realização e até redenção no universo obscuro e cheio de conchavos da política. Vai dar super certo, sim.

Por outro lado, há quem veja na eleição de Biden sinais evidentes do Apocalipse – aquele bíblico mesmo. Olavo de Carvalho, por exemplo, já falou em fim da Civilização Ocidental. E, como #Olavotemrazão, tem muita gente embarcando nesse desespero infrutífero. Bom, não tenho bola de cristal e não posso prever como será o mundo no dia seguinte à posse de Biden, mas apostaria R$2 na manutenção da Civilização Ocidental. Talvez mais imperfeita do que nunca e com alguma rachadura em seus pilares, mas ainda assim ereta e magnânima. Como sempre.

Manhã seguinte

Diante da vitória de Biden, há quem dê como certa também a derrota de Jair Bolsonaro em 2022. Bolsonaristas estão desesperados. Petistas já contam com uma vitória acachapante de Lula depois que o STF anular as sentenças de Sergio Moro. E, com dois anos de antecedência, vamos vivendo a ansiedade no quintal de casa, uns arrancando os cabelos, outros tripudiando sobre os adversários. Todos certos de que vivemos uma batalha pela sobrevivência.

De minha parte, e já tendo revelado ao leitor que sou péssimo apostador, depositaria todas as minhas poucas fichas na manutenção do status quo, com tudo o que ele tem de melhor e pior. Continuaremos vivendo na abundância das supercolheitas, nem que seja sob os berros temerosos de Greta Thunberg. Haverá dias quentes e dias frios, chuvosos ou de sol. Meu time ganhará, perderá e empatará – não necessariamente nesta ordem. A Bolsa cairá e subirá. Eleições se sucederão em todo o mundo, sempre com acusações de fraude – exceto em Cuba, na Venezuela, China e Coreia do Norte.

E haverá argumentos ótimos, magníficos e extraordinários corroborando nossa pré-opinião. E argumentos péssimos, deploráveis e revoltantes contrariando o que já pensávamos antes. Como ousam?!

Mas é a tal coisa. Como já dizia o compositor Humberto Gessinger (que anda sumido, por sinal), já vi o fim do mundo várias vezes - e, na manhã seguinte, estava tudo bem.

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