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Polzonoff

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Transformando em crônica heroica o noticiário de cada dia.

"Bobagem, Paulo!"

Por um instante, tive esperança ao ver Lula, Janja & Cia. no velório do papa

Imagine se um, ao menos um!, desses aí se converte. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A foto da comitiva presidencial no velório do papa Francisco causou furor nas redes sociais. Porque tudo causa furor nesse manancial de indignação que são as redes sociais. Falou-se do absurdo (claro) e do desperdício de dinheiro público no que é apenas uma ação de marketing político. Sem falar que a maioria ali presente é formada por ateus confessos ou enrustidos. Gente do mundo, para o mundo e pelo mundo.

A mim, porém, me pareceu que de todo o dinheiro gasto nos últimos dois anos por Lula, Janja & Cia. LTDA com viagens, este foi o potencialmente mais bem empregado. Porque diante da morte, e ainda mais em se tratando da morte de um papa como Francisco, há sempre uma chancezinha bem inha de uma conversão ou no mínimo uma epifaniazinha que os leve a pensar “o que estou fazendo da minha vida?”.

É isto

Foi o que aconteceu com o poeta Murilo Mendes diante do caixão do pintor Ismael Nery, de acordo com o relato brilhante de Pedro Nava: “Finalmente, Murilo clamou mais alto – DEUS! – e com a mão direita castigou o próprio peito e mais duramente o coração. Não, pensava o Egon, não é caso para Gardenal. O José Martinho está errado. O Murilo não está nervoso. O negócio é mais complexo… O que ele está é sendo arrebatado num êxtase e o que eu estou vendo é o que viram os acompanhantes na estrada de Damasco quando Saulo rolou do cavalo e foi fulminado pela luz suprema. É isto”.

Ah, como queria ver o Lula ou a Janja ou a Dilma ou o Lewandowski ou o Celso Amorim ou o Renan Calheiros ou o Davi Alcolumbre ou o Hugo Motta ou o Luís Roberto Barroso, (principalmente o Luís Roberto Barroso, ousaria dizer) caído de joelhos diante do caixão simples, habitado pelo corpo sem vida de um homem que sabia que todas as riquezas e todo o poder deste mundo não são nada comparados à Eternidade. Nada.

Bobagem!

“Bobagem!” – dirá você, banhado no cinismo típico do nosso tempo. Ao que responderei que realmente a conversão não precisa ser assim tão espetaculosa. Talvez fosse desejável justamente o contrário: uma conversão silenciosa e profunda, que se revelasse menos nas palavras e mais nas ações. Ah, se ao menos um daqueles leprosos fosse tocado pelo exemplo do papa Francisco e tivesse noção das pústulas que lhes decoram o caráter...! Improvável, reconheço e sofro, mas não impossível.

Assim, aliás, conclui Pedro Nava o relato da conversão do amigo em “Círio Perfeito”: “[Do velório] saiu sozinho e foi direto procurar os monges nas catacumbas do Mosteiro São Bento. Quando, três dias depois, ressurgiu para os homens, tinha deixado de ser o antigo iconoclasta, o homem desvairado, o poeta do poema piada e o sectário de Marx e Lênin”.

Zombaria

Taí uma paráfrase que eu faria com gosto, apenas substituindo Murilo Mendes por qualquer nome da gigantesca comitiva que foi fazer turismo em Roma, e trocando a referência ao poema-piada pela zombaria cotidiana (feita na pior das prosas!) que nos esfregam na cara esses políticos todos.

Para isso basta um. Unzinho só. Ou umazinha. Que tal? Qual desses da foto, tão compungidos e reflexivos, será capaz de se inspirar no exemplo do papa Francisco a fim de renascer para a virtude? Se fosse para apostar, eu jogaria todas as minhas fichas no—

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