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Por enquanto é isso, Chico. Espero que em breve você possa retornar logo a sua rotina de ficar reclamando da vida e comentando a vida pelas redes sociais.
Por enquanto é isso, Chico. Espero que em breve você possa retornar logo a sua rotina de ficar reclamando da vida e comentando a vida pelas redes sociais.| Foto: Bigstock

Para nós que não tivemos a duvidosa sorte de passar os últimos anos dormindo o sono dos comatosos, a vida não tem sido fácil. Não só por causa da sua ausência, cara. Embora ela tenha sido gravemente sentida todos os finais de semana em que você esteve de fora do nosso poquerzinho dominical. “Ah, se o Chico estivesse aqui...”, repetíamos, ao menos nos primeiros meses desse seu sono interminável. Depois nos acostumamos. Desculpe.

Mas, agora que você está desperto, é questão de dias até lhe darem um celular e você voltar à realidade. Na condição de amigo que o visitou ao menos uma vez por ano nesses sete anos, e também na condição de melhor escritor do grupo (modéstia às favas), sinto-me na obrigação de lhe contar tudo o que aconteceu desde o dia em que você tropeçou num petit-pavé solto em plena rua XV e caiu de cabeça naquele chafariz cafona em frente à C&A. E os punks ali por perto, hein? Nem para tirarem você da água!

Onde estávamos? Ah, sim. Aécio Neves e Dilma Rousseff disputaram a eleição presidencial daquele ano. Aécio perdeu e os médicos disseram que, na hora em que anunciaram o resultado, seus batimentos cardíacos dispararam e você quase bateu com as dez. Dilma ganhou, mas sofreu impeachment dois anos mais tarde. Lembra que você sempre dizia que o Brasil seria destruído se a Dilma ganhasse? Foi. E não só economicamente. Chegaremos lá ainda.

Depois de perder a eleição, Aécio Neves caiu em semidesgraça, que é a única desgraça que se abate realmente sobre os políticos. Foi acusado disso e daquilo, a PF bateu na porta da casa dele às 6h da matina, ele virou manchete por supostos crimes de que ninguém se lembra mais e, resultado: Aécio Neves está firme e forte no Congresso ainda. Ou seja.

Dilma Rousseff, como eu disse, sofreu impeachment. Mas alguns ainda chamam de golpe. Mas não foi presa nem nada e hoje em dia vive escrevendo umas bobagens para as quais ninguém dá bola na Internet. Ela foi substituída pelo vice, o Michel Temer. Que quase teve que renunciar depois que dois açougueiros muito loucos gravaram conversas com ele. Esse dia foi massa.

Deixa eu te contar uma coisa importante. Pouco depois (ou foi antes?) de você tropeçar na pedrinha solta (ah, o Greca voltou a ser prefeito de Curitiba. Nem te conto!), surgiu um negócio complicado chamado Operação Lava Jato. É, o nome é ridículo. Mas a história é boa. Era uma vez um doleiro e um juiz e... Fizeram até filme sobre a coisa toda. Assiste lá mais tarde e pega os detalhes da história que estou com a mão doendo demais para entrar nesses detalhes.

Por enquanto, basta você saber que o juiz dessa operação chegou a prender o Lula. (Neste momento, temo que você dê um salto na cama, solte todos os catéteres e caia em coma de novo. Arrisco?). Ele (o juiz, não o Lula) virou herói nacional. Aí, Bolsonaro virou presidente (calma que uma hora eu chego lá!) e esse juiz achou melhor virar ministro. Aí ele brigou com o Bozo (para você se acostumar com as novas gírias) e caiu em desgraça. Se nos próximos dias você o vir sendo preso, não se assuste muito.

Sobre Lula – que eu sei que você está curioso. O velho Barba foi preso e condenado por corrupção. Ficou preso um tempo, soltaram. Viajou para Cuba, casou de novo. Agora há poucos dias anularam as condenações dele e estão dizendo que o Lula quer ser presidente, acredita? Nem eu. Só sei que ele está por aí, falando qualquer groselha que vira instantaneamente manchete. Sim, os jornalistas continuam caindo de amores por ele.

Falei ali en passant para você não se assustar, mas é isso mesmo: Jair Bolsonaro é o atual presidente do Brasil. Vou falar assim rapidinho porque... é complicado. Se você fizer críticas ao presidente, será visto como um militante petista. Se não fizer, será visto como bolsonarista. E se disser que prefere um Chicabon a falar de política, te chamam de isentão. Ou seja, não há saída. Mas o caso é que Bolsonaro é o presidente do Brasil. Lide com isso da melhor forma possível.

Ah, lembra do Dias Toffoli, aquele que você chamava jocosamente de “estagiário”? Não pode mais. Aliás, convém não fazer qualquer piada com os 11 juízes. Melhor esquecer que o STF existe. É para seu próprio bem. Acredite.

Que mais você quer saber? Ah, o Coxa caiu mais uma vez para a Segunda Divisão. O Guns tocou em Curitiba (fui ao show e headbanguei a careca em sua homenagem). Teve Olimpíada no Brasil – e estou achando que foi a última. Não tem mais filme com o Kevin Spacey. Donald Trump virou presidente dos Estados Unidos, mas já acabou. Acabaram também os ataques terroristas, substituídos pela Covid-19. Aliás, que hora para sair do coma, hein, meu amigo?

No mais, estamos todos bem aqui em casa. Ninguém morreu, ninguém teve filho, ninguém se casou. Digna de nota é apenas a briga entre a prima Vânia e o tio Carlos. Por causa da política. Ela é Bozo e ele é anti. Dizem que a tia Lúcia finalmente arranjou um namorado, mas só acredito vendo. O primo Zé ganhou dinheiro abrindo barbearia, iogurteria, palleteria e muffineria. Agora dirige Uber, que é uma espécie de táxi-que-não-é-táxi.

Por enquanto é isso, Chico. Espero que em breve os médicos constatem que você não teve sequela nenhuma e que nasceu pancada assim mesmo. E que você possa, enfim, retornar logo à sua rotina de ficar reclamando da vida e comentando as notícias pelas redes sociais. Sentimos saudade de suas hashtags que um dia hão de mudar o mundo.

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