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Joice Hasselmann
Ex-dama de ferro do conservadorismo tupiniquim (quanto clichê!), Joice Hasselmann tenta se manter em evidência vendendo dieta.| Foto: Reprodução

Joice Hasselmann acaba de lançar o Protocolo JH. O nome do negócio, asssociado ao da ex-deputada, talvez sugira ao leitor imagens de dossiês e conspirações intrincadíssimas. Mas não é nada disso. Nas palavras da própria Joice, o revolucionário Protocolo JH “vai te emagrecer rápido, de forma saudável e deliciosa, sem sofrimento, e mais: vai te manter magra para sempre!”. Ou seja, é apenas mais um programa de dietas que promete o Céu da Magreza a mulheres insatisfeitas com a própria silhueta.

E aqui você talvez tenha vontade de rir ou tripudiar daquela que já foi um dos maiores nomes do conservadorismo brasileiro. Praticamente uma Ann Coulter tupiniquim. No seu auge, as palavras de Joice Hasselmann eram lidas com entusiasmo. Suas falas sempre enfáticas eram temidas pelos poderosos. Não à toa, ela foi eleita com mais de um milhão votos em 2018. A direita a amava.

Mas contenha aí o riso e seu espírito zombeteiro! Porque a história de Joice Hasselmann nada tem de engraçada. Trata-se de uma tragédia muito própria do nosso tempo: a da pessoa que, embriagada de poder e tomada pela sensação de pairar sobre nós, pobres mortais, se considera invencível e é incapaz de aprender com as lições de humildade que a vida insiste em nos ensinar.

Isso ficou claro logo nos primeiros meses do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando Joice Hasselmann, certa de sua superioridade intelectual, moral e eleitoral, brigou com o chefe do Executivo. Não satisfeita, e crente de que sua personagem era maior do que a imagem que os eleitores faziam dela, Joice virou oposição a Bolsonaro. No meio disso tudo teve ainda um “atentado” e, já no fim do mandato, fotos de biquini que eram um prenúncio da queda.

A loba

Reduzida à condição de vendedora de Coscarque 2.0, a história de Joice Hasselmann me lembra a de Jordan Belfort – retratada por Martin Scorsese no subvalorizado “O Lobo de Wall Street”. No filme, o gananciosíssimo Belford acumula dinheiro enganando pequenos investidores e vive uma vida de esbórnia, gozando de todos os prazeres mundanos possíveis. Mas, como na lenda de Ícaro, ele acaba chegando perto demais do Sol. Belfort é preso e perde tudo.

Ou melhor, quase tudo. O personagem, interpretado por Leonardo di Caprio, só não perde a ambição e o espantoso poder de convencimento. Graças a isso, ele se transforma num palestrante de vendas destinado a perpetuar certo ciclo de enganação muito próprio de um capitalismo desalmado. Assim como Hasselmann, Belford parece acreditar que o homem é o lobo do homem e que o mundo é dos espertos.

E posso até concordar que o mundo, esse mundo que o do poder, dos prazeres e da extravagância material e carnal, seja dos espertos. Mas aí vem a perguntinha: a que preço? Correndo o risco de glamurizar a desgraça que é o sucesso amoral do capitalismo sem alma, em “O Lobo de Wall Street” Scorsese deixa claro que o preço a se pagar por essa ambição de conquistar o mundo é a alma. Sem direito a devolução.

Aqui não sei se o paralelo com Joice Hasselmann faz sentido. Espero que não. Espero ainda que o fracasso político e o ridículo comercial do Protocolo JH sejam, para a ex-rainha do conservadorismo brasileiro, o início de um caminho sempre difícil, cheio de obstáculos e armadilhas, rumo a uma casinha humilde, desprovida de holofotes e do famigerado orgulho, a que damos o nome de redenção.

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