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Carta #9

Quanto tempo você aguenta ouvir Alexandre de Moraes falando?

ALEXANDRE DE MORAES FELIZ
Alexandre de Moraes: espelho, espelho meu, existe alguém mais democrático do que eu? (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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Caro leitor,

Esta semana, você sabe, assistimos ao primeiro ato de uma farsa: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus trinta golpistas. [Põe aspas aí senão o leitor não vai entender, Paulo]. Ok. “Golpistas”. Por isso (e ainda que alguns de nós estivéssemos ocupadíssimos com a produção do “Última Análise”, que estreia segunda, 31, às 19h, no canal da Gazeta do Povo no Youtube), foi inevitável ouvir a voz de Alexandre de Moraes bancando juiz e assistente de acusação. Que fase!

Como disse, estava ocupado com a produção do “Última Análise” (que estreia segunda, 31, às 19h, no canal da Gazeta do Povo no Youtube), mas aqui e ali assisti a cortes do ministro mais querido do Brasil [avisa que é ironia senão o leitor não vai entender, Paulo], só para ver meu rosto se contorcer numa careta que era de repugnância. Ou melhor, asco. Minto: aversão. Pior, ojeriza. Ou teria sido de horror e abominação? Acho que foi tudo isso aí – e mais um pouco.

Diálogo de surdos

Apesar do fel que me corroía o esôfago, estava tentando e conseguindo navegar com certa tranquilidade pela semana de muito trabalho, pré-produzindo o “Última Análise”, que estreia segunda, 31, às 19h horas, no canal da Gazeta do Povo no YouTube. Até que o canalha do Chico, um dos comentaristas do programa, fez a pergunta que serve de título para este texto: quanto tempo você aguenta ouvir Alexandre de Moraes?

Era uma pergunta que pretendia expor o diálogo de surdos em que se transformou o debate público neste país. Afinal, se não suportamos ouvir Alexandre de Moraes nem por um minuto inteiro, como podemos esperar que ele, Alexandre de Moraes, suporte nos ouvir por todas as horas e horas que gastamos dizendo a Alexandre de Moraes que ele está errado? [Nota para mim mesmo: incluir a pergunta num episódio do “Última Análise”, que estreia segunda, 31, às 19h horas, no canal da Gazeta do Povo no YouTube].

Toleranciômetro

Levando a pergunta para além do universo particular e corrompido do STF, vale a pena se perguntar quanto tempo você aguenta ouvir quem pensa diferente de você. Diz aí a quantas anda a sua tolerância, a sua capacidade de ouvir ideias contrárias, absurdas e até revoltantes, expostas por pessoas que lhe dão ânsia de vômito e que o fazem questionar a dignidade intrínseca a todo ser humano, inclusive a Alexandre de Moraes.

No meu caso, o toleranciômetro dispara depois de no máximo cinco minutos – isso para os assuntos político-jurídicos, inclusive os pronunciamentos do irmão-em-calva. Em se tratando de assuntos morais (com i), a tolerância é menor – talvez porque eu esteja mais convicto de certas coisas. Já para os assuntos culturais minha tolerância é maior. Acho que porque falar de filmes e livros e música não afeta tanto a minha visão do ser humano como alguém que carrega em si a centelha divina. E quando quem discorda de mim é a minha mulher... Ah, aí a minha tolerância é infinita porque ela está sempre certa e eu sempre errado. Né, ‘môrrrrr?

Alexandredemoraes, adj.

É... Não dá para negar: vivemos tempos intolerantes. Porque somos intolerantes. Os diálogos que travamos com nossos antagonistas são diálogos de surdos. Gostamos mais, muito mais, tão mais que quase chega a ser apenas de quem concorda com a gente. Esses são os que consideramos gênios. Somos incapazes de compreender a mera existência de um outro que tenha ideias diametralmente opostas às nossas. “Diametralmente opostas” é cafona. Melhor dizer que são ideias antagônicas. Se bem que é um clichê. Ah, vai assim mesmo.

Só não pense que este texto é uma bronca. Nem do Chico nem minha. É só uma reflexão (autorreflexão, se você preferir) domingueira necessária para que vivamos mais felizes (ou menos infelizes) e sobretudo em paz, sabendo que quem pensa diferente de nós, por mais alexandredemoraes que ele seja, não é uma ameaça à nossa existência e muito menos à realidade que nos cerca e à qual estamos confortavelmente acostumados.

Assim e assado

Porque só ouvindo o outro, ouvindo de verdade, com atenção e uma vontade genuína de compreender o que o leva a agir assim e assado, principalmente assado, e falar todas aquelas bobagens, você pode perceber o quanto esse ser humano hoje que você tem por abjeto é digno da sua compaixão, também chamada de pena. E o quanto eu e você somos dignos e também necessitados da caridade alheia.

Ah, já disse que segunda, 31, às 19h, estreia o “Última Análise”? É no canal da Gazeta do Povo no Youtube. Não perca. Vai ser mara, como dizem os jovens. Um abraço do
Paulo.

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