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Lula petista
Lula fazendo o L ou o L fazendo o Lula? Jamais saberemos…| Foto: Reprodução/ Twitter

Ontem Lula fez mais uma de suas (dele) lives com Marcos Uchôa. Não sei se você viu. Não sei se alguém viu. Não sei nem se os petistas viram. De qualquer modo, assisti a um recorte, como dizem os jovens. Nesse trecho, um Lula quase franciscano falava de passarinhos e celebrava sua própria vitória e a vitória de seu partido oh-tão-puro sobre o ódio, o fascismo – ou qualquer outro moinho de vento do tipo.

Um pouco por masoquismo e outro tanto porque eu tinha que fazer hora antes do barbeiro, fiquei assistindo àquilo repetidamente. Reparando em cada expressão do rosto do efelentífimo. “Ó o passarinho cantando, ó. Que coisa bonita!”, diz Lula, os olhinhos semicerrados de prazer, para em seguida emendar que nas lives do ex-presidente Jair Bolsonaro não tinha nada disso. “Aqui é beleza, aqui é natureza, aqui é tranquilidade e passividade”, arremata, praticamente compondo uma música do Caetano. Ou do Nando Reis.

Aí, quanto mais assistia ao vídeo, mais me lembrava do Meu Amigo Petista (MAP). Cujo nome não posso citar porque ele tem vergonha. “Vai que o povo do trabalho descobre”, me diz ele, justificando a opção pelo anonimato. Como se ninguém tivesse notado a sua felicidade pós-eleitoral, né, cara? Não hesitei. Mandei o vídeo do Lula caetanizando diante do Marcos Que Vergonha Uchôa (que eu confundo com o Tino Pausa Dramática Marcos), ao lado de uma mensagem simples: parabéns. E um monte de emojis de festa.

Parabéns!

Porque, reconheçamos, meu amigo petista merece os parabéns. O meu e o seu. Afinal, ele não largou o Lula e o PT nunca. Haja fé em político! No Mensalão, por exemplo, ele tinha na ponta da língua a desculpa perfeita para a corrupção petista. Governabilidade. Depois, na chamada Eleição da Ferradura, defendeu Dilma do “machismo” de Aécio Neves. E aí veio a Lava Jato e meu amigo petista não largou o osso. Pelo contrário, ao fim do parágrafo seguinte encontraremos meu amigo petista indo levar os ossos ao acampamento em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba - onde Lula esteve preso. Por corrupção e lavagem de dinheiro.

Haja espírito militante! Ele, meu amigo petista, passou anos ouvindo, primeiro, os panelaços contra Dilma. Depois, o impeachment. Em seguida, ele assistiu às cenas de Lula visitando o triplex do Guarujá. E nem assim meu amigo petista se abalou. “Globo golpista”, dizia ele. Aí veio condução coercitiva. A prisão do Lula. Provas e mais provas envolvendo tantos petistas que perdi a conta. E o amigo lá. A fé inabalada. E eu não disse que ao fim deste parágrafo ele estaria levando os ossos ao acampamento de adoração ao Encarcerado? Pois olha ele ali, gritando "Bom dia, presidente Lula" perto da Maria do Rosário.

Depois veio o pior. Pior para ele, digo. Bolsonaro foi eleito presidente. Lula preso. Sergio Moro ministro da Justiça. O amigo chorou, afogou as mágoas no Bek's e nunca perdeu uma oportunidade de repetir o vocabulário que lhe ensinaram. Primeiro fascista. Depois genocida. E não adiantava as declarações ou os fatos. As palavras eram sempre distorcidas e os fatos eram invenção da imprensa comprada pelo imperialismo ianque. Qualquer coisa assim.

Fé cega, faca amolada

Tanta fé em Lula, no Partido dos Trabalhadores e no Sistema, que o amigo jura que é composto por pessoas que defendem a democracia e os direitos dos mais pobres (sério?!), começou a valer a pena quando o ex-condenado foi solto. De uma hora para a outra, a justiça que o amigo petista considerava corrompida ou acovardada passou a ser... justa. Teve início, aí, uma maratona cheia de obstáculos morais que meu amigo petista correu sem nem esboçar cansaço. Mais uma vez, meus parabéns.

Tudo para, hoje, meu amigo petista ouvir o Lula celebrar o cantar dos pássaros. Para ele, meu amigo petista (e provavelmente o seu amigo petista), o Brasil infernal de ontem se transformou nesta terra de esperança de hoje. Ele acredita realmente em tudo o que lhe dizem os camarada. Para ele, a palavra dos deputados do PT (e alguns do PSOL e PCdoB) é ouro. Sem qualquer questionamento, meu amigo petista, que se acha um gênio, deposita seu futuro e o futuro dos seus filhos e netos nas decisões tomadas por sindicalistas, intelectuais e uns corruptos confessos. E ele ainda ri de mim, que acredito em Deus e me sei falho.

Assim segue o MAP pela vida, parasitando um aqui, outro acolá. Se expressando por sarcasmos espertinhos. Concordando com Renan Calheiros num dia e com Reinaldo Azevedo (quem diria?!) no outro. Compostando hoje e pagando imposto com gosto amanhã. Estupidificado. Pena que, temeroso da Covid-19, ele ainda insista em esconder o sorriso parvo por trás de uma máscara de pano, meu amigo petista. Que, a esta hora, deve estar se perguntando: será que ele está falando de mim? Estou.

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